Não Sei Se Posso

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"Ei, Dazai!"

Alguma voz me chama. Se é de perto, se é de longe... ainda me é confuso. É confuso ter a penumbra da noite recaída sobre seu mero viver. Onde dali, você nem ao menos sabe se irá morrer. De poucos e tantos, ainda busco a sua mão. Me dizendo que está tudo bem... que não é nada em vão. Se bem que... já não é mais hora. O raiar noturno se faz no presente de agora.

"Por favor... não me deixe..."

É de particularidade maciça, quebranta-me os músculos; me faz pensar que logo mais será um novo dia. Enquanto me afundo, respiro o vácuo, entre aquela tênue linha dos mundos e seus espaços. É de precisão tardia, que hoje, não me trás mais harmonia. É sobre aquele pequeno ápice voluptuoso onde somente caio e me debato - sem ao menos chegar a qualquer fundo, a qualquer estadia. É sobre escalar e escorregar; sentir as feridas e não se ralar. É sobre chorar e não se expressar; é sobre correr sem a lugar nenhum, chegar.

Estou partindo de minha casa, de meu reinado, de minha estrada. Do mistério invicto que daqui brota, a pequena parcela de sentimento que jás, há muitos, foi embora. Caminhar até o espelho terreno e somente se jogar. Ver sua figura trêmula, cansada de procrastinar. E se tenho medo? Bobagem... ela também já partiu. Como um cosmo a se fazer um pedido e rezar para ver se, de algum efeito, surtiu.

Aquele grito... rouco, insensato. Melodioso, porém, empático. Derramando lágrimas no mar; lutando, suplicando, para meu estado mudar. Mais uma gota, dali, há de me presentear. Deuses que não existem, feitos de carne e osso; deveriam se prostrar do que a humildade pode ofertar.

E se me perguntam se estou bem? Abrirei um sorriso terno, provando, até para mim mesmo, que não sou digno de tal afeto. E se sua mão, da minha, escorregar... me perdoe. Eu... só não tenho mais forças... eu... só quero descansar.

"Não! Por favor, não!"

Então seria isso? De um verme, tragando repudio, para um morinbundo? esse seria o meu trágico suicídio? Quero dizer... água significa liberdade. A água é a divindade suprema. E não é isso que quero ser? Não é deste lar chamado "Corpo" que não quero mais pertencer? Se houver alguma esperança, por menor que seja... eu te imploro... não me dê a mesma.

"Eu preciso de você! Volta, Volta! Eia, bata as asas, venha!"

Sem reação, porém persistente. Eu te vejo mergulhar... eu te vejo arriscar tudo por nada. Te vejo me abraçar quando, perto de mim, consegue ficar. E se nesta noite, ao raiar de outrora, maior presente pudera me dar, a sensação de completude, e de não mais machucado estar... lhe imploro:

"Não faça isso... eu não sei se consigo."

Tocar sua pele nunca foi tão difícil... você, junto a mim, fazia o meu belo suicidío. E era angustiante, era intermitente... abatia-me os nervos... me dava calafrios persistentes. Dizer que "Está tudo bem!", sem estar. Mandar a pessoa sorrir! Sem ao menos se alegrar. E se me perguntam: "Quem será?" Apenas digo que sou eu mesmo tentando, desesperadamente, me salvar.

Salvar o jovem que eu era. O permitir sentir a vida de uma maneira mais sincera. É sobre sorrir... é sobre amar. É sobre gritar que: "Ao seu lado eu vou estar!"; É sobre sentir o vácuo... e não saber descrever. E sobre querer chorar... e não saber...

"Me perdoe...", Foi o que eu consegui dizer.

"Não me deixe só... eu já me sinto só..." Meu espelho diz, aos soluços. E por fim, lhe asseguro... que vamos juntos, tentar ser feliz.

Sobre o tinteiro amarelo que de minha mão caía, o quadro da obra incompleta de minha vida. Somos espelho que encara a foz nascente do rio. Somos a água; às vezes salgada, às vezes fria. E se me perguntam, de maneira direta, se morri... eu apenas digo:

"Sim e não. O desfecho... será você quem irá decidir..."

𝐌𝐞 𝐏𝐞𝐫𝐝𝐨𝐚, 𝐂𝐡𝐮𝐮𝐲𝐚?Onde histórias criam vida. Descubra agora