"Não é adorável, completamente sozinha?
Coração feito de vidro, minha mente de pedra
Rasgue-me em pedaços, da pele ao osso
Olá, bem-vindo ao lar"
Lovely (feat. Khalid) - Billie Eilish.*ALERTA DE GATILHO.
Rosalie Bianchi
Estive a manhã inteira na livraria principal do shopping da cidade, geralmente costumo me concentrar em livros quando não consigo ter o controle da minha mente. Porém, me arrependo no caminho de volta para casa.
Encontrei alguns livros sobre a arquitetura no Mural do grafite, em Michigan, e me lembrei da minha infância. Daí vem a saudade da minha cidade natal, meus parentes e tudo que deixei para trás.
Mas não consigo voltar lá.
Não quando o motivo de eu ter me mudado ainda está próximo à minha família.
Eu tentei visita-los no início das férias, mas fui em um dia e voltei no outro. Eu me senti tão sufocada, perdida, suja... Eu não consegui dormir e tive duas crises durante o dia. Foi terrível.
E no momento em que ele apareceu, eu peguei as minhas coisas e fui para o aeroporto.
Os dias seguintes foram piores, eu chorava pela saudade, dor, pensamentos, lembranças... Me lembrava de cada segundo daquele fatídico dia. E então minhas crises voltaram com tudo.
As mãos sujas, os gemidos nojentos, as marcações no meu corpo, o pedido de socorro entalado na minha garganta, assim como... Droga, assim como agora.
Freio o carro bruscamente no momento em que alcanço o acostamento, encostando minha cabeça no banco e tentando respirar fundo. Meu peito sobe e desce rapidamente enquanto tento enviar algum ar para dentro dos meus pulmões. Minhas mãos estão tremendo incessantemente e a náusea me atinge.
Tento desviar os meus pensamentos para qualquer outro lugar, mas nada tira aquele sorriso nojento da minha cabeça, nada tira a angústia de dentro do meu peito e nada impede as lágrimas de caírem descontroladas pelo meu rosto.
Assim como naquele dia.
Eu odeio pedir ajuda, precisar de alguém ou depender de alguém, mas em momentos onde vejo que não vou conseguir controlar minha crise e meu destino é a inconsciência, eu consigo pensar na única pessoa que eu confio.
— Eu estou chegando. – Elizabeth responde assim que atende a ligação de vídeo e vê meu estado.
Envio a localização e cinco minutos depois um esportivo prateado para ao meu lado, revelando uma ruiva desesperada e seu namorado com o semblante preocupado.
Elizabeth corre até mim e segura o meu rosto, me fazendo observá-la atentamente.
— Foca em mim, ok? — As íris carameladas transbordam preocupação, mas acima de tudo, carinho. — Agora vamos fazer o nosso combinado de respiração no 3. — Ela me conforta com um sorriso. — 1, 2, 3... inspira, e expira.
E assim ficamos até o meu coração se acalmar e os tremores cessarem.
A ruiva estaciona o meu carro na frente do prédio no mesmo momento em que Bradley estaciona o esportivo ao nosso lado.
— Amor, você é uma péssima motorista.
— Cala a boca, Bradley. — Lizzie lança um olhar furioso para ele.
— Você vai ficar bem, Rosie? — O gigante pergunta, me lançando o mesmo olhar que Jace, meu irmão mais velho, me lançava quando eu era pequena.
— Vou, Bradley. Muito obrigada por hoje. — Meus lábios se curvam em um sorriso fechado.
— Nah, que isso. Precisando, é só me ligar. — Ele bagunça meu cabelo e agarra a Lizzie pela cintura, a levantando no ar enquanto se despede.
5 minutos após ter que esperar os dois darem beijos melados, eu me encontro no sofá da sala com a minha melhor amiga.
— Desculpa por ter atrapalhado vocês. — Me pronuncio, recebendo a atenção da ruiva que me lança um olhar incrédulo.
— Fala sério, Rosalie! Você não atrapalha. — Ela cruza os braços. — Eu sou sua irmã. Você sabe que sempre vou cuidar de você, não importa quando ou o quê.
E então sinto gratidão, porque através do cuidado da Lizzie e do olhar de preocupação do Bradley, eu sei que existem pessoas que sabem que crises não são besteira. Crises não são para chamar atenção.
E sei, por mais difícil que seja, que está tudo bem pedir ajuda. Sei que é necessário pedir ajuda, pois não precisamos suportar todo o peso do mundo sozinhos.
Nós não estamos sozinhos.
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Impremeditado
Romansa1. substantivo masculino em que não houve ou não há premeditação; que não se planejou com antecedência; impensado, imprevisível, incerto. 2. substantivo masculino caso fortuito; acidente, acaso. Acidente. Algo imprevisível. Acaso. Talvez sejam essas...