Capítulo 178 - Erro colossal

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Fran Kilinaria estava caída ao chão, com a minha espada em seu abdômen, em questão de segundos perdendo a consciência.

- Não.- eu suspiro

- Ela ia atacar o papai!- Ela aponta

O choro de Natalie se tornava mais intenso a cada segundo que se passava.

- Sam, tira eles daqui.- Steve pede sem tirar os olhos de mim

- Mas papai...-

- Tá tudo bem.- Sam pega Natalie no colo, indo com os outros dois até a porta - Você fez o que precisava ser feito...- e as palavras dele foram se esvaindo conforme se afastavam

- Não.- eu me abaixo, me sentindo o monstro que fui treinado pra ser. Aquela criatura primitiva que não se importava em matar, me fazendo sentir suja e indigna até me aproximar do corpo da mesma.

- Astrid...- de reflexo, vejo Steve se abaixando ao meu lado

- Não pode ser.- as lágrimas escorrem pelo meu rosto, em um sussurro incrédulo

- Você não tinha outra escolha.-

- Eu nem mesmo olhei...- Me rendo à postura derrotada.
Porque posso estar viva, mas eu tirei a vida de uma vítima da organização, de Niels... eu tirei a vida de uma vítima.

Todos os agentes sem excessão são vítimas, porque não fazem ideia do que estão fazendo e só percebem quando já foi feito. Como acabou de acontecer...

- Foi um reflexo, temeu que ela nos machucasse...-

- O plano nunca foi matar um por um...- Me viro à ele - O plano foi cura-los, libertar eles do procedimento...- Steve traz suas mãos ao meu rosto novamente - Abrir seus olhos, nunca foi matar.- meu choro se intensifica, acompanhando a minha dor

- Eu sei.-

- Nunca foi matar!- apoio meu rosto em sua mão - Por favor acredita em mim.-

- Eu acredito.- aproxima meu rosto seu, beijando minha testa.
Sem mais forças pra me afastar, ou pra reagir de qualquer maneira, eu me rendo aos seus braços, me sentindo acolhida. Seria melhor se isso levasse a minha dor embora, mas não leva... eu não mereço esse alívio que sinto no seu abraço, talvez seja por isso que ainda dói tanto. - As vezes o que planejamos sai do nosso controle.- começa a fazer carinho no meu cabelo - Não era pra ter sido assim, eu sei.-

- Não era.- eu sussurro

- Foi a decisão que jamais tomaria, mais precisou tomar pra se proteger.-

- Pra te proteger.- corrijo - Ela ia te puxar de novo, as crianças viram...- e o aperto vai ficando pior - Mais um trauma pra conta delas e tudo isso por minha culpa!- e me sinto afundanda cada vez mais

- Não.- responde ríspidamente - Isso não é culpa sua, é culpa dele.- toma tom raivoso - Todos os traumas que você tem, que elas tem, que as pessoas que estamos tentando salvar tem, é tudo culpa dele!-

- É a mãe do Jordan!- me afasto dele - Eu matei a mãe do Jordan!- mesmo não tendo mais lágrimas sobrando, elas seguem caindo e fazendo meus olhos arderem - Eu sou a responsável pelo que vai ser a sua maior dor!- grito como se isso fosse aliviar o aperto, mais ele só se intensifica e minhas tentativas nunca dão certo

- Eu sei.- pega minha espada - Mas não podemos agora.- olha preocupado pra porta

- Eu mereço que ele me machuque.- olho pro corredor, consequentemente

- Não fala isso.- segura minhas mãos - Se desistir agora, quem os outros agentes terão pra salva-los?-

- Eu não salvo!- aponto à Fran - Eu destruo!-

- Presta atenção.- traz meu rosto ao dele - Quero que olhe pra mim.-

- Pra que? Tentar esquecer do maior erro que eu cometi?-

- Quero que preste atenção em mim.- Mantém tom calmo - Essa organização, as pessoas que tiveram suas vidas, suas mentes roubadas só tem você pra ajuda-las.- suspira - As vezes as coisas saem do nosso controle, e pode ser que agora não se lembre, mas se tivesse outro jeito, por mais difícil que fosse, você não tomaria essa decisão, não mataria ela.-

- Jordan vai me odiar pra sempre.-

- Você não pode parar agora... Talvez ele te odeie, mas não há uma pessoa que te conheça que diga que sua primeira opção é matar, fez isso porque não teve escolha e quando a situação se torna essa é difícil de manter o controle. Você se sente culpada, porque tem um coração.-

- Não tenta me fazer sentir melhor...- mais lágrimas caem - Eu não mereço isso.-

- Merece, porque infelizmente teve que tomar uma decisão difícil, mas no momento nossas crianças estão seguras.-

- Você tá seguro.- eu sussurro, acariciando sua mão. Me dando conta no momento, pela primeira vez, do que eu mantive, tomando essa escolha infeliz.

- As pessoas que ama continuam aqui.- posiciona suas mãos em meu rosto - Você sabe que as vezes precisamos tomar decisões difíceis, e isso não deixa de nos destruir, mas nunca é a nossa escolha.
Mas se desistir agora, aqueles agentes manipulados que pro Niels são só fantoches, não terão ninguém...- Será que ele está certo? - Em toda a história da organização eles não tiverem ninguém que lutasse por eles, mas você luta.- Se a intenção dele era me motivar... tá dando certo

- Mas eu não posso esquecer o que eu fiz, como se nada tivesse acontecido.-

- Você não vai, eu conheço você. E por conhecer você, eu sei que seja qual for a consequência disso, você vai enfrentar. Porque as vezes são cometidos erros pra conseguir chegar ao objetivo final... e o seu propósito, não é pelo seu bem, é pelo dos outros.-

- Eu não posso, eu não aguentaria matar mais um...-

- Então não mate.-

- Mas também não posso deixar que vocês vivam uma vida infernal por minha culpa.-

- Nós não vivemos.- me consola - É claro que as vezes as coisas ficam difíceis, mas não vivemos uma vida infernal.- ri brevemente - A vida com você, mesmo o seu passado sendo esse e refletindo até hoje... É o oposto de infernal. É mágica.-

- Fran?- A voz de Jason Kilinaria nos desperta, fazendo nós dois levantarmos na hora

Ele não diz nada, apenas se aproxima à passos lentos, se abaixando da mesma forma. Parecia não acreditar... o que me dá mais dor ainda.
Mesmo tendo feito coisas erradas e terem ameaçado minha família, eles também eram uma... Assim como esse homem jamais vai acreditar em uma palavra minha, Jordan nunca vai me perdoar por ter lhe tirado sua mãe.

Rurik:A organização vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora