Estava deitada na cama — naquele estado em que o sono não é profundo o suficiente, mas também não estava completamente acordada — quando senti que estava sendo observada.
É uma coisa estranha essa sensação, sempre consegui saber quando alguém estava me observando, apesar de chamar atenção nunca ter sido um problema pra mim. Na verdade sempre gostei. O problema é que me observar enquanto durmo acaba com o meu sono e consequentemente com meu humor, fazendo de mim uma megera.
Claro que Ian estaria ali na porta escorado, ele fez isso tantas vezes que perdi as contas. Sempre achei que, por saber o quanto odiava aquilo, fazia pra me implicar. Peguei um dos quatro travesseiros da minha cama e joguei para a porta, não iria acertar porque ficava longe, mas com sorte ele sairia.
— Você é realmente tão encantadora quanto dizem. Não, espera, não é isso que dizem. Erro meu. — disse a voz vinda da minha porta. Não era o Ian.
Duas vezes em uma manhã! Só podia ser brincadeira! Dentro da minha cabeça eu via a mim mesma pegando qualquer coisa inflamável que tivesse por perto e jogando na bela pele bronzeada do cara e acendendo um fósforo logo depois.
O prazer da cena me acalmou o suficiente. Ele não ia me estressar, ainda tinha que jantar com papai mais tarde.
— Algum problema? — digo ainda sem olhar para ele, não ia fazer isso porque era bem capaz de usar meu abridor de cartas afiado e pontiagudo para fins aos quais ele não foi criado.
— Muito pelo contrário, como disse antes, é uma visão privilegiada a que tenho daqui. Poderia dizer que esta é uma manhã gloriosa. — disse ele, dava para escutar o sorriso em sua voz.
Desta vez realmente acreditei que ele estivesse falando da vista do meu apartamento: a praia de Ipanema ficava linda de manhã, mas quando levantei a cabeça vi que ele olhava diretamente para mim: deitada de bruços, com aquele pijama minúsculo e sem nada me cobrindo. Virei, puxe o lençol para me cobrir.
— O que você quer? — Estava começando a acreditar que esse cara adorava me irritar e que não se importava nem um pouco com a falta de respeito que às vezes apresentava. Bom, ele iria aprender a ser mais educado.
— Seu amigo, Ian, teve que sair. Ele recebeu uma ligação da... irmã, se não me engano. Parece que o pai dele está com algum problema. — e todos os meus alarmes apitaram quando ele mencionou o pai do Ian.
— Foi tudo que conseguiu entender? — estava começando a ficar desesperada. Tudo o que me importava era alcançar a mesa do meu quarto onde fica meu celular e telefonar para o meu amigo.
— Sim, queria saber... — ele continuou o falatório, mas eu sequer escutava, porque toda a minha concentração estava direcionada ao objeto branco na minha mão. Então simplesmente respondi com "aham, claro" a o que quer que ele estivesse falando. Podia muito bem estar concordando em vender a minha alma ao diabo naquele momento e não conseguia me importar menos.
Ian não estava atendendo, provavelmente porque estava dirigindo e ele tinha regras muito rígidas sobre fazer quaisquer outras coisas quando se estava atrás do volante.
Comecei a tremer. Todas as vezes que a Luana ligava para o Ian era porque a situação não estava boa, e tinha medo de pensar o quão ruim poderia ser dessa vez.
Senti braços fortes me segurando enquanto o chão ficava cada vez mais próximo. Não faço ideia por quanto tempo fiquei desacordada, mas assim que abri os olhos, ele foi a primeira coisa que vi.

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Inevitável
RomancePLÁGIO É CRIME. Violar direito autoral da pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. art. 3º da Lei nº. 9.610/98 Está é uma obra de ficção.Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer sem...