Capítulo 2

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Fazia tempo que não me mudava e esqueci o quanto isso dava trabalho, mas valeu cada esforço para ver a felicidade estampada no rosto dos meus amigos, e até que foi bem divertido no fim das contas.

Júlio era formado em arquitetura e também tinha um ótimo gosto para decoração, então toda ornamentação ficou por conta dele, que pulava de um lado para o outro instruindo onde colocar o quê. Ian era perito em organização e isso fez dele a pessoa que empacotou e, por consequência, quem iria desempacotar tudo. Quanto a mim, fiquei com a tarefa de mostrar o que precisava ser pego no meu apartamento aos caras da mudança e descer com algumas caixinhas e coisas não muito pesadas.

Era quase meia-noite quando entrei saltitando pela porta com uma enorme moldura nas mãos e anunciei:

— Tenho um presentinho para vocês. Aposto que nunca, jamais, em tempo algum, ganharam algo tão perfeito!

— Se você mostrar poderei dizer se é verdade. — disse Ian.

— Não precisava se dar ao trabalho. — replicou Júlio ao mesmo tempo.

— Claro que não precisava, mas eu quis. E não é nada demais, só uma coisinha. Do fundo do meu coração espero que esse seja o início de uma vida longa e feliz compartilhada por vocês. Agora peguem e abram.

Eles pegaram a moldura, que estava embrulhada em papel decorado, e começaram a abrir juntos. Vi surpresa e felicidade em seus belos rostos quando viram do que se tratava: uma foto tirada no início da festa de réveillon, os dois de branco, com taças de champanhe na mão e se olhando como se nada ao redor tivesse importância. Foi o dia em que decidiram ir morar juntos e esperei ansiosamente, durante três meses, para poder entregar o presente.

— Não sabia da existência dessa foto, Bia. — Disse Ian me abraçando e com a voz embargada de emoção.

— É o presente mais lindo que já ganhei na vida, depois do Nai, é claro. Muito obrigado minha linda, é inestimável e vou colocá-lo em nosso quarto sobre cabeceira da cama para que ao entrarmos lá, seja sempre a primeira coisa que vejamos. — dava para perceber o quão emocionado ele tinha ficado.

— Foi você quem tirou a foto, não foi, Bianca? — é claro que meu Nai reconheceria uma foto tirada por mim, havia algumas dezenas delas espalhadas pelo meu apartamento. Lugares, pessoas e momentos eternizados pela lente da minha câmera.

— Acho que consegui o que queria aqui, então agora vou subir para o alto da minha torre e esperar que um belo príncipe apareça para me resgatar.

— Só seja gentil com o pobre príncipe que vier a seu resgate, minha flor, ou ele vai sair correndo. — disse Ian piscando pra mim enquanto ia saindo pela porta.

Alcancei as portas do elevador e esperei um pouco até que chegasse me levasse à cobertura onde agora eu moraria sozinha pelas próximas semanas. Quando era mais nova costumava evitar elevadores por causa da minha claustrofobia, mas sou preguiçosa demais pra subir vinte e dois andares de escada, então acabei superando o medo.

As portas finalmente se abriram me acolhendo em seu interior, não tinha subido mais que quatro andares quando ele parou novamente. Um homem estava parado do outro lado das portas. Ele era lindo. Cabelos tão negros quanto a noite e olhos de um tom de verde escuro que nunca havia visto antes. A linha da mandíbula era bem marcada e era possível notar uma fina camada de barba, como se ele não tivesse se barbeado pela manhã. O cara também tinha uma boca que dava vontade de morder. O estranho era bem alto e com porte atlético. Estava de terno preto com riscas de giz bem discretas e, pelo corte, não era dos mais baratos, a camisa chumbo tinha o botão de cima aberto e a gravata vinho estava um pouco frouxa, como se ela houvesse sido puxada.

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