Capítulo 23 • Laços sanguínios

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⚠️ALERTA⚠️
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este capítulo pode conter gatilhos, como: violência e homofobia. se não se sente confortável, não leia.

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— Mas que droga é essa? — Allan escuta de fundo.

Julio se levanta instantâneamente, empurrando Allan de seus braços.

— Saiam daqui agora! Vão pra casa! — Allan então consegue abrir os olhos, com muito esforço, e vê a enorme silhueta de um homem.
— Perdão, senhor. Nós já estamos saindo! — Julio fala se levantando rapidamente e pegando o garoto no colo.
— Ele é seu irmão? — o homem pergunta irritado.
— Na verdade não, e o senhor? Quem é você? — Julio perguntou, acariciando a cabeça do amigo em seu colo, que o abraçou com sono, incomodado com o barulho ao redor e os raios de sol.
— O que você acha? Eu sou o zelador! — o homem falou apontando para o próprio uniforme. — Se ele não é seu irmão... — o homem falou pensando, logo fazendo uma expressão de nojo. — Sumam logo daqui! Antes que eu chame a polícia!

Julio então saiu andando com Allan no colo. Entrou em uma padaria e colocou Allan sentado em uma das mesinhas. O garoto não queria largá-lo. Estava agarrado e resmungava se tentava o afastar.

— Allan, vou pegar algo pra gente comer. — Julio falou o beijando no pescoço. — Anda, me solta. — falava sorrindo.
— Que horas são?
— São... — Julio olhou para o relógio na entrada, então se voltou para o garoto. — 07:25.
— Eu tenho que falar com a minha mãe... Hoje ainda. — Allan falou se esforçando pra ficar acordado, esfregando os olhos.
— Por quê? — o rapaz perguntou sem entender.
— Preciso voltar pra casa, passar um tempo com ela. Eu ainda estou com esse machucado da briga e agora... — Allan falou passando a mão pelo próprio pescoço e então sorriu sem perceber. — No pescoço também tem marcas. Preciso voltar pra ela e explicar que estou bem.
— Certo... Então... Vou pegar nosso café e então vou te levar pro apartamento pra tomar banho. — o rapaz falou com um sorriso, preocupado.

Julio então se afastou e foi buscar os salgados.

Eu estou cuidando bem do Allan? Eu deveria tentar Protegê-lo melhor? Ele está certo, está todo machucado... e eu não fiz nada a respeito. Vou cuidar melhor do meu garoto.

Julio então voltou até onde o garoto estava, com as mãos cheias.

— Você pegou mais do que um salgado... — Allan falou forçando um sorriso.
— Bom, eu pensei que te alegraria mais. — o rapaz falou notando a falta de alegria no garoto. — O que tá rolando?
— To sentindo que tem alguma coisa errada acontecendo... — Allan fala, e então o celular de Julio começa a tocar.
Os dois olham para o bolso de Julio, que era de onde vinha o barulho, sem conseguirem se mexer.

Julio sabia que coisa boa não era. O pressentimento ruim do garoto também ja estava quase o fazendo desmaiar.

— Tá esperando o que? Atende! — Allan fala ansioso.
Julio então enfia a mão no bolso e rapidamente tira o celular.

O rapaz fica olhando para a tela do celular paralisado e então Allan fala quase que em um grito:
— Quem é?

— Sua mãe. — Julio vira a o celular para que Allan também visse.
— Então atende logo! — o garoto falou eufórico.

Todo o sono que estava sentindo tinha ido embora de uma só vez. Nem tinha tomado seu café, mas ja estava com tremedeiras.

— Alô, bom dia!
Onde vocês estão?
Estamos na padaria... algum problema?
Traga meu filho agora pra casa, seu depravado! E pensar que eu hospedei você dentro da minha casa!
Eu... não estou entendendo. O que está acontecendo?
Eu não vou deixar você passar nem mais um segundo com ele! Seus nojentos...
A senhora quer... falar com ele? Me desculpe por qualquer coisa, nós já estamos a caminho.
Eu não quero ouvir nem mais uma palavra dessa bixa! Me traga ele agora se não eu chamo a polícia!
Eu não sei o que está pensando, senhora Jeon, mas se acha que vou deixar você encostar 1 dedo nele, está enganada.

Silêncio...

Droga... ela desligou.

O que foi isso? — o garoto pergunta assustado, com medo da resposta.
Julio ficou em silêncio, pensando no que diria.
Allan percebeu que era coisa séria.
— Vamos, eu quero ir pra casa. Me leva agora, chama um uber e em casa eu te pago.
— Não, ta tudo bem. Só termina de comer, você deve estar com fome. Ela só pediu pra eu te levar até em casa, estava um pouco brava mas está tudo bem, só termine de comer. — o rapaz falou sem acreditar nas próprias palavras.
— Tem certeza que não é melhor irmos agora? — o garoto perguntou com medo.
— Está bem... vou chamar um uber e você come sua coxinha no carro, eu levo as outras coisas na sacolinha e você da pra sua mãe ou pra sua irmã. — Julio falou se levantando.

Eles então pegaram as coisas e chamaram o uber.

— Bom, quer que eu entre com você? — Julio falou assim que chegaram.
— Não, tudo bem. acho que até prefiro estar sozinho na hora de levar uma bronca.
— Tudo bem, me ligue assim que conseguir. — o rapaz falou e então ficou esperando Allan fechar o portão atrás de si para que fosse embora.

Estava um silêncio ensurdecedor. Allan não sabia o que estava o esperando, mas tinha a sensação de logo descobriria.

Passou por sua irmã, na sala. Olhou para ela, que estava chorando.

— O que... — ele tentou falar, mas ela o abraçou rapidamente.
— Me desculpa, Allan... me perdoe. Eu vou tentar te ajudar com isso, eu te amo, eu te amo demais, eu deveria cuidar de você... — ela fala e então o garoto sente algo o puxando por trás, o tirando dos braços de sua irmã.

— Então você cansou de dar o cu e ser putinha de marmanjo? — Allan ouve a voz de seu pai.

Ao se virar, se depara com seu pai, furioso, o olhando com nojo e ódio.

— Não fala assim com ele! — a garota grita em prantos, em vão.
— Cala a boca! — o homem fala sem tirar os olhos do filho. — E quanto a você... — ele fala se aproximando de Allan. — Eu vou te ensinar a ser um homem!

Allan estava começando a raciocinar. tentou se virar para correr, mas tarde demais.

Sentiu algo o acertar na cabeça, e então caiu no chão, sem conseguir se equilibrar.
Levou a mão até a parte de traz de sua cabeça e estava certo, estava sangrando.

— Levanta! Você tá deixando meu chão imundo! — Allan então se vira e vê seu pai segurando um pedaço de cano de metal, o olhando com nojo. — Pra ficar oferecendo a bunda igual uma cadela no cio você com certeza aguenta, né? Agora, pra virar macho, aí não consegue nem ficar de pé.

Allan então sentiu sua visão ficar turva. Ouviu alguns gritos, mas não conseguiu entender mais nada. Sentiu fortes pancadas na barriga e nas costas, no rosto também. Mas mal conseguia abrir os olhos. Sabia que seu pai estava o chutando no chão, sabia o que estava acontecendo, só não conseguia reagir. Ouvia os gritos de sua irmã, e desta vez, também os da sua mãe.

Mandando a garota ficar quieta.

Allan sentia uma dor absurda na barriga e nas costas. Dor na cabeça. Sentia-se ficar úmido. O sangue que escorria de sua cabeça, boca e nariz já tinham criado uma enorme poça no piso da cozinha.

Sentia medo, muito medo. Medo de morrer, medo de deixar Julio sozinho, medo de machucarem sua irmã, medo de lhe machucarem. Medo de ninguém nunca saber a verdade.

Não sabia o que faria. Sabia que tinha que pensar no que faria, como sairia de casa e pra onde iria, mas primeiro tinha que tentar pensar em como ficaria vivo.

Os gritos logo começaram a ficar abafados.

— Para! Você vai matar ele! — ouviu sua irmã gritar.
— Eu não quero um viadinho perto de mim. Deixa morrer. — ouviu seu pai dizer.

Depois disso, sentiu seu corpo formigar. Apenas sentiu seus pensamentos se desligarem. Não sentia mais nada. Não sentia dor.

Continua...

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