Despertar

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Despertar

Ao acordar, a jovem dorida e esgotada, procurou observar o cenário à sua volta.

Encontrava-se numa divisão retângular pequena, construída essencialmente com madeira e com janelas, era de noite, e por isso a única luz existente provinha de um pequena vela.

Várias camas encontravam-se na divisão, sendo que em todas, um jovem deitado, perdia-se em pesadelos ou sonhos de um futuro com esperança.

Kai, por sua vez, encontrava-se na cama ao seu lado.

Estava com uma respiração pesada, e apesar de se encontrar a descansar, a sua cara, magra e com olheiras, transmitia um tremendo cansaço e esgotamento total, no entanto conseguira sobreviver e Yuna estava grata por isso.

Encontravam-se todos vestidos com uma túnica de pano em tons de creme, aparentavam terem sido lavados, e estranhamente, não sentia a menor sensação de fome.

Um a um, foram acordando confusos, como se tivessem sido acordados de um feitiço de sono.

A jovem esperou até que Kai acordasse, evitando contacto visual constrangedor com os outros jovens.

As raparigas, que pareciam ser gémeas e o rapaz da Tribo Escura, já se encontravam a falar, provavelmente preocupados com o que se iria seguir.

Os dois rapazes da Tribo da Raposa, incluindo Tiko, olhavam para o vazio, enquanto andavam pelo quarto, silenciosos.

Eram estranhos, tínhamos que admitir, mas ninguém os podia julgar, pois não tinham sido eles a meterem-se naquela situação.

Passados alguns minutos, Kai continuava adormecido e por esta razão, Yuna decidiu descobrir o que se passava.

Dirigiu-se ao pequeno grupo restante da Tribo Escura e ficou quieta, a ouvi-los.

O grupo inicialmente continuou a conversar ainda sem se aperceberem da presença intrusa, mas momentos depois fitaram Yuna nos olhos, observando-a e curiosos.

- O que está a acontecer? - Perguntou determinada e curiosa.

- Bem, analisando o que se passou anteriormente, não será muito difícil de adivinhar. Pensa bem, primeiro somos levados à força para um jogo, ou luta, como preferires. Até agora, de todas as vezes que acabámos uma prova, acordámos noutro sítio. - Respondeu o rapaz que lhe salvara na primeira prova.

Então, é lógico que tenhamos mais um jogo pela frente.- Afirmou, com calma.

Era estranho para Yuna, a forma como o rapaz falava, despreocupadamente e confiantemente.

Seria por estar seguro que não iria morrer? Ou simplesmente aceitara de uma forma invulgar as circunstâncias?

- Como é que consegues estar tão despreocupado? - Perguntou Yuna honestamente.

- Então... nunca ouviste falar da vida após da morte? Há... pois é, o vosso povo não tem essa crença. Tudo bem, então percebo porque estás tão preocupada.

Yuna afastou-se lentamente, constrangida e confusa por ter testemunhado toda aquela situação estranha.

Esperou alguns momentos, impaciente, por Kai.

Mas este, ao contrário de todos os outros jovens, nunca mais acordava e Yuna suspeitava que algo de errado estivesse a ocorrer.

Tocou no pulso do jovem, e sentiu uma pulsação fraca e adormecida. A sua testa, encontrava-se agora quente e a suar.

"O que se passa?", Pensou para si, enquanto olhava para fora através das janelas. Era de noite, mas Yuna sentia como se tivesse a voar, e para além de ver o que pareciam ser nuvens, conseguia ouvir um som semelhante a água em movimento.
"Estranho" , pensou para si enquanto se dirigia em direção ao grupo da Tribo Escura.
- Eu sei que isto vai soar estranho mas... eu acho que estamos a voar. - Disse-lhes, esforçando-se para não parecer maluca.
Os jovens olharam confusos para esta por momentos, com um olhar pensativo, mas momentos depois uma das gémeas respondeu:
- Ela tem razão, consigo sentir a água nas nuvens à nossa volta.
- Eu também. - respondeu a outra gémea.
O rapaz continuou com um olhar pensativo respondeu:
- Eu sinto um Oceano inteiro debaixo de nós.
Todos os jovens no quarto olharam para este com um olhar confuso e supreendido.
- Como assim? Estás a dizer que estamos a voar sobre um oceano?
- Sim, e não acho que seja qualquer oceano.- Afirmou com um olhar de espanto e pensativo.

Depois de absorver tudo numa questão de segundos, a jovem voltou para perto de Kai, que ainda se encontrava inconsciente.

Era certo que algo de errado ocorrera, e a preocupação de Yuna aumentava à medida que o tempo passava sem sinais de vida do jovem.

Os jovens ao seu lado, encontravam-se impacientes e curiosos com o que se seguiria.

Num momento inesperado, uma luz de pó em tons de verde explodiu no ar, e de lá apareceria uma figura familiar.

Tratava-se do Hazardiano, que ordenara atacar a sua tribo.

Aquela cara, rugosa e cobrida de tatuagens de juramentos, suscitara memórias cheias de morte, sangue, raiva, desespero e outros sentimentos indesejáveis para Yuna.

A figura, vestida com um manto negro, ficara quieta e silenciosa enquanto o silêncio invadia o vazio.

Os jovens olhavam curiosos e numa posição defensiva para a inesperada visita, prontos para o ataque.

Num movimento lento e decisivo, o Hazardiano concentrou-se em algo, olhando no vazio.

Neste momento, Yuna começou por sentir uma força insuportável, semelhante a martelos a esmagarem o seu crânio.

Não sabia donde vinha esta força, mas julgando pela reacção dolorosa dos outros jovens, suspeitava que fosse obra do Hazardiano.

A dor era tão dolorosa, que mal tinha forças para mexer-se, sendo que até Kai, que encontrava-se agora a dormir e inativo, gritava pesadelos.

Quando Yuna perdeu forças, deixou o invasor penetrar na sua mente.

Mostrava-lhe agora imagens de mares profundos e escuros, com seres místicos e sereias. De seguida, mostrou uma montanha, e em cima desta encontrava-se uma bandeira do Império.
Involuntariamente, Yuna sentia-se atraída por essa bandeira, querendo ser a primeira a alcançá-la.

O Hazardiano, fechando os olhos, desapareceu numa questão de segundos, com a sua habitual nuvem de cinza.

Yuna observava agora o desaparecimento do Hazardiano, que lhe acabara de mostrar aquilo que se tornaria a seguinte prova.

***

Os jovens comunicavam entre si, debatendo diferentes opiniões e teorias energeticamente.

Yuna, encontrava-se agora a tentar perceber aquela confusão toda.

Estavam todos decisivos a criar um plano estratégico de fuga, apesar de não concordarem em nenhuma das sugestões, criando assim discussões intermináveis sem conclusão alguma.

Depois de longas horas de discussão, Yuna exaustou-se e sentou-se a um canto, a descansar.

Foi então que reparou numa criança pequena sentada e escondida a um canto, com cabelo forte e grosso escuro pelos ombros, com uma pintura de caveira na cara e uns olhos inocentes verdes de um mistério imenso.

" A única sobrevivente da tribo exótica!", Pensou para si.

Dirigiu-se em direção desta, mas ao reparar que se assustava a cada passo de Yuna, esta emitiu um gesto de permissão para avançar.

A menina, ansiosa e com uns olhos assustados e selvagens, acenou com a cabeça, permitindo assim a Yuna avançar.

A passos calmos e seguros, Yuna sentou-se ao seu lado.

-Consegues entender-me? - Perguntou Yuna, com esperança de a poder confortar.

A criança manteve-se silenciosa, fazendo um gesto de confusão com a cabeça.

-Pois bem... parece que estou sozinha... - Afirmou Yuna, desiludida enquanto olhava para o corpo inconsciente de Kai.

A menina da tribo exótica olhou para a tristeza de Yuna, ao observar uma gota de água a cair dos seus olhos.

Lentamente e silenciosamente, aproximou-se da cama de Kai.

Metendo uma das suas mãos frágeis sobre a testa de Kai e a outra no seu abdómen, a criança começou a proferir palavras desconhecidas e estranhas na sua voz inocente.

O corpo de Kai tremia, como se uma força puxasse a sua consciência que lutava no sentido contrário.

Uma gota de suor caiu no chão, e momentos depois, o jovem acordou.

Yuna: A Pedra SagradaOnde histórias criam vida. Descubra agora