Era difícil para Bakugou toda aquela situação. Havia se passado um ano desde o ocorrido, mas parecia que nada havia mudado. Sua rotina continuava a mesma, raramente a mudava. Acordava, ia para o trabalho, almoçava, trabalhava mais um pouco e passava o resto do dia com Kirishima, até o ponto de algum enfermeiro – geralmente Mina – o expulsar do quarto do ruivo. Esse era o seu ciclo de vida, desde o acidente. Desde o maldito acidente que quase tirou o ruivo de si, e que o fez ficar deitado em uma cama de hospital, vivendo graças aos aparelhos e sem previsão de acordar o coma. A vida de Katsuki Bakugou sempre girou em torno da de Eijiro Kirishima, embora fosse de modo discreto. O loiro já não era mais a mesma pessoa, não conversava mais com Izuku, o culpando por ter incentivado Kirishima a ir embora. Mesmo que por dentro, ele soubesse que se havia um culpado, só seria ele. Apenas ele. O julgamento passou como um borrão na vida do loiro. Se lembrava dos gritos e acusações de Toga, das ofensas, mas não aguentou quando a loira começou a ofender Kirishima. Teve que ser contido pelo seu advogado e por Todoroki, antes que quebrasse a cara de Toga.
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– Ele o que?!
Bakugou encarava Mina com raiva, espanto e com certo desespero. A mulher de cabelos rosas estava com um sorrisinho amarelo no rosto. Ambos os amigos estavam na delegacia, prestando o depoimento que seria usado no julgamento de Toga. Depois de contar toda a verdade para Mina, do que ele estava fazendo nos últimos tempos e todos os acontecimentos que o levaram a participar daquela investigação.
– Deus, como eu não notei isso?
– Calma Bakugou...
– Como você me pede calma Mina?! Calma? O Kirishima acha que eu o odeio, tem situação pior que essa?
– Só basta você contar a verdade. Vai atrás dele caramba! Abre a boca e conta tudo para ele. Já passou do momento de vocês se resolverem, de abrirem os seus corações e serem verdadeiros um com o outro. Já se machucaram por muito tempo, principalmente o Kirishima. Ele não está errado, e você sabe disso! Agora levanta essa sua bunda e vamos buscar o seu homem.
O loiro sorriu confiante, correndo com a rosada para fora da delegacia, adentrando no carro da amiga e dirigindo para fora da cidade. Com sorte, eles ainda conseguiriam alcançar Eijiro.
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Não dava para evitar. Não tinha como evitar. Talvez se ele tivesse parado para tomar um café na padaria em que sempre ia. Talvez se Kirishima tivesse esperado o celular carregar, em vez de pegar o aparelho quase descarregado, as coisas iriam ser diferentes. Havia acabado de entregar o bolo no salão de festas, onde ocorreria a festa de casamento de Bakugou e Toga. Havia dado o seu melhor naquele bolo, todos elogiaram o seu trabalho, e com razão. Deu tudo de si naquele bolo. O percurso até a cidade em que viveria estava tranquilo, com pouca movimentação de veículos na pista. Mas no momento em que atravessou o cruzamento, sentiu um forte barulho de buzina do seu lado direito. Olhou e deu de cara com um caminhão, vindo em sua direção. Não podia fazer muita coisa, se não, fechar os olhos e rezar para que nada acontecesse. Podia jurar que ouviu a voz de Bakugou, gritando o seu nome atrás de si. Lembranças dos bons momentos em que viveu ao lado do loiro, passaram em sua mente. Assim como os bons momentos com os amigos e família. Fechou os olhos com força, sentindo o impacto da batida, que o jogou para cima da cabine do caminhão e em seguida, escorregou para a lateral e deu algumas capotadas no chão. A dor era tanta, principalmente em sua perna esquerda e nas costelas. Respirar era quase que impossível. Sentia que tudo girava, sua cabeça doía muito. Não conseguia ver muita coisa, a viseira preta estava completamente quebrada. Podia ver o que, talvez, seria o céu. Nunca saberia, estava vendo tudo embaçado. Pontos negros começavam a preencher a sua visão, junto com a diminuição do som ao seu arredor. Podia jurar que ouviu a voz de Bakugou, e que sentiu ele pegando uma de suas mãos com cuidado. Mas nunca saberia se era verdade ou delírio. A escuridão não lhe deu chance de descobrir, e talvez, nunca daria.

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Estágios de um amor não correspondido
FanfictionAssim como o luto, o amor não correspondido também tem as suas fases, e Kirishima procura uma forma de passar por elas, sem que Bakugou saiba. Ou Onde Kirishima sabe que nunca vai ter o amor de Bakugou. E Bakugou percebe que se não se apressar, pod...