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Abro os olhos e vejo um emaranhado de cabelos prateados ao meu lado e fico imóvel. A feérica dormia tranquilamente. Quem era ela mesmo? Me levanto em silêncio e ouço ela murmurar alguma coisa.
—Oi — falo sério e ela sorri com preguiça. Observo o corpo dela tapado pelos lençóis e flashes da noite passada invadem minha cabeça. — Você tem que ir — não espero ela falar nada e entro no banheiro para tomar um banho.

Nessas situações, geralmente eu nunca sei o que fazer. Não vejo necessidade de ser carinhoso e nem fofo, então apenas sou sincero. A noite foi boa, ótima na verdade, mas o dia já amanheceu tem tempo e eu tenho compromissos hoje.

Termino meu banho rápido e coloco meu uniforme Illyriano de sempre, me olho no espelho e percebo que está na hora de cortar meu cabelo. Já faz quase dois meses que cheguei aqui e até agora não descobrimos quase nada sobre as invasões. Cassian disse para eu aproveitar enquanto não descobrimos nada. E foi isso que fiz ontem. Aquela fêmea...de nome desconhecido, estava junto conosco em uma fogueira. Conversamos a noite toda e ela disse que queria aquilo, se ela não tivesse dito nada eu não faria. As histórias que Cassian me contou, os machos daqui não são confiáveis e as fêmeas sofrem, e eu não quero fazer parte desse grupo.

Saio do meu chalé e encontro Cassian saindo do dele também, com uma xícara de chá na mão e um sorriso malicioso no rosto.
—Como foi a noite? — ele pergunta e me olha de cima a baixo. Reviro os olhos.

—Nada demais — respondo e ele faz uma careta.
—Por que está com tanto mau humor esses dias? — ele pergunta e andamos para o campo de treino. Dou de ombros e sigo em silêncio até lá.

Cerro o cenho ao ver o campo de treino completamente vazio, o que nunca acontece. Esse lugar sempre está cheio, quase lotado. Olho para Cassian e o mesmo estava pálido.
—Estou tonto — ele coloca as mãos na cabeça e a xícara de chá cai no chão. Seguro ele pelos ombros quando ele ameaça cair.

—O que está acontecendo? — pergunto e coloco Cassian sentado em um tronco de madeira.

—Veneno feérico — ele fala entredentes. Fico gelado. Porque eu não estava sentindo os efeitos também? — Você comeu algo essa manhã? — ele pergunta com os olhos quase fechados. Nego com a cabeça e ele me segura forte pelos ombros —Então você pode proteger as pessoas daqui. Vá — ele fala e eu apenas corro para os alojamentos.

Cyndi:

Minha cabeça rodava, saio da minha cabana e vou direto na de Ágatha e encontro Íris lá também. Todas pareciam sentir o mesmo que eu. O acampamento estava tão silencioso que era assustador. Nenhuma voz ou urro, nenhum barulho de espadas colidindo. Nada.

Íris estava armada até os dentes mas quase não conseguia ficar de pé. Eu peguei uma adaga antes de sair e não conseguia manter ela nos dedos.
—Isso é veneno feérico — Ágatha fala e nos entrega um pouco de água.
—Não tem nenhum chá para isso? — pergunto.
—Deve ter — ela responde e pega um grande livro da mesa e começa a folheá-lo.

Íris xinga baixinho quando começamos a escutar passos. Tento esconder meu cheiro mas a magia não vem, parece que foi drenada ou até bloqueada. Começo a entrar em pânico e minhas mãos ficam geladas. Os passos aumentam de velocidade e parecia vir direto para nossa cabana.
—O que está acontecendo? — Kael pergunta e entra na cabana tropeçando nos próprios pés. Respiro aliviada mas mesmo assim fico tensa. Acendo algumas velas perfumadas para confundir o cheiro no ar e Ágatha parece entender o que está acontecendo e aumenta a procura por algum chá que ajudasse nisso.

—Veneno — Íris responde atenta a todos os movimentos de Kael. O Illyriano inspira fundo e fico pálida com ele me encara.

—Cyndi, você...— ele se senta no chão e fareja o ar mais uma vez. Kael me observa com o cenho franzido. —Quando?

—Não interessa — Íris responde em tom grave. Vejo os olhos de Kael ficarem brilhantes demais e percebo que havia lágrimas ali. Eu o encaro atordoada.

—Não vou deixar que ninguém chegue perto de você — ele se levanta e pega uma espada que Íris trouxe e sai da cabana.

Olho para Íris desacreditada e surpresa. Agora sei que posso confiar nele.

Começamos a ouvir murmúrios do lado de fora e Ágatha dá um gritinho estridente.
—Achei, consigo fazer em alguns minutos— ela fala e se levanta, juntando algumas ervas. Vejo ela abrir uma caixinha de madeira onde ela tinha me dito que guardava ervas raras e especiais.

Ela amassa e corta algumas. Ouvimos alguém xingar do outro lado e começo a ficar preocupada com Kael. Ele não é muito forte, Kael é do tipo que precisa de incentivo emocional para ganhar uma luta. E geralmente esse incentivo é a raiva. Ele a usa como gatilho.

De repente, Kael é jogado para dentro da cabana com força e Zaki entra. Ele parecia estar fraco também, mas mesmo assim encontrou forças para empurrar Kael, que é o dobro de seu tamanho. Vou pra trás de Ágatha e fico perto das velas. Kael entra na minha frente e percebo que Zaki parecia não ter sentido o cheiro ainda.

Começamos a ouvir alguns urros e xingamentos. Ouço um par de asas batendo e o barulho de ossos se quebrando. Zaki sai correndo da cabana junto com Kael e esses barulhos aumentam. Vou em direção a saída, mas antes Ágatha coloca um monte de folhas na minha boca. Faço ânsia de vômito mas ela me obriga a engolir.

—Vai demorar para fazer efeito mas você é prioridade — a ruiva fala e Íris confirma com a cabeça.

Saio da cabana tonta e encaro a cena ao meu redor. Nyx estava aqui, e estava bem. Ele lutava contra muitos, muitos feéricos desconhecidos até então. Reparo em seus braços musculosos acertam cada feérico ali e somente isso era suficiente para fazê-los desmaiar. Zaki e Kael eram um peso morto e só atrapalhavam. Sinto meus dedos ficarem um pouco mais fortes e seguro firme a adaga entre eles.

Um feérico me vê e corre em minha direção, mas não chega perto demais quando Zaki acerta uma pedra na cabeça dele. Ele se aproxima e vejo Kael analisar a situação de longe, ele tentava de tudo se aproximar de mim mas muitos feéricos estavam em cima dele.
—Isso é veneno? — Zaki pergunta com as mãos nas têmporas. Confirmo e ele trinca o maxilar. Ele inspira fundo e dobro os joelhos para começar a correr, mas ele segura meu braço antes.

—Esse cheiro... é você? — ele franze a testa e depois sorri de lado.


notas da autora:
quem me ajuda a dar um socão no Zaki no próx cap?

  (obs: criei um booktok gnt meu user é linaareads, eu posto coisa sobre a fic lá)

Cortes de Sangue e LutaOnde histórias criam vida. Descubra agora