Quarto estágio: depressão

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Era difícil para Bakugou toda aquela situação. Havia se passado um ano desde o ocorrido, mas parecia que nada havia mudado. Sua rotina continuava a mesma, raramente a mudava. Acordava, ia para o trabalho, almoçava, trabalhava mais um pouco e passava o resto do dia com Kirishima, até o ponto de algum enfermeiro – geralmente Mina – o expulsar do quarto do ruivo. Esse era o seu ciclo de vida, desde o acidente. Desde o maldito acidente que quase tirou o ruivo de si, e que o fez ficar deitado em uma cama de hospital, vivendo graças aos aparelhos e sem previsão de acordar o coma. A vida de Katsuki Bakugou sempre girou em torno da de Eijiro Kirishima, embora fosse de modo discreto. O loiro já não era mais a mesma pessoa, não conversava mais com Izuku, o culpando por ter incentivado Kirishima a ir embora. Mesmo que por dentro, ele soubesse que se havia um culpado, só seria ele. Apenas ele. O julgamento passou como um borrão na vida do loiro. Se lembrava dos gritos e acusações de Toga, das ofensas, mas não aguentou quando a loira começou a ofender Kirishima. Teve que ser contido pelo seu advogado e por Todoroki, antes que quebrasse a cara de Toga.


– Ele o que?!

Bakugou encarava Mina com raiva, espanto e com certo desespero. A mulher de cabelos rosas estava com um sorrisinho amarelo no rosto. Ambos os amigos estavam na delegacia, prestando o depoimento que seria usado no julgamento de Toga. Depois de contar toda a verdade para Mina, do que ele estava fazendo nos últimos tempos e todos os acontecimentos que o levaram a participar daquela investigação.

– Deus, como eu não notei isso?

– Calma Bakugou...

– Como você me pede calma Mina?! Calma? O Kirishima acha que eu o odeio, tem situação pior que essa?

– Só basta você contar a verdade. Vai atrás dele caramba! Abre a boca e conta tudo para ele. Já passou do momento de vocês se resolverem, de abrirem os seus corações e serem verdadeiros um com o outro. Já se machucaram por muito tempo, principalmente o Kirishima. Ele não está errado, e você sabe disso! Agora levanta essa sua bunda e vamos buscar o seu homem.

O loiro sorriu confiante, correndo com a rosada para fora da delegacia, adentrando no carro da amiga e dirigindo para fora da cidade. Com sorte, eles ainda conseguiriam alcançar Eijiro.

Não dava para evitar. Não tinha como evitar. Talvez se ele tivesse parado para tomar um café na padaria em que sempre ia. Talvez se Kirishima tivesse esperado o celular carregar, em vez de pegar o aparelho quase descarregado, as coisas iriam ser diferentes. Havia acabado de entregar o bolo no salão de festas, onde ocorreria a festa de casamento de Bakugou e Toga. Havia dado o seu melhor naquele bolo, todos elogiaram o seu trabalho, e com razão. Deu tudo de si naquele bolo. O percurso até a cidade em que viveria estava tranquilo, com pouca movimentação de veículos na pista. Mas no momento em que atravessou o cruzamento, sentiu um forte barulho de buzina do seu lado direito. Olhou e deu de cara com um caminhão, vindo em sua direção. Não podia fazer muita coisa, se não, fechar os olhos e rezar para que nada acontecesse. Podia jurar que ouviu a voz de Bakugou, gritando o seu nome atrás de si. Lembranças dos bons momentos em que viveu ao lado do loiro, passaram em sua mente. Assim como os bons momentos com os amigos e família. Fechou os olhos com força, sentindo o impacto da batida, que o jogou para cima da cabine do caminhão e em seguida, escorregou para a lateral e deu algumas capotadas no chão. A dor era tanta, principalmente em sua perna esquerda e nas costelas. Respirar era quase que impossível. Sentia que tudo girava, sua cabeça doía muito. Não conseguia ver muita coisa, a viseira preta estava completamente quebrada. Podia ver o que, talvez, seria o céu. Nunca saberia, estava vendo tudo embaçado. Pontos negros começavam a preencher a sua visão, junto com a diminuição do som ao seu arredor. Podia jurar que ouviu a voz de Bakugou, e que sentiu ele pegando uma de suas mãos com cuidado. Mas nunca saberia se era verdade ou delírio. A escuridão não lhe deu chance de descobrir, e talvez, nunca daria.

Estágios de um amor não correspondidoOnde histórias criam vida. Descubra agora