“Minha querida… quando foi a última vez que você sorriu?” Uma raposa estava parada na minha frente. Ela, em sua forma astuta, tinha uma risada inocente. Sua cauda balançava de um lado para o outro enquanto se aproximava da beirada de minha cama. Eu não sabia onde eu estava. Não dessa vez. Tudo que eu poderia fazer era me sentar junto com ela e abraçar meus joelhos. Que pergunta estranha esse ser tinha me feito!
“Eu sempre estou sorrindo. Eu estou sorrindo pra você agora, não estou?” Levanto minha cabeça para olhar a tão temida raposa astuta. Em si, eu odiava aquele sorriso. Me fazia querer chorar. Eu odiava a forma como essa raposa me tocava com tanto carinho. Porque em meio aos meus sorrisos, nunca era apenas isso. Eu gostaria de ser um espelho sem reflexo onde não dê pra ver a janela da alma.
Com a mesma mão tocando meu cabelo e repousando em cima de minha cabeça, ela suspirou uma última vez. “Um sorriso não se baseia no formato em que a sua boca se alinha. Não se baseia em dentes perfeitos ou uma risada. Por que será que faz tanto tempo que eu não vejo seu sorriso?”
Eu também não sabia a resposta para sua pergunta. Há muito eu tinha deixado mais uma máscara cair e começado a ser mais frágil para as pessoas mais íntimas ao meu redor. Eu sabia… eu não precisava agir como forte toda hora. Eu também podia chorar. Descarregar emoções pesadas sejam de alegria ou tristeza dentro de mim. Mas por quê? Shiro… por que minha raposa continua me olhando como se eu fosse uma criança que não soubesse a verdade? Eu já sabia qual era o problema. Mas não sabia como dizer a resposta.
Levemente, para não me machucar com suas garras, a raposa passa seus dedos levemente nos meus cílios. “Se um olhar não sorri, é porque seu interior não sorri junto. Se um corpo está em pé… você consegue dizer se ele vive ou se ele sobrevive? Hm… de certa forma. As pessoas costumam se parecer com zumbis.”
“Eu sei sobre tudo isso, Aka.” Retiro suas mãos de perto de mim, abraçando meu joelho com mais força. Eu não queria estar irritada, mas nunca foi sobre querer sentir o que se quer na hora. “Mas o que posso fazer? Se eu tirar a última máscara… vai sobrar alguém que chora.”
“Eu prefiro ver alguém que chora e recolher essas lágrimas do que ver alguém fingindo ser astuto. Você sabe… raposas sabem. Sempre sabem. Eu posso?” Ele, essa raposa, estica sua mão mais uma vez para mim. Pedindo permissão de tocar no meu rosto ou não. Mesmo irritada, eu aceno com a cabeça. Eu não queria isso! Mas era preciso?
“Eu tenho escolha? Eu tenho medo de ver o que tem debaixo disso. Eu não sei o que vou encontrar…”
“Se permitir ser frágil com quem confia é o primeiro passo. Você confia em mim? Eu sei que você confia. O medo é válido. Mas se você não tirar isso do seu rosto… não vou te achar bonita. O que tem dentro é o que me interessa. Eu não me importo com esse sorriso. Às vezes sorrir demais é sinal de desespero. Eu quero ver a verdade que você também sabe qual é. Se permita ficar consciente pra saber.”
Embora relutante, suas garras seguram as pontas de meu rosto. E, como uma máscara de autocuidado para a pele, essa coisa estranha vai saindo devagar do meu rosto conforme é puxada. Dói. Eu ainda tento fugir disso porque não me sinto pronta. Mas quando a vida foi definida para se encaixar quando nos sentimos prontos ou não? Mãos fortes me seguram pra eu não fugir. E mesmo meu rosto pegando fogo por sabe se lá qual o motivo, logo isso é resolvido.
Não só queima como também arde. Era o meu rosto ainda, mas eu me sentia feia. Um rosto choroso com lágrimas que caiam de meus olhos como se fosse lava pura. Exaustão que me fazia pender a cabeça para o travesseiro de volta e me enrolar no cobertor. Eu queria me esconder pra ninguém me ver assim… mas garras cuidadosas seguraram meu queixo para encarar a temida raposa que não me deixava em paz. O sorriso em seu rosto se tornou um alívio, e seus olhos não mentiam, porque sorriam. Diferente dos meus…
“Aí está. É isso que tem dentro. Dói sair ou tirar algo de nós que estamos acostumados. Mas se doer… é porque de alguma forma valeu a pena pelo aprendizado ou os sentimentos sentidos nesse estágio. Agora, era isso que eu queria ver. Sabia que a lava de um vulcão pode originar a vida? Da destruição também floresce uma raiz forte. Cria novas ilhas ou biomas e faunas existentes apenas naquela poça de magma endurecida. Assim são os seres humanos. Por que sentir vergonha de uma dor que vai originar a beleza depois?” Com uma expressão séria, Shiro se levanta apenas para encontrar o chão e ficar de frente para meus olhos. Para a minha “feiúra” e observar enquanto eu estava frágil.
“Eu tenho escolha?” Ainda queimava. Ainda doía. “Eu preciso mesmo fazer isso? Chorar…?’
Com um aceno, ele volta a sorrir. “Chorar.” Afirma. “E não, não é uma escolha. E também é uma escolha. Mas nada disso importa quando no final é apenas preciso.”
Sem dizer mais nada, eu apenas viro minha cabeça para enterrá-lo no travesseiro. Eu tentei morder meus lábios para não fazer o que sentia vontade. Apertei o cobertor até os dedos ficarem brancos para lutar contra. Porém, no final, tudo é sempre preciso. E eu chorei. Eu era uma criança de novo. Criança no corpo de um adulto. E chorei. Por todas as frustrações. Por todas as preocupações. Chorei. Por toda culpa e por toda raiva. Chorei… porque minha criança — que era eu — também chorava.
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𝐌𝐞 𝐏𝐞𝐫𝐝𝐨𝐚, 𝐂𝐡𝐮𝐮𝐲𝐚?
Fanfiction"Me perdoaria se eu dissesse Que nunca foi minha intenção Te abandonar?" Nesta carta está escrito tudo o que Osamu Dazai sempre quis dizer para Nakahara Chuuya. Mas nunca teve coragem de dizer...