Capítulo 1- O começo normal

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(Trevo- 6:30h- 13 de Fevereiro)

Meu nome é Trevo.

É, você ouviu bem. De todos os nomes que meus pais maravilhosos poderiam me dar, eles escolheram justo Trevo. Sou um garoto gordo, cabelo preto com um topete meio assanhado na cabeça e muitas pulseiras no pulso, um visual até que bem comum. Eu moro com a minha mãe na cidade de bel-mar, uma cidade bem mais ou menos, em todos os sentidos. Aqui não é nem muito grande, nem muito pequeno. É tipo uma mistura de capital com interior, sabe?! É bem bacana aqui.

Estou a caminho da escola (ou colégio, francamente nunca entendi a diferença). O céu estava aberto, mas não estava quente. Estava com um frescor de chuva da madrugada, o meu tipo de clima. Eu não detesto ir pra escola ou algo do tipo, mas eu também não tinha essa pressa toda pra chegar, ou aquela vontade avassaladora de evitar um atraso. Eu ia pra escola no meu próprio ritmo. Gostava de observar o caminho. Era sempre o mesmo, mas eu nunca cansava de observar.

- BOM DIA MEU VELHOOO! – Eu ouço uma voz estridente e um corpo se agarra ao meu pescoço, me deixando meio assustado. Era Mainardo. E sim, nossos pais compartilham o apreço por nomes estranhos. Ele era meu melhor amigo.

Eu não sei se entrei muito tarde na escola, ou Mainardo entrou muito cedo, mas mesmo eu tendo 17 e ele 15 anos, estudávamos na mesma sala do segundo ano do ensino médio, e nos conhecemos desde o 6º do fundamental. Mainardo Tinha cabelos escuros penteados para trás, olhos verdes e corpo bem magro, e apesar de ficar bastante à vontade comigo, boa parte do tempo adotava uma posição mais calada, fazendo piadas sarcásticas quando lhe dão oportunidade. Ele é reserva do time de basquete da escola, e meu amigo de videogame, filmes, quadrinhos, estudos, e meio que por ai vai.

- Iai cara, que barulho todo é esse as 6:30 da manhã. O que foi? Aquele seu time meia boca venceu alguma partida ontem? – digo já sabendo o porquê da exaltação.

- ei, que é isso, não seja amargo. Sabe que não sou nenhum raio de sol. Só achei que gostaria de um parabéns caloroso no seu aniversário. Se ignorar o fato de que está mais perto da morte, essa é uma ocasião bem festiva. Vai fazer alguma coisa? - disse ele andando ao meu lado a caminho da escola.

- Desculpa aí. Eu tô animado, é claro. Sempre gostei de comemorar meu aniversário, mas não sei. Tô com um mau pressentimento. Já tive isso antes, mas dessa vez, sei lá, ta mais forte - digo, abaixando a cabeça com a cara pensativa, e apertando levemente a alça da mochila.

- É também o aniversário de morte do seu pai, não é como se o dia fosse só felicidade. Vai ver esse sentimento é isso. - Mair fala, me lembrando do porque meu aniversário não ser só comemorações. Meu pai...Bem...Ele morreu no mesmo dia que nasci. Não sei muita coisa sobre ele, só que era um policial militar e morreu em combate.

-Vai visitar ele hoje? - Mair pergunta

- Vou sim. Odeio cemitérios, mas não gosto de deixar minha mãe ir sozinha. Vou lá uma hora antes da festa, e sim eu vou fazer uma festa. Aliás você já sabia disso, te convidei duas semanas atrás.

- Hehehe, mal ai. Eu te adoro, mas eu mal lembro o dia do meu aniversário, não pode achar que eu vou lembrar do teu. – disse Mainardo passando a mão na cabeça e rindo.

Chegamos à escola uns dez minutos antes da aula começar. Nosso colégio era bem bacana. Era dividido em três prédios, tendo alguns espaços abertos entre cada um deles. O colégio era grande, bem mais do que precisava ser, mas o ambiente era agradável.

Os prédios tinham cada um dois andares, cada um responsável por um período escolar: O primeiro era referente à educação infantil e fundamental 1, o segundo era referente ao ensino fundamental 2 e ao ensino médio, e o terceiro era para atividades extra curriculares e cursinhos de pré-vestibular. Entre os prédios havia sempre alguma coisa. Entre o primeiro prédio e o segundo tinha uma quadra e a praça de alimentação; entre o segundo e o terceiro prédio havia uma espécie de parque a céu aberto com alguns bancos de pedra, estilo praça dos anos 90. Por trás do último prédio tinha a piscina da escola (minha parte favorita), que ficava ao lado da quadra fechada. E numa área verde atrás do colégio, os alunos do terceiro ano haviam feito uma campanha ano passado para comprar dois gols, e criaram um campo de futebol a céu aberto. Como eu falei, GRANDE.

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