Capítulo 10:

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Mantive a cabeça baixa ao passar pela recepção e saí do hotel por uma porta lateral, fiquei vermelho de vergonha ao me lembrar do gerente que cumprimentou Harry no elevador, era capaz de imaginar o que ele pensava de mim, ele devia saber para que servia aquele quarto.

Eu não conseguia suportar a ideia de ser apenas mais um de uma longa lista, mas foi exatamente isso o que me tornei quando pus os pés naquele hotel.

Teria dado muito trabalho parar na recepção e pedir um quarto que seria só nosso?

Saí andando sem direção e sem destino definido, já havia escurecido, e a cidade ganhava uma nova vida e se reenergizava depois de mais um dia de trabalho, barraquinhas fumegantes de comida dominavam as calçadas, junto com vendedores ambulantes oferecendo quadros, camisetas ou até roteiros de filmes e episódios de seriados de TV.

A cada passo que eu dava, a adrenalina da fuga baixava um pouco mais, a imaginação maliciosamente excitada pela visão de Harry saindo do banheiro para encontrar o quarto vazio e a cama repleta de parafernálias sexuais foi perdendo o efeito, comecei a me acalmar... e a refletir seriamente sobre o que tinha acontecido.

Teria sido uma coincidência Harry me convidar para ir a uma academia tão convenientemente próxima de seu abatedouro sexual?

Lembrei da conversa que tivemos no escritório na hora do almoço, e a dificuldade que ele sentiu para expressar seu desejo de ficar comigo, ele estava tão confuso e dividido quanto eu, e nessa situação o mais natural seria mesmo recorrer aos hábitos rotineiros, afinal de contas, eu mesmo não tinha acabado de fazer isso, apesar de ter investido tantos anos em terapia para aprender a não me fechar e fugir quando estivesse magoado?

Angustiado, parei em uma cantina e me sentei a uma mesa, pedi um cálice de syrah e uma pizza margherita, esperando que o vinho e a comida acalmassem minha ansiedade para que eu pudesse voltar a pensar direito.

Quando o garçom voltou com meu vinho, virei metade da taça de uma vez sem nem sentir o gosto, já estava com saudade de Harry, do bom humor que ele demonstrou antes de eu ir embora, seu cheiro estava impregnado em mim — junto com o do sexo inacreditável que fizemos, senti meus olhos arderem, e deixei algumas lágrimas caírem, apesar de estar em público, em um restaurante cheio de gente, a pizza chegou e eu provei um pedaço, tinha gosto de papelão, e isso não tinha nada a ver com a qualidade dos ingredientes, do cozinheiro ou do lugar.

Puxei a cadeira em que havia deixado minha mochila e peguei o celular novo, com a intenção de ligar para o Dr. Travis e deixar um recado, ele tinha proposto que continuássemos com as sessões à distância até que eu encontrasse um terapeuta em Nova York, e decidi aceitar a oferta, foi quando vi as vinte e uma ligações perdidas de Harry e uma mensagem de texto:

Estraguei tudo de novo, não me abandone, fale comigo, por favor.

As lágrimas voltaram a rolar, apertei o telefone contra o peito, sentindo—me perdido, não conseguia afastar da cabeça a imagem de Harry com outras mulheres e homens, não conseguia deixar de imaginá—lo trepando feito louco com outra mulher ou homem naquela mesma cama, usando aqueles brinquedinhos neles, levando—os à loucura, extraindo prazer do corpo deles...

Era um pensamento irracional e sem sentido, que fazia com que eu me sentisse mesquinho e patético, e se manifestava em uma dor física.

Levei um susto quando o telefone começou a vibrar, e quase o derrubei, dominado pelo sofrimento, pensei em deixar tocar até cair na caixa postal, porque estava escrito na tela que era Harry, a única pessoa que tinha aquele número, mas não fui capaz de ignorar, porque ele estava claramente histérico, por mais que eu quisesse magoá—lo antes, naquele momento essa ideia era insuportável.

Todo seu - ShumdarioOnde histórias criam vida. Descubra agora