Nova Vítima

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A luz azul e vermelha brilhava a todo o vapor e os sons desgastantes da sirene soavam fortemente quando seu corpo foi jogado no chão e as mãos, puxadas para trás com uma força inacreditável. Ly viu em sua frente o olhar vazio e sem vida de Angel, a pessoa que ela acabara de matar. Nem a primeira, nem a segunda e nem a terceira, mas talvez a última.

Seus pulsos sentiram uma pressão grande enquanto as algemas se fechavam em torno deles raspando de leve sua pele e machucando a área. Seus ouvidos captaram o som quando elas foram fechadas deixando Ly de mãos atadas, sem força alguma para se levantar sozinha enquanto encarava o corpo morto e morno.

— Você tem o direito de permanecer calada, tudo o que disser pode, e será usado contra você no tribunal.

Uma mulher de cabelos negros presos em um coque forte e brilhoso a levantou e pegou em sua nuca encaminhando-a para a viatura enquanto outros policiais fechavam a cena do crime. A fita amarela estava começando a ser colocada quando ela foi colocada na viatura e tudo o que tinha era a imagem daquela fita sendo desembolada pelos policiais e sendo enrolada entre bases pontiagudas que haviam colocado em volta.

O sol, subindo cada vez mais trazendo a manhã para o mundo, contemplava aquela cena trágica, deixando à vista o sangue, o suor e a morte serem perceptíveis ao céu diurno. A viatura se retirou do local logo após a policial dizer algum código no rádio do carro e receber uma fala chiada como resposta.

Ao perceber que a viatura parara, Ly despertou do transe que estava, no qual via Angel morrendo em seus braços esperando a última facada enquanto dizia a sua última frase "As... borboletas... que você deixava em meu estômago acabaram me sufocando... você mesma as matou.".

As mortes que Ly causara até aquele momento a marcaram de certa forma, mas havia algo diferente com Angel. A sua última frase antes de sua vida se extinguir dolorosamente de seu corpo no colo de Ly ficava se repetindo na cabeça de Ly enquanto via o brilho de seus olhos desaparecer, juntamente com sua vida. 

A porta se abriu e a policial ficou encarando os olhos inexpressivos e profundos de Ly.

— Saia.

Ly saiu da viatura e ela novamente pegou fortemente em sua nuca a encaminhando para a delegacia. Seu corpo estava manchado de sangue e suas roupas estavam encharcadas com o que percorria nas veias de Angel. Conforme ia andando sendo guiada pela policial, os outros policiais e funcionários da delegacia a encaravam com raiva, medo e confusão ao mesmo tempo. Seu olhar inexpressivo e ausente era um dos fatores motivacionais para isso.

Elas entraram em uma sala com uma parede de espelho em frente delas e a policial colocou Ly sentada em uma cadeira. Soltou as algemas e as prendeu novamente em uma barra embutida em cima da mesa e logo depois de retirou. Ly passou algum tempo sozinha encarando sua própria imagem no espelho. 

Conseguiu ver o quão ensanguentada estava. O sangue de Angel esta lotando sua camiseta, o cheiro de ferro que emanava dali estava começando a enjoar e a revirar o estômago de Ly.

A porta se abriu e a policial apareceu novamente com uma pasta nas mãos. Caminhou até a cadeira do outro lado da mesa e abriu a pasta.

— Sou a Detetive Gomez e vou cuidar do seu caso. O interrogatório começara agora e eu sugiro que fale tudo o que aconteceu. Ly, como conheceu Angel?

— Eu a conheci no bar.

— Desde o início. Desde a morte de Kauane.

Os olhos de Ly se arregalaram por um momento rápido ao perceber que haviam descoberto uma de suas vítimas.

— É, nós ligamos você à todas as outras mortes do país. Beca, Diana, Olivia. Nick, Laura, Renata, Izabela, Kauane e as antecessoras dessas pobres garotas. Agora ande, desde o início.

— Eu conheci Angel depois de fugir de Goiás, depois de matar Kauane. Eu precisava ir pra um lugar afastado, mas nem tanto pra não erguer suspeitas, então escolhi gramado. Pela beleza, pelo clima e por uma futura vítima talvez. E foi quando eu vi Angel nos jornais, diziam que ela havia sido espancada pelo pai e ele foi preso, mas que possivelmente deixaria uma sequela, e essa era a de dizer que ele fez isso por amor. Eu vi uma oportunidade nela, a de matar de novo, fácil, fácil.

— Como ficou sabendo da alta de Angel do hospital?

— Eu ia lá todo dia em busca de informações dela, consegui uma enfermeira que me dizia o que eu queria saber sobre ela em troca de dinheiro, então eu sabia tudo. Eu queria me manter informada sobre tudo, não perderia uma vítima tão frágil que eu sabia que conseguiria manipula-la. Todos os dias eu ia em busca de informações que me ajudassem, até que ela me disse que Angel havia recebido alta e já estava em casa. Foi ali que eu pensei que o plano estaria ainda mais perto de acontecer. Eu demorei alguns dias pra saber a sua rotina quando ela começou a trabalhar, ela ia e voltava, quase nunca saía, mas um dia a noite ela saiu de casa arrumada, eu a segui e a vi entrando no bar. Eu voltei pra casa, me arrumei e fui para o bar sem que ela percebesse minha presença ali e pedi um drink. Fiquei olhando ela, e quando menos esperava, ela olhou pra mim e sorriu. Ali eu vi uma porta de entrada pra mim. Foi quando eu fui até o banco ao seu lado, contei alguns segundos e toquei no ombro dela a cumprimentando. 

— Então desde o início você queria Angel morta?

— Claro. Eu queria sentir novamente o sangue escorrendo em minhas mãos e sentir a vida dela saindo do corpo e deixando o corpo mole. Eu amava essa sensação, e Angel parecia totalmente indefesa e pronta pra ser usada. Ela praticamente foi feita pra mim matá-la quando eu quisesse.

— E você fez a mesma coisa com as outras. Os mesmos jogos.

— Não, dessa vez foi diferente. Angel não tinha nenhum amigo e nem nada parecido. Foi mais fácil não ter que fingir para outras pessoas ser outra mulher. Ela era tão burra que eu me aproveitei dela durante semanas, meses antes de finalmente matá-la. Eu a queria morta, queria o seu sangue, e aqui estou eu não estou? Angel morta, seu sangue em mim e eu tive a sensação que eu tanto amava.

— Mas parece que as coisas não deram muito certo. Por que você não fugiu quando teve tempo assim como fez com as outras fugas.

— Eu não sei. As borboletas me impediram.

Teddy BearOnde histórias criam vida. Descubra agora