Capitulo 1.

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Sabina (pov):
Assim como todas as manhãs, levanto da cama para ir a faculdade de odontologia. Antes que se questione, não essa não era a faculdade dos meus sonhos. Nem perto disso. Cresci dentro da cozinha com a cozinheira da minha antiga casa, Maria. Mas meus pais têm uma famosa clínica de odontologia e basicamente me convenceram a fazer o curso já que sou a única filha deles.

Minha melhor e única amiga, Joalin, é totalmente contra que eu continue o curso. Não é um dia normal se ela não tentar me convencer a largar tudo e fazer gastronomia. Acho fofo que ela me apoie nesse sonho, mas prefiro ficar na "zona de conforto" mesmo.
Nos conhecemos na faculdade, mas como engravidou, ela teve que trancar o curso para cuidar de Julinha. A pequena tem nove meses e é a criança mais incrível que eu já conheci.

Falando nela, todas as manhãs assim que desço as escadas da casa, sou recebida pelo seu sorriso contagiante ao me ver.

-Bom dia, jujubinha!- a pego da cadeirinha e dou um beijo estalado na sua bochecha rosadinha.

-Saby, estava pensando em ir na casa da minha avó hoje para visitá-la. Você quer ir com a gente?- Joalin surge da cozinha.

-Adoraria, mas amanhã eu tenho um trabalho para entregar na faculdade. Podem ir e manda um beijo pra dona Jolie.- devolvo a bebê para Joalin e pego uma maçã da fruteira. Não sou muito de comer pela manhã.

-Boa aula, amiga!- a mesma sorri e eu aceno de volta, saindo da casa e entrando no meu carro.

[...]
Como era de se esperar, na volta para casa não havia mais ninguém no local. Confesso que não gosto de ficar sozinha aqui, por mais que as vezes choro de criança não seja o melhor lugar para se estudar, eu amava dividir aquela casa com as duas.

Deixo minhas coisas em cima da mesa da sala e não demora muito para o celular, que estava dentro da bolsa, tocar e me fazer retornar da cozinha para atendê-lo.

-Alô, dona Jolie?- questiono. Essa era a avó de Joalin, a qual considero a minha avó também. Ela é a única família de Joalin no país, pena que mora a uma hora de nós.

-Ainda fico besta com toda essa tecnologia, você já sabia que era eu ligando antes mesmo de ouvir a minha voz! - a senhora ri do outro lado. - Mas não liguei para isso, você poderia passar o telefone para Joalin?

-Elas não estão em casa, achei que já estavam aí. - respondo.

-Como assim não estão em casa? Você tem certeza?- ela parece preocupada.

-Tenho sim, estou sozinha aqui. Porque está tão aflita? Ela pode ter passado em outro lugar antes, não?!

-Acabei de ver na televisão um acidente horrível na estrada que liga Santa Mônica à Los Angeles. Qual a probabilidade de serem elas? A única informação que deram foi que as vítimas estão no mesmo hospital que a Júlia nasceu.

-Estou indo agora para lá, te aviso qualquer coisa. - desligo o telefone. Por favor, que não sejam elas!
[...]
Adentro o hospital com uma angústia enorme no peito, eu não sei oque faria sem elas duas.

-Boa tarde, eu preciso urgentemente saber sobre o acidente da estrada. - me encosto no balcão da recepcionista.

-Oque deseja saber, senhorita?- a mesma me olha de relance.

-O nome das vítimas.- falo com urgência.

-Ainda não se sabe. Tudo que sei é que eram duas pessoas, uma bebê e uma mulher. - meu coração se aperta ainda mais. Aquilo foi basicamente uma confirmação.

-E qual o estado delas?- pergunto segurando as lágrimas.

-A bebê está relativamente bem, apenas com alguns machucados e em observação na uti pediátrica. - alívio. - A jovem está sendo avaliada por um neurologista no momento pois foi atingida fortemente na cabeça.

-Moça, pelo amor de Deus, me deixa ver as duas. Eu imploro!- me desespero.

-Desculpe, senhorita! Tudo que posso fazer é pedir para você se sentar ali e qualquer médico que tiver notícias trazer diretamente a senhorita. - assinto, sentando-me no lugar indicado.

-Querida, vim o mais rápido que pude. São elas, não é?!- Dona Jolie vem ao meu encontro.

-Provavelmente sim... - a abraço, deixando as lágrimas saírem.

[...]
Dez minutos, uma vida para quem espera notícias urgentes. Por meio da televisão, tivemos certeza que eram elas. O acidente foi muito mais grave do que imaginamos, o carro havia capotado por causa de um buraco e depois, caído em um lago. Um caminheiro que viu, conseguiu tirar as duas, mas uma de cada vez. Pelo tempo que havia passado embaixo d'água, Joalin provavelmente estava pior que Júlia. Não sei oque sentir.. Agora estamos aqui sentadas e esperando qualquer notícia.

-Com licença, vocês são as acompanhantes de Júlia Loukamaa?- uma médica aparece.

-Somos sim. - respondo, me levantando.

-A Julinha está bem, com uma leve febre que provavelmente foi causada pela água em grande quantidade no pulmão dela. Ainda sim, realizamos exames para descartar bactérias pulmonares e os resultados não devem demorar. Ela já pode receber visita, só pediria para ir uma de cada vez. - a mesma tira 50% de peso sobre as minhas costas. Os outros 50 continuavam intactos...

-Vai lá, querida! Ela vai gostar de ver você. - dona Jolie alisa meus ombros e apenas sigo a médica até um quarto.

-Pode pegar, só não tira esse aparelho da perninha dela. - Celina, a médica, aponta para o pequeno aparelho na perninha de Júlia.

Me aproximo do berço onde Julinha dormia serenamente e a tiro do mesmo, dando um beijo em sua cabeça.
A pequena tinha machucados espalhados pelas pernas , braços e bochechas.

-Oi, meu amorzinho!- a abraço forte. -Que susto, viu? Eu te amo tanto, neném. Independente do que aconteça, eu prometo nunca te deixar. - encosto a cabeça dela no meu ombro e balanço devagarinho para confortá-la.

[...]
Já se passavam das quatro da tarde e nenhuma notícia de Joalin. Cada minuto parecia uma eternidade naquela recepção. Por mim, ficaria com Julinha o tempo todo, mas a médica prefere que ela descanse um pouco para ter alta logo.

-Querida, vá comer alguma coisa. Desse jeito você vai passar mal.- a avó de Joalin senta ao meu lado.

-Não estou com fome, dona Jolie! Estou bem, a única coisa que preciso são notícias dela.- tento sorrir fraco.

-Tudo bem, então pelo menos tome esse suco que comprei para você. Não suportaria ver vocês três dentro daqueles quartos.- a mesma estende a garrafinha e aceito, tomando o líquido de goiaba.

-Com licença, tenho notícias sobre Joalin Loukamaa.- um médico jovem nos faz levantar rapidamente. -Meu nome é Andrew De Lucca, serei o neurologista responsável pela paciente e vou explicar melhor o processo. Foi preciso fazer uma cirurgia para conter uma leve hemorragia e drenar o sangue acumulado na cabeça da paciente. A pancada na cabeça foi forte, causando uma lesão que levou a um trauma e em seguida, um coma.

-E quando ela acordará, doutor?- pergunto.

-Infelizmente, não tem um tempo determinado. O coma poderá levar dias, semanas, meses e até a eternidade...

-A vida toda?- penso alto, querendo desabar ali mesmo. Isso foi basicamente uma sentença de morte.

While you're gone - sabiley. Onde histórias criam vida. Descubra agora