Manchas de sangue

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Aquele bilhete ficou rodando entre minha bolsa e minhas mãos diversas vezes sem parar. A letra de Ly, o que ela escreveu, o que ela fez, me hipnotizava. Eu ficava me lembrando do toque dela na minha pele, os nossos lábios juntos e ela roçando sua língua contra a minha. Eu desejava senti-la em mim de novo, as suas mãos caminhando para o meio de minhas pernas, o seu toque delicado indo em direção a minha calcinha e a retirando suavemente.

Eu só conseguia pensar nela, no toque dela, nos lábios dela, somente nela.

Naquela noite, dormi feito anjo. Eu estava satisfeita, feliz e relaxada. Tudo o que eu precisava depois de aguentar aquela semana carregada. Acordei tarde no dia seguinte, era minha folga, então aproveitaria ao máximo. O sol passava pela fresta da cortina e me atingia, me esquentando.

Peguei meu celular sem levantar da cama e vi uma nova notificação, o que era estranho já que quase não recebia nada. Era do Instagram.

Vampily começou a seguir você

Entrei no perfil e vi que era Ly. Ela tinha me achado no Instagram. Segui ela de volta e na mesma  hora 3 novas notificações chegaram. Ela havia curtido 3 fotos minhas seguidas. Eu curti as dela também e ela curtiu uma foto antiga minha, achei meio estranho, mas retribuí. Ela respondeu um story meu.

— Lembra de mim?

— Como esquecer? — perguntei deixando uma risadinha sair.

— Ainda sinto seu gosto.

Meu rosto esquentou como se existissem chamas ao redor dele.

— Ainda sinto seus lábios.

Ela demorou para responder, então levantei, bloqueei o celular e o coloquei na penteadeira enquanto arrumava o quarto.

Quando acabei, fui ao banheiro me lavar e em seguida tomei café da manhã. Peguei o celular para fazer uma anotação e vi várias mensagens de Ly.

Vamos nos encontrar no bar hoje de novo?

Angel? Está aí?

Onde você está que não me responde?

Sua piranha me responda agora!!!

Você não sabe com quem está falando Angel!!!

Eu fiquei encarando as mensagens durante um tempo. Ela me chamou de piranha?

— Ly? Você está bem? Por que está falando assim?

— Me perdoe Angel, aconteceu uma coisa aqui e eu me exaltei um pouco. Desculpe.

— Tá legal. Sim, podemos nos encontrar hoje.

— Ótimo, te espero lá às 18:00.

— Tá bem.

Fiz a anotação que precisava e voltei para a cozinha. Lavei a louça do café da manhã e pedi comida. Pedi uma das minhas comidas preferidas, sushi. Enquanto comia, entrei no Instagram e fui olhar os stories das pessoas, passei pelo de Ly e lá estava uma foto de um sushi.

Parecia o mesmo que eu tinha pedido. "Uma das minhas comidas favs", tínhamos isso em comum!

Respondi:

— Eu também amo sushi, e o seu parece com o meu haha.

— Mais uma coisa que temos em comum.

— Mais uma?

— Uma coisa*. Escrevi errado.

Deixei o celular de lado e fui terminar a série que havia começado, Elite. Rebeka, Carla, Lucrécia e Cayetana me chamavam atenção de um jeito incrível. O encontro marcado estava se aproximando e eu não queria pensar muito sobre, a ansiedade não combinava comigo.

Uma hora antes do encontro, coloquei um lembrete. Ele apareceu e eu fui direto pro quarto me arrumar. Já havia tomado banho, então só precisava me arrumar. Coloquei um vestido preto com um decote médio e que terminava em plumas que roçavam nas minhas coxas. Escolhi um salto preto fosco, fiz uma maquiagem mais puxada para o negro e experimentei um penteado que nunca havia feito antes. Do topo da cabeça até um pouco mais da metade dela, ele era molhado e depois caía seco. Coloquei a minha gargantilha favorita e uma pulseira no meu tornozelo. 

Faltava 20 minutos para o encontro, esperei mais 10 minutos na sala e chamei um motorista pra mim. Eu sentei no banco de trás e mesmo mexendo no celular senti olhares estranhos vindo dele. Paguei pelo celular e saí o mais rápido possível quando chegamos na frente do bar.

De fora consegui ver Ly sentada no balcão, no mesmo lugar tomando um drink. Entrei e ela olhou para a porta. Os seus olhos aumentaram o brilho que aquelas luzes refletiam. Me sentei e ela ficou me encarando durante alguns segundos.

— Está tudo bem? Tem alguma coisa de errada com a minha roupa? Onde? — perguntei procurando alguma coisa.

— Não... não tem nada de errado com a sua roupa. Você está... incrível.

— Tenho que concordar com ela. — disse o barman se virando para atender outra pessoa.

— Obrigada, você também está linda.

Ela se encolheu um pouco na cadeira por vergonha ou alguma outra coisa. Não era o tipo dela ficar com vergonha. As tatuagens, o piercing aba nasal, a paixão pelo preto e a energia poderosa que emanava dela não deixava claro que ela poderia ser tímida.

Ela estava com um cropped preto e uma saia colegial de cintura alta com um tênis de salto. A maquiagem estava parecida com a minha se não fosse pelo delineado extravagante e os lábios negros. Essa com certeza era uma das roupas que eu mais amava nela.

Nós começamos a conversar e de repente tudo se apagou. Eu não lembro do que aconteceu no resto da noite, exceto quando eu acordei em minha casa com Ly fazendo alguma coisa comigo em minha cama.

Era o mesmo toque que eu havia sentido no banheiro na noite passada, mas não era a mesma leveza, ela estava mais firme e forte quando prendia minhas mãos na cama e amarrava minhas pernas. Ainda meio tonta, minha visão estava turva e meu corpo mole. Eu consegui ver que estava nua. A luz do luar que entrava pela janela refletia em minha pele nua e mostrava cada detalhe dele.

A roupa que eu usava estava no chão e eu me perguntava oque estava acontecendo.

Quando eu estava prestes a falar alguma coisa depois de tanta luta, Ly subiu em cima de mim com um olhar predador e faminto, e colocou o travesseiro que estava ao lado em meu rosto. A minha respiração começou a ficar difícil e eu apaguei. Como uma luz com um simples toque no interruptor.

O meu celular não despertou a tempo de eu ir ao trabalho. Acordei algumas horas depois sentindo um pouco de frio.

Levantei ainda meio tonta e fui até o banheiro. Quando sentei no vaso, senti um ardor em mim. Ainda estava nua e nas minhas pernas havia alguma coisa marcada entre elas. Estava seco e era vermelho. Sangue.

Voltei até o quarto e lá estava minha cama. Sem cordas, sem amarras. Minha roupa estava da mesma forma que havia visto de madrugada.

O lençol branco da minha cama estava manchado de vermelho. De sangue. Do meu sangue.

O quarto estava infestado com o odor ferroso de meu sangue misturado com um pouco de suor e perfume feminino. O que aconteceu comigo? Me perguntei antes de perder a consciência e cair no chão gélido do meu quarto.

Teddy BearOnde histórias criam vida. Descubra agora