poetry | newtmas

capítulo único ☼

Minho se preparava para entrar no labirinto em mais ou menos quinze minutos e desta vez, Newt se deu o luxo de dormir um pouco mais. Apesar de se acostumar com a rotina de levantar todos os dias antes mesmo do sol nascer completamente, ainda era um adolescente e por vezes, gostava de aproveitar o clima noturno.

- Eaí Cinderela, acha que está de férias? - Caçarola apareceu, balançando a rede com força.

- Vai se foder hein!? - Resmungou, ainda com os olhos se acostumando à claridade.

- Bom dia pra você também. - A voz sonolenta de Winston surgiu junto com um sinal positivo.

A brisa da manhã fez os braços de Newt arrepiarem, descobertos, usava apenas uma regata branca. Apoiou os cotovelos no joelho enquanto esfregava seus olhos, não se importaria nem um pouco de dormir mais.

- Bom dia, Thomas. - O cozinheiro deu dois tapinhas na costa do moreno que caminhava por entre os garotos, poucos ainda recostados nas redes.

- Hey Fry. - Disse com simplicidade, aproximando-se do loiro. - Dormiu demais Newt?

- E pensar que até esses dias quem tinha que te acordar era eu, fedelho. - Ressaltou o apelido, sabia que Thomas o detestava.

- O mundo gira, não? - Debochou, espreguiçando-se. - E o Alby vai girar um soco na nossa boca se não começarmos a trabalhar.

- Achei que o segundo no comando era eu. - Franziu o cenho, colocando os coturnos empoeirados e posicionando o sling de couro alinhado ao peito e as costas, onde carregava um longo facão.

- Mas é mesmo, apenas gosto de te irritar a essa hora da manhã. - Deu de ombros com uma risada que invadiu os ouvidos de Newt como música.

- Tem vários trolhos por aqui para você irritar. - Levantou-se.

- Não tem a mesma graça do que com você. - Piscou com um riso implicante, fazendo o corpo todo do loiro amolecer.

Detestava não conseguir detestar aquele efeito que Thomas tinha nessas horas.

- Vou pedir pro Chuck te trazer um balde, daqui a pouco a baba invade a clareira inteira. - Winston provocou, ainda deitado com os pés para cima.

- Cala a boca e vai trabalhar, matar uns animais fofos, eu sei lá. - Rolou os olhos, virando as costas enquanto o outro ria do sotaque que apenas se intensificava quando o garoto estava irritado.

Antes de se dirigir aos jardins, ele observou ao redor. A maioria dos clareanos trabalhava e conversava de maneira rotineira, era uma deixa para esgueirar-se entre as árvores da floresta. Tentava não colocar tanto peso na perna ruim, passando pelo terreno verde e pouco linear que se aproximava do rio.

Apesar de nadar vez ou outra por ali, não gostava nada do ambiente. Era impossível o clima ser bom ao lado de um cemitério, entretanto, era o único lugar que pensou para esconder seu precioso caderno.

Ajoelhou-se na terra fofa e esticou o braço no pequeno espaço entre o túmulo de George, o garoto que tentou pular no foço da caixa, e uma árvore. Era um local seguro, ninguém anda por aí revirando lápides.

Entretanto, seus dedos tocaram o vazio completo, que fez o coração deste acelerar mais do que acreditava ser possível.