prólogo

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(Trevo- 2:30h- 18 de Junho)

Estava uma noite fria, se não fossem meus pelos eu já estaria congelando. Estava ventando bastante também, o que antes só me faria fechar os olhos e desfrutar, mas agora parece mais um indicio de mal pressagio. Como se fosse possível algo ainda ficar pior, mas ultimamente não duvido de nada.

Do outro lado da rua, a luz da fachada da delegacia brilhava bem forte. Espero que não tenha ninguém trabalhando a essa hora, ou pelo menos não no lugar aonde eu quero ir. Entro por uma janela aberta, e logo caio no chão do banheiro da delegacia. Minhas patas ficam grudando nesse chão, acho que faz séculos que ninguém lava ele (que nojo). Com calma eu me esgueiro pelos cantos até chegar na cela, e lá estava ele, a única pessoa na cela provisória da delegacia.

Jaime estava sentado em um banco de pedra, com a cabeça baixa e as mãos cobrindo seu rosto. Era difícil dizer o que se passava em sua cabeça, mas o semblante em seu olhar era de raiva. Mas não uma raiva avassaladora, mas sim uma raiva apática, que poderia ser facilmente confundia com tristeza. Na verdade...talvez fosse tristeza.

Ando até dentro da cela, onde Jaime me vê, um pequeno rato, bem na sua frente. De primeira ele se assusta, levantando a cabeça antes abaixada, porém ao me olhar com um pouco mais de atenção, sua expressão de susto sai do seu rosto e diz:

-Sortudo, se queria passar despercebido, deveria ter virado uma mosca, não um rato- Subitamente então uma fumaça surge ao meu redor e se expande, desfazendo então a transformação.

-Ainda não consigo virar algo tão pequeno. Mas consigo fazer essas barras virarem isopor- Digo pondo as mãos nas grades da cela e as olhando de cima a baixo.

- Essa é a sua grande ideia? Me tirar da cadeia? Que atitude heroica- Ele diz com uma ponta de hostilidade e sarcasmo.

-Eu nunca disse que era um herói, eu disse que queria ser um, e depois do que aconteceu, vou me concentrar melhor com você fora daqui. - Digo ainda olhando para as barras.

-Como assim? O que aconteceu? - Jaime pergunta curioso. Eu então respiro fundo, uma respiração pesada e um pouco tremula, como a de alguém prestes a chorar (acho que se eu tivesse tido oportunidade era o que eu faria).

-Sortudo...- Jaime fala, porém não continua a falar antes de mudar a abordagem- Trevo... o que aconteceu- Jaime repete a pergunta pausadamente, meio sério, acho que ele percebeu que não estava legal.

- Tudo... desmoronou...- Digo pausadamente e um pouco porém nitidamente abatido.

- Como ta todo mundo? - Jaime pergunta parecendo genuinamente preocupado.

- Fomos enganados, na verdade, acho que nunca deixamos de ser enganados. Jaime, preciso de você fora daqui, preciso saber que ainda consiguo fazer algo bom.

- Trevo seja lá o que aconteceu, eles já me pegaram, se eu fugir agora, eles vão vir atrás de mim, eu não vou ajudar ninguém foragido.

- Jaime...- digo ainda virado para as barras, mas com a cabeça abaixada e meio pensativo.

-Que foi? Será que dá pra parar com essa porcaria de drama e ser mais claro. ou sei lá, já que veio me ver na cadeia ao menos olha pra mim enquanto eu fa...

- Celina desapareceu- O interrompo logo depois de me virar e ficar cara a cara com ele. Não sei se é por que minha cara estava cheia de hematomas e arranhões, ou se foi o que eu acabei de dizer, mas Jaime abruptamente, logo depois de transparecer uma reação de choque, com um olhar sério diz:

- Me conta tudo.

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