Eu sentia meu corpo tenso conforme tiramos as roupas, mas foi bom enfrentarmos esta barreira juntos. Kayla tinha me esperado todo esse tempo e eu também a esperava. A noite, por mais selvagem que tenha sido, também foi mágica. Eu ainda me lembrava do olhar meio assustado dela e meio apaixonado, ela sentia medo mas confiava em mim. Nesta manhã senti ela meio distante, porém não quis ultrapassar os limites dela. Talvez ela ainda não estivesse acreditando que eu estava ali. Uma voz dentro de mim dizia que na verdade, a noite passada, não havia sido nada para ela. Mas eu não iria acreditar naquela voz.
Preparei o café da manhã pra ela, enquanto a mesma tomava banho. Eu queria fazer aquilo todos os dias para ela, ou pelo menos sempre que possível. Recolhi nossas roupas e a esperei animado.
- Bom dia! - falei e ela sorriu como um anjo. Eu realmente não sabia como me apaixonei tão perdidamente por ela.
- Bom dia. - respondeu beijando minha bochecha. - Sem fome? - perguntou e neguei. Não queria parecer maluco logo quando estávamos nos encontrando pela primeira vez em anos. - O que foi então? - apenas sorri, eu queria gritar para ela que por incrível que parecesse, eu estava loucamente apaixonado por ela novamente e estava crente que tudo nela iria me fazer apaixonar por ela todos os dias da minha vida e por isso deveríamos nos casar naquele dia mesmo. Respirei um pouco com o pensamento ainda sorrindo.
- Você sabe o quanto eu senti sua falta? - ela negou - Eu nunca mais quero me separar de você Kayla!
- Eu também senti a sua falta Gabs. Muita. Você não imagina. - meu coração batia rápido. Parecia que eu tinha voltado aos meu 16 anos onde era loucamente apaixonado por ela.
- Vamos fugir? - perguntei e ela riu.
- Claro, mas eu decido quando. E então você só tem que correr até mim com o seu passaporte e seu lindo sorriso. - poderíamos fugir agora mesmo se ela quisesse.
- Então isso é uma promessa! - disse, beijando sua mão. Ao sairmos levei ela até o ponto de ônibus e esperei com ela, ficamos o tempo todo de mãos dadas e ela sorria feito boba. Quando seu ônibus chegou voltei para a minha casa, meu pai me esperava para podermos ir ao hospital ver mamãe. Eu iria mostrar a casa para Kayla na terça feira, até lá teria que comprar a aliança e o carro. Depois disso poderíamos ir mobiliando a casa do nosso jeito, eu estava com medo dela recusar, já que ficava na cidade vizinha, porém essa ansiedade foi deixada de lado quando vi minha mãe.
Mamãe estava mais magra que o normal. Sua cabelo que normalmente era curto agora estava grande de uma forma surpreendente. Eu não me lembrava direito quando foi a última vez que a vi de cabelo grande.
- Gabs, meu filho - ela dizia chorando e eu sorri fraco, ainda não sabia o que fazer quando via uma mulher chorar. Ela deu risada. - Venha conhecer sua irmã - disse me fazendo olhar para a criança ao seu lado - Está é Bianca - murmurou acariciando o rosto do bebê que mais parecia uma boneca. - Bianca, este é o seu irmão mais velho, Gabriel - sussurrou no ouvido dela. - Diga Oi - disse vendo a pequena pegando seu dedo e balançando a mão na mesma. - Boa garota - murmurou e eu sorri. Mamãe era a mesma coisa babona comigo. Parecia até que eu estava me vendo ali.
- Eu finalmente realizei o meu sonho - disse meu pai sorrindo - Um filho que se parece comigo e uma garotinha que se parece com a mãe - brincou. Sim, Bianca tinha cabelos cor de mel, olhos na mesma cor que mamãe, mas a cor de pele era igual ao do meu pai. Dei risada. Eu só esperava que ela não fosse impulsiva igual ele.
Após alguns minutos Tia Mel chegou e tirou a tão esperada foto em família assim como outras para "enfeitar" a nossa casa. Enquanto isso eu entrava em um dilema comigo mesmo, eu precisava entrar na faculdade. Talvez medicina? Não, passei anos sem estudar e a Kayla já está fazendo enfermagem. Eu precisava de alguma profissão que eu pudesse ficar sentado e que as pessoas me entendessem...
Eu precisava pensar em algo que eu pudesse realizar com essa perna e que fosse realmente bom para mim. Como fui militar por algum tempo, eu tinha um conhecimento em leis... Talvez advocacia fosse um bom plano pra mim, eventualmente eu poderia até me tornar juiz se pegasse firme.
Tia Mel apareceu junto com Kayla para que pudessem ver a famosa Bianca Smith. Aproveitei para tirar uma casquinha de Kayla com um beijo em sua bochecha, eu realmente tinha sentido falta dela naqueles anos em que fiquei fora. Se não fosse por aquela bomba ter atingido minha perna, quanto tempo a mais iríamos permanecer afastados?
Agora tudo seria diferente, agora eu precisava ficar bem para seguir em frente. Eu precisava acreditar que conseguiria viver bem a partir deste ponto. A partir deste momento.
Quando cheguei em casa com meu pai, ele rapidamente fez o jantar, logo colocando em algumas vasilhas uma porção para levar para minha mãe no hospital. Uma vez que ela só sairia de lá na outra semana.
- Você vai ficar bem? Precisa de algo? - perguntou meu pai e aquilo me surpreendeu. Apesar de termos ficado uma vida inteira longe um do outro, não era difícil conversarmos, já que ele sempre passava uma energia de que nunca havia partido ou sumido.
- Talvez eu precise de uma psicóloga. E gostaria de fazer uma faculdade, você poderia conversar com a mamãe sobre?
Nicolas logo assentiu e eu sorri sabendo que poderia contar com ele para aqueles momentos.
- Você precisa de mais alguma coisa? - perguntou preocupado e eu neguei.
Depois de comermos com ele, atualizando-me sobre tudo, lavei a louça e decidi que iria subir para o meu quarto. Aquele ambiente tão distante que seria agora o meu quarto novamente. Como eu iria me sentir naquele ambiente? Será que eu estaria seguro ali?
Subindo as escadas percebi que a casa permanecia da mesma forma. Meu quarto continuava igual?
Ao entrar, percebi que a resposta era sim. Do jeito que eu havia deixado, minha mãe e Nicolas não haviam tocado em nada. O que fez com que eu engolisse em seco, o Gabriel do passado não estava mais ali, aquela criança não pertencia mais a minha pessoa.
Respirei fundo. Pegando dois comprimidos da bagagem que tinha deixado no outro dia aqui rapidamente os engoli.
E tão rápido eu consegui dormir.
Contudo não foi o suficiente, aqueles malditos sonhos ainda me perturbavam e esta foi mais uma noite que eu acordei gritando apavorado. Eu estava com medo de que onde eu estivesse fosse desaparecer, de que eu realmente voltasse para aquele lugar.
Suando frio, eu desci até a cozinha para beber água e vi Nicolas correndo escada abaixo.
- Você está bem? Eu escutei seus gritos - anunciou e eu sorri para ele.
- Claro, eu só preciso de um copo de água e caminhar um pouco. Pode voltar a dormir. - respondi engolindo a água rapidamente e saindo pela porta.
Era sufocante. Aquele lugar. As pessoas. Os momentos. Tudo estava se tornando pequeno e apertado. Tudo estava apertando minha garganta com força e sem dó.
Esse mundo era diferente dos anos que passei naquele lugar. Esse mundo não era tão violento como lá. O sorriso de Kayla surgiu em minha mente e eu logo me lembrei da noite passada.
Essa noite tão perfeita e mágica.
Essa garota que se tornou mulher.
Essa mulher que me esperou.
Kayla que tornava o mundo tão perfeito e mágico.
Peguei meu celular e digitei: Quando poderei te ver?
Kayla: Porque ainda não está dormindo? Você está jogando?
Gabs: Não, acabei de acordar.
Kayla: Estou de plantão hoje. Achei que íamos nos ver terça. Você está bem?
Gabs: Estou melhor agora.
Kayla: Precisa de algo?
Gabs: Você!
Era fácil imaginar ela corando agora com essa última mensagem, mas decidi tranquilizá-la depois e encerrar a conversa com uma mentira.
Eu tinha caminhado tanto que já estava quase amanhecendo e por incrível que parecesse, eu havia caminhado até a escola.
- Gabs? - Alguém chamou-me fazendo-me virar.
- Eu não acredito... O que você está fazendo aqui?
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Quando o Amor Acontece
RomanceO que é o amor? Eu sinceramente não sei explicar. Por mais que eu ache que sou adotado Mamãe e Tia Mel vivem dizendo que sou muito parecido com o meu pai - Nicolas Smith. Mas como eu não posso desconfiar de um homem que nunca vi? Mas mamãe insiste e...