Descobertas

27 5 3
                                    

Entrei no box e comecei meu banho. Estava suada da noite passada, e meu dia não seria tão fácil e leve. Nos finais de semana eu sempre organizava a casa toda pra que ao decorrer da semana ela ficasse limpa. Ainda teria que trocas os lençóis do colchão e arrumar a casa toda, com ou sem a ajuda de Ly.

Terminei meu banho, me enxuguei e fui em direção ao quarto com a toalha amarrada no meu corpo. Abri o guarda roupa e peguei minha roupa. Quando me virei, Ly estava deitada na cama cheirando os lençóis. Olhei pra ela com estranheza, mas não ousei perguntar o que ela fazia. Ela respondeu sem eu fazer a minha pergunta.

— Estou sentindo seu cheiro.

Soltei uma risada sem graça acompanhada de um olhar estranho. Ela continuou cama e eu coloquei a toalha de volta no banheiro. Caminhei de volta ao quarto e ela estava na mesma posição.

— Tudo bem, já sentiu o que deveria agora deixa eu tirar esses lençóis pra colocá-los pra lavar. — disse tirando as pontas deles do colchão.

— Não Angel. — respondeu Ly como uma criança mimada.

— Anda, anda. Saia. — puxei os lençóis.

Ela levantou, me pegou pela cintura e me jogou na cama ficando por cima de mim. Estava relutando pra sair enquanto ela me segurava. Ela começou a fazer cócegas em mim, pedia pra que parasse enquanto ria. Nós estávamos rindo, até que ela olhou fundo nos meus olhos e me beijou lentamente, e depois recuou ficando alguns centímetros longe de minha boca.

Eu encarei seus olhos profundos que enxergavam minha alma, acariciei seu rosto esfregando suavemente meu dedo em seu rosto enquanto olhava cada parte do rosto que agora era oficialmente meu.

— Eu te amo sabia? — perguntei enquanto admirava a beleza sombria que Ly tinha.

— Você é minha. — disse ela tornando seu olhar felino pra mim.

Me levantei com relutância e terminei de retirar os lençóis da cama. 

Ela ficou me olhando enquanto eu seguia para a lavanderia. Depois que os coloquei na máquina de lavar, me virei e me assustei com y na porta.

— Meu deus Ly. Que susto.

Ela estava parada nas sombras que o corredor deixava. 

— Eu estava pensando. — deu um passo lento em minha direção. — Agora você é minha, faz parte de minhas coisas, então eu posso fazer o que quiser com você.

— Que? — perguntei estranhando a situação. — Não. Não somos propriedades uma da outra porque estamos namorando.

Ela deu mais um passo em minha direção e eu senti alguma coisa estranha em mim. Fiquei a encarando por um tempo enquanto ela ficava parada na mesma posição me olhando com seus olhos felinos em minha direção. Num movimento repentino, Ly avançou em minha direção me virando de costas pra ela. 

Eu me debati, sabia o que ela queria, mas eu não queria naquele momento. Ela segurou meus braços com uma força maior do que eu pensei que ela tinha. Enquanto eu pedia pra ela parar, ela continuava me prendendo e beijando o meu corpo. Aquela brincadeira já estava chata. 

Bati meu cotovelo no braço de Ly e a empurrei pra longe de mim.

— Eu não quero Ly. Não agora. Para!

Sai da lavanderia brava em direção ao quarto pra terminar o que havia começado. No meio do caminho Ly se jogou contra mim sem eu ver e eu caí no chão. O piso manchou de sangue quando eu bati minha boca nele. Senti meu lábio ser cortado pelo meu dente, e tive certeza quando a dor forte veio junto com o sangue.

Ly usou um dos lençóis pra colocar em volta do meu pescoço e interromper o caminho do ar para meus pulmões enquanto eu tentava fugir dela. Minha visão já estava turva quando comecei a senti-la dentro de mim. Eu sentia cada movimento seu em mim e tentava afrouxar o lençol de meu pescoço. Senti meus olhos ficando pesados e meu rosto queimar enquanto tentava respirar.

Relutante, comecei a me distanciar de onde eu estava. Meu corpo foi ficando fraco, até que não vi nada em meu caminho, exceto escuridão.

Acordei tempos mais tarde na cama. Já era a noite e eu estava no peito de y enquanto ela dormia. Ainda sentia a dor ardente no lábio enquanto minha cabeça se movimentava pra cima e pra baixo conforme Ly respirava. Virei para o lado e passei a mão por baixo do travesseiro enquanto colocava as pantufas e senti alguma coisa encontrando minha mão.

Puxei o que estava ai embaixo e vi, um pedaço de uma foto minha picotada. Tirei o travesseiro e o coloquei no chão. Embaixo dele havia muitas fotos minhas na mesma situação, em todos os momentos em que Ly apareceu no mesmo lugar que eu, e outras de meses atrás.

Ela estava me espionando todo esse tempo. O bar, o encontro no meu trabalho, o encontro na frente da minha casa, tudo era uma farsa. Um medo gigante me atingiu e me deixou tremendo enquanto eu pegava os pedaços das fotos na minha cama e as juntava.

O meu rosto estava com um círculo vermelho em cada uma das fotos, como se eu fosse o seu alvo, o seu objetivo. O que ela estava esperando fazer comigo? Me enganar até eu descobrir? 

Milhares de perguntas giravam em torno da minha mente com milhares de respostas e explicações. O medo era resultado de cada uma delas com futuros terríveis pra mim. 

De manhã, eu arrumei as coisas de Ly e as coloquei na calçada. Fiquei esperando ela acordar enquanto tentava fazer meu lábio se acostumar novamente a tomar coisas quentes. Deixei uma faca atrás de mim preparada pra ser usada se fosse preciso. Eu estava assustada pra caralho com Ly. Eu não a reconhecia mais. Eu a amava tanto e passei a temê-la.

Ela acordou e percebeu meu olhar quente em sua direção. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa eu disse em voz alta usando o ódio interior como auxílio.

— Saia da minha casa!

Ela se aproximou até a mesa e viu as fotos juntas, coladas com fita transparente. Ela olhou pra mim novamente e um olhar inocente surgiu em seu rosto.

— Angel... Angel eu posso...

— Saia da minha casa!

Junto com as fotos eu coloquei a minha aliança.

— Saia! Você não tem mais nada pra fazer aqui. Estamos acabadas. Suma da minha casa! Suma da minha vida!

Ly voltou ao quarto, calçou o único tênis que eu deixei ali e se retirou olhando mais uma vez para as fotos, a aliança e em seguida pra mim.

— Eu...

—Saia!

Ly passou pela porta e eu fui conferir cada passo seu. Ela fechou o portão, pegou as malas dela e ficou me olhando. Joguei a xícara de vidro no portão e ela se assustou. Saiu de minha vista, mas não de minha vida.

Eu entrei em casa, fechei a porta, me encostei nela e olhei para as fotos e a aliança. Um choro depressivo me pegou e eu deixei ele tomar conta de mim enquanto caia de joelhos no chão e depois me sentava.

Bati no piso algumas vezes com as lágrimas molhando o chão e me senti sozinha de novo.

— Eu te odeio Ly. Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio! — caí no choro e me deitei em posição fetal desejando que aquilo fosse tudo um sonho. 

Ela foi uma traidora. Talvez ela não tenha me traído, mas continuava sendo uma traidora.

Teddy BearOnde histórias criam vida. Descubra agora