confession

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PATRICK DEMPSEY

Ellie sperou pacientemente minha batalha interna.

— Essa garota que Kate falou, por acaso, tinha cabelo preto, olhos azuis e uma marca no pescoço? – Ellen apenas assentiu. Eu continuei. — Era minha irmã. Espera aqui. – Soltei o ar e saí da sala, mas bem a tempo de vê-la arregalar os olhos e me olhar surpresa.

Fui em direção ao meu quarto. Abri meu guarda-roupa e peguei o álbum de fotos da família, bem no fundo dele. Ainda não acreditava que nem éramos namorados e toda essa bagagem já estava sendo exposta. O medo estava tomando conta de cada poro do meu corpo.

Voltei para a sala e encontrei Ellen parada em frente à janela, com o olhar vago. Sentei no sofá e indiquei com a cabeça que ela fizesse o mesmo. Procurei pela foto que queria, uma mais recente com a minha mãe e minha irmã.

— Essa deve ter sido a garota que ela viu. – Ellen assentiu. — Ela tirou foto, certo? – Outro balançar positivo de cabeça. — Bom, eu tenho uma irmã. E uma mãe que está internada em um lugar para pessoas com transtornos mentais, um Hospital Psiquiátrico. É só um nome mais bonito para hospício, manicômio. – Ri, sem humor algum. Seus olhos me repreendiam. — Bom, isso já faz cinco anos. Meu pai bebia muito. Uma noite, quando chegou em casa bem alterado, ele pegou uma garrafa quebrada e passou pelo pescoço da minha irmã. Não sei no que ele estava pensando. Eu desci correndo do meu quarto quando ouvi os gritos dela. Minha mãe desceu logo em seguida e entrou em choque com todo aquele sangue. Meu pai logo caiu em si e saiu da casa. Soube que foi encontrado morto uns dois dias depois, acidente de carro. Minha mãe acabou ficando com um trauma e hoje vive em lembranças de tempos melhores, digamos assim. Eu sumo porque vou visitá-la sempre que dá. Em resumo, é isso. Não gosto de lembrar dessa época, ou falar sobre ela.

A raiva de seus olhos já tinha sido completamente eliminada, dando lugar a um amor que nunca tinha conseguido enxergar neles. Ellen me olhava não como se eu estivesse quebrado por tudo o que tinha acontecido, mas como se eu fosse um herói por ter sobrevivido a tudo aquilo e ainda estar aqui, sendo capaz de contar para ela a parte mais feia da minha vida. Era difícil ainda para eu acreditar que em algum momento tive medo de perdê-la por compartilhar a minha história.

— Me desculpe, Patty. – As lágrimas que a vi prender por certo tempo, já escorriam pelo seu rosto. — Eu não deveria chegar aqui e jogar tudo em cima de você sem ao menos perguntar. Eu...

— Eu sei. – Foi tudo o que consegui dizer, ainda tinha medo de me aproximar e acabar sendo rejeitado novamente. Não sei se depois disso tudo eu aguentaria.

— Eu sinto muito. Kate é minha amiga, ela nunca teria motivo pra mentir pra mim, e ainda tinha a foto! – Ellen deu um salto do sofá e voltou a andar de um lado para o outro. — Eu não sei o que me deu! Eu nunca agi assim, eu não sou assim. Sempre tive minha vida nos eixos, sempre agi de maneira racional em situações que tinham sentimentos envolvidos, mas aí você apareceu na minha vida e tudo tá de cabeça pra baixo. Não que eu esteja lhe culpando ou reclamando, porque você foi a melhor bagunça que já apareceu na minha vida. – Ellen suspirou e sentou novamente. Eu estava tentando assimilar cada palavra que saía de sua boca. — Quando eu vi a foto, eu... Eu tive tanto medo. – Ela apoiou a cabeça no sofá. — Eu sinto muito por toda essa cena, muito mesmo.

— Você não precisa se sentir assim. Acho que faria o mesmo se fosse o contrário.

Alguma coisa mudou em seu olhar. Uma nova chama surgiu neles, algo que ainda não tinha conseguido decifrar.

***

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