Capitulo 6.

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Sabina (pov):
"É natal, minha época favorita do ano. A Júlia completou um ano na semana passada. Está tão grande!
Os cabelinhos loiros agora são um pouco mais cacheados e grandes. Ela está cada dia mais parecida com você, oque me deixa feliz. Tenho um pedacinho seu comigo todos os dias. "

-Mami- a pequena me chama e eu paro de escrever no notebook e olho para a mesma, que corria no colo do pai pela casa. Pois é, ela começou a me chamar assim. Fomos em uma terapeuta e ela disse que seria normal, que era para deixar. Mas sempre lembrá-la que ela tem outra mãe, Joalin no caso.

-Bailey, cuidado com as decorações. Demorou séculos- reclamo. Bailey tem se tornado um grande amigo, cem por cento dedicado como pai.

-Relaxa comandante e volta a escrever no seu blog que a gente se diverte aqui- ele conclui, dou língua para o mesmo.
O blog. Esse foi o mecanismo que eu achei para Joalin nunca ficar por fora das coisas que acontecem com a gente. Conto literalmente tudo que acontece para quando ela acordar.

"Você nem vai acreditar quando souber a cena que eu vi assim que cheguei da faculdade semana passada. Eles estavam na cozinha e Bailey havia dado doces para ela! Tenho certeza que você piraria. Eu só ri na hora. Tirei fotos também. Te mostro depois!"

Termino de escrever e suspiro. Até quando? Eu só queria ela aqui com a gente. Ela merecia estar aqui mais do que qualquer um.

-Saby, vem cá rapidinho- escuto a voz de Bailey e corro para a cozinha.

-Meu Deus! Vocês dois não têm limites- rio da cena. Júlia estava, literalmente, coberta de farinha. Na verdade, os dois estavam. -Como isso aconteceu?

-Eu estava pegando tudo para os biscoitos e a bonitinha aqui puxou o saco de farinha do armário.- ri também.

-Vem cá, ju!- pego a mesma e levo para o banho.

[...]
"Minutos, dias, semanas, meses  sem você que parecem fazer questão de passar devagar . A Júlia deu os seus primeiros passos dois meses depois do seu primeiro aniversário, quinta-feira de céu azul, bem no meio do parque. Ela me olhou assustada, como se não acreditasse do que havia acabado de acontecer, e depois, fiquei pensando que quando a gente cresce passa a ter medos tão bobos, porque imagina o quão importante é você estar de pé pela primeira vez na vida!
E como em um show que precisa de plateia, eu liguei imediatamente para o pai mais derretido de todos, que veio correndo pra ver de pertinho aquela cena."

Dois meses e tantas mudanças... Agora finalmente posso dizer que estou feliz! Não completamente, claro. Mas me sinto realizada por ter feito oque Joalin tanto quis na vida. Mudei meu curso para gastronomia, depois de tanto tempo.

Hoje era o aniversário da minha mãe, oque me obriga a ir visitá-la. Posso até não ser a melhor filha que vai visitar os pais em outra cidade sempre, mas pelo menos vou hoje. Sinceramente, tenho medo da reação dela com a minha vida atual. Meu pai é diferente, ele é incrível! Tenho certeza que me apoiará.

-Essa casa aqui, né?- Bailey, que estava dirigindo, questiona.

-Isso- assinto, suando frio nas mãos.

-Relaxa, a gente tá aqui com você- me rouba um selinho e me abraça. Nossa relação é assim agora. Nada além de beijos e carícias. Nunca fomos para a cama, nem namoramos oficialmente.

Saio do carro acompanhada dos dois e toco a campainha.

-Meu amor, que saudade!- meu pai, Fernando, abre a porta sorridente e me abraça apertado.

-Eu também estava, papai- retribuo o abraço.

-E quem é essa coisinha linda aqui?- pincela o nariz de Julinha.

-Essa é a Júlia e esse é o Bailey- aponto para eles.

-Entrem, fiquem a vontade. - abre espaço.

-Caralho, tu é rica hein?!- Bailey cochicha no meu ouvido.

-Eu não, né? Eles dois. - aponto para ambos.

-Mami- Júlia estica os bracinhos para mim, me fazendo pegar a mesma.

-Sabina, filha! Quanto tempo- minha mãe chega na sala, me abraçando leve. -Não me diga que...

-Não mãe. Essa é a Júlia. Estou cuidando dela porque a mãe dela está impossibilitada agora- interrompo-a.

-Como assim impossibilitada? Você cuidado para não virar babá e atrapalhar seus estudos. - como sempre, um amor.

-Ela está em coma, mãe! Satisfeita?- deixo uma lágrima cair.

-Mas você está estudando?- pergunta seca.

-Estou, mas não odontologia. - olho para baixo, com medo do que vem a seguir.

-Pelo amor de deus, Maria Sabina. Cuidado com oque vai me dizer, eu posso cair dura aqui mesmo- ela faz o de sempre, drama queen goals.

-Estou fazendo oque amo, mãe! Gastronomia- olho nos olhos dela.

-É melhor encerramos essa conversa por aqui, antes que eu saiba de mais desastres na sua vida. Só preciso que na frente das pessoas, você fale que faz odontologia e essa criança não chega nem perto de ser sua. Quero isso como meu presente de aniversário!- sorri falsa e sai da sala, indo para a festa lá fora.

-Desculpe por isso, meu amor! Você está feliz, isso que importa. Posso considerar a Julinha como neta, né?- meu pai me beija na testa.

-Claro que pode, pai! Ela é uma gracinha- olho para Julinha, que parecia assustada.

-Vem cá com o vovô, vem!- ele chama a mesma que surpreendentemente vai.

-Ei, eu estou aqui. Nada disso vai mais importar quando a gente voltar para a nossa casa com a nossa princesinha- Bailey me abraça e me beija na testa.

-E oque eu digo para todo mundo?- pergunto limpando as lágrimas.

-Ela é minha filha e nós somos amigos. Só isso.- volta a me abraçar.
Me sinto segura com ele, como nunca havia sentido na vida. Só quando estava com meu pai. Eu era a princesa dele, e ele meu herói. Nós brincávamos o dia inteiro nos finais de semana. Se não fosse por ele, eu nunca mais voltava aqui.
[...]
-Esse é o quarto de vocês, achei o berço para a Júlia.- Rosa, a empregada da minha mãe, nos mostra o ambiente.

-Obrigada, Rosinha!- sorrio para ela. Rosa trabalhava aqui desde que eu nasci. Ela era simplesmente maravilhosa, era com ela que eu ficava enquanto meu pai trabalhava.

-Fiquem à vontade e qualquer coisa que precisarem, você já sabe onde me encontrar- pisca para mim e sai.

-Tirando sua mãe, sua família é super legal- Bailey se deita na cama.

-Pois é. - respiro fundo e deito com Julinha ao lado dele. -Vamos descansar e depois descemos para vocês conhecerem o resto da família.

-São gente boa?- pergunta.

-Demais! Só minha mãe veio com defeito mesmo.- rio, mas com um pouco de dor no coração.

While you're gone - sabiley. Onde histórias criam vida. Descubra agora