Capítulo 192 - Suporte

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(Bucky Barnes)

Após andar um pouco pela área, observando os moradores voltarem pra suas casas depois da limpa de Stark eu o achei no começo da avenida.
Estava no acostamento, olhando os carros passarem enquanto chorava. A situação não estava mais tão grave quanto antes, ele deve se sentir mais aliviado mas certamente ainda carrega culpa.

Está tão preso em seus pensamentos que nem me viu chegar, mesmo com o fato de nós dois sermos os únicos dois loucos o suficiente pra ficar aqui enquanto os carros passam em velocidade de corrida.

Me ponho ao seu lado, e foco minha atenção à avenida, como ele faz.
Não posso o obrigar a falar, apesar dele fazer isso comigo, mas eu posso ficar ao seu lado pra que ele não se sinta sozinho... como um dia eu me senti.

- Bucky, eu não quero conversar.- Nota minha presença e descarrega sua tristeza em mim, em tom ríspido.

Entendendo essa sua vontade, como havia entendido antes, e continuo à fazer o que nós dois estávamos fazendo.
E por mais que seja agonizante fazer isso enquanto as coisas lá rolam, ao menos uma sombra ele vai ter pra passar por essa situação.

- Bucky?- chama minha atenção. E de maneira involuntária eu me viro à ele. - Você me escutou?-

- Escutei.- volto então meu olhar ao movimento, com tranquilidade

- E continua aqui?- ergue as sobrancelhas.

- Não precisa conversar comigo.- dou de ombros - Eu não vou te forçar, mas não vou sair do seu lado.- De reflexo pude ver o seu choro cessar, em uma expressão confusa com a minha atitude - Amigos...- pensando melhor, eu torno à olha-lo - Irmãos.- corrijo - São o suporte um do outro. Pode não querer conversar mais aonde você for, pra fugir de mim...- lhe arranco um riso breve - Eu vou atrás.- Após terminar de falar, torno meu olhar à minha atenção anterior.

Mas pude perceber de reflexo, que ele ainda tá processando tudo que eu falei. Pensando se isso seria uma opção, o que isso quer dizer e bla bla bla.
Não julgo, nós três principalmente, fazemos isso direto e tem gente que tá de prova.
Enfim, deixa ele pensar na dele aí.

E mesmo assim, eu tive que ceder à curiosidade. Sou um soldado sobre-humano, mas a palavra "humano" continua alí.
Steve estava de cabeça baixa, enquanto de longos segundos à outros pude ver o esboço de um sorriso.
Não sabia que a gente demorava tanto pra pensar assim.

Bom, o que me resta agora é observar aquele carro vermelho passando pelo prata, que tá do lado do preto. Esse, que tá correndo um risco danado do lado daquele caminhão de carga virar, porque convenhamos... essa avenida não é a das mais seguras.

- Eu fiz isso Bucky.- de imediato, me viro à ele quando resolve falar - Eu causei uma das suas maiores dores, eu fui o responsável e você sabe que eu não tô falando só da espada.-

- Eu sei.-

- Sabe que eu poderia ter cometido qualquer outra atrocidade, mas sendo ela...- algumas lágrimas caem - Eu não sou digno de vestir esse uniforme, de carregar esse título...- suspira, e quando fecha os olhos mais lágrimas resolvem cair - Não sou digno de ser amado por ela.-

- Eu também sei... Se fosse eu que tivesse a machucado, estaria me sentindo do mesmo jeito e também teria vontade de quebrar a sua cara.- falo com naturalidade, despertando um susto de imediato nele - Só no momento em que eu vi ela naquele estado... Quando eu analisei o cenário, vi o cetro e Niels segurando...-

- O dedo.-

- O dedo.- falo como se estivesse lá - Foi aí que eu percebi que seria incapaz de fazer qualquer coisa contra ela, e foi preciso aquela coisa medonha de cetro pra te fazer levantar um dedo pra ela.-

- Mais que um dedo.- suspira, com pesar

- A questão é que jamais faria isso, justamente por ama-la.- consolo - Também porque tem bom senso.- Nós dois rimos brevemente - Não vamos fingir que não tem nada dolorido aí.- eu aponto, fazendo o mesmo levar as mãos ao abdômen involuntariamente.

- Talvez eu tenha perdido um dente...- analisa confuso, passando a língua pela gengiva

- Exatamente.- eu aponto, e então não nos seguramos e tornamos a rir.
Rir com ele depois do sentimento horroroso que nós dois sentimentos... Tem o mesmo efeito de renascer, e de maneira boa dessa vez. - De qualquer maneira...- Me ponho a sua frente - Tem que colocar a sua cabeça no lugar e pensar um pouco.- seguro a mesma com as mãos, focando os seus olhos no meu - Ela ama você e perdoa você, porque assim como eu, ela sabe que jamais faria isso por vontade própria.-

- E continua doendo.- baixa a cabeça, permitindo que mais lágrimas caíssem

- Eu sei que sim.- mantenho tom compreensivo - E agora você entende perfeitamente o que nós dois passamos.- quando digo isso, ele se endireita atento, quase que em um reflexo - Os estímulos de raiva, o livro...- engulo em seco - E com você, o cetro... e mesmo assim não matou milhares de pessoas inocentes.-

- Foi pior.- seu queixo treme, revelando que tenta segurar as lágrimas no momento que desvia seu olhar.

- Eu sei.- e minha voz também torna à ficar trêmula - Mas entenda, o único culpado do que houve com ela é o Niels... você mesmo ouviu enquanto estava hipnotizado.- por agora, mesmo que contra a sua vontade o choro não cessa e ele mergulha mais uma vez em seus pensamentos sobre as minhas palavras - Guarda essa ideia Steve.- aponto - Por ter testemunhado isso e agora por experiência própria, sabe como é ser manipulado pra fazer algo que jamais faria em sã consciência... Não era você.- quando digo isso, o mesmo desvia o olhar em uma expressão enojada - Só...- suspiro - Não era você.-

Mesmo sem conseguir olhar pra mim, em meio à seu choro e sua dor, com expressão agressiva... ele acente.
Estava me ouvindo, e absorvendo tudo aquilo... A única diferença que essas memórias dolorosas ainda estão muito frescas... e por eu ter dito o que eu disse, pode ser que tenha trazido à tona novamente o seu maior pesadelo.

Rurik:A organização vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora