Medéia

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04 de novembro de 2019
Winden, Alemanha

O cemitério da igreja talvez fosse a única coisa naquele mundo que permaneceu igual ao mundo de Jonas. A Igreja de São Cristóvão assim como o cemitério permanecia da mesma forma que Jonas se lembrava, a primeira vista tudo parecia exatamente da mesma forma como em seu mundo. De longe ele escutou o sino, sentindo uma certa sensação de conforto enquanto passava pelos túmulos, mas ao mesmo tempo ele sentiu-se inquieto, seus olhos passavam pelas inscrições nas lápides conforme ele passava por elas. Eventualmente seus olhos pousaram numa lápide, chamando sua atenção o bastante para fazê-lo parar. Ela ainda era recente, tinha uma cruz preta cravada ao lado do nome gravado em letras maiúsculas, um buquê de tulipas brancas havia sido colocado em pequeno vaso de pedra ao lado da lápide.

REGINA TIEDEMANN

* 01.08.1971 - ✝ 02.09.2019

Jonas ficou sem reação por um momento, olhando para a lápide por alguns minutos, sem conseguir sair do lugar. Ele não sabe quanto tempo se passou até que seus pés voltassem a andar, apressados, em meio ao cemitério e ele retomou o caminho familiar, o caminho que já fizera algumas vezes antes, depois que toda essa loucura começara. A lápide que tanto procurava, no entanto, não estava mais lá, havendo apenas um espaço vazio onde antes era o túmulo de seu pai. Ele continuou andando, praticamente correndo agora, seus olhos vagando pelo cemitério, procurando, sua respiração ofegante. Jonas procurou, olhando para cada lápide ao passar, sentindo a inquietude aumentar em seu peito, seus pés avançaram, passando por boa parte do cemitério até pararem de repente.

Não era a lápide que procurava, mas ainda assim ele se viu parado diante dela, era uma lápide diferente, assim como a de Regina, uma que não existia em seu mundo. Não foi só o nome gravado que o fez parar, mas o local em que se encontrava, no exato lugar onde ficava o túmulo vazio de Mads Nielsen em seu mundo.

JAKOB NIELSEN

* 21.07.2000 - ထ

E assim como tinha sido com o túmulo de Regina, Jonas se esqueceu de como respirar, todo o ar escapando subitamente de seus pulmões. Tudo se repete, ele pensou sombriamente.

- Precisa de ajuda? - ele escutou uma voz, fazendo-o virar rapidamente. Peter Doppler estava parado há alguns metros, olhando para Jonas, meio confuso. Ele estava sem barba, usava uma roupa de pastor enquanto carregava uma pequena bíblia de couro em uma das mãos. - Procura por alguma coisa?

- Kahnwald - respondeu Jonas depois de certo tempo. Peter não respondeu nada apenas permaneceu olhando-o, ainda confuso. - Michael Kahnwald. Eu gostaria de saber se ele está enterrado aqui.

- Temos Daniel Kahnwald, falecido em 1964, mas nenhum Michael Kahnwald.

- Talvez seja por isso que estou aqui - murmurou Jonas, sua inquietação finalmente se acalmando. - Talvez seja isso que eu deva impedir.

- Desculpe, eu não entendi - Peter franziu a testa e avançou em direção a Jonas, avaliando seu rosto, havia algo familiar no rapaz, como se Peter já o tivesse visto antes. - Nos conhecemos antes? Tenho a sensação de já o conhecer de algum lugar.

- Não, eu acredito que não - respondeu simplesmente. Jonas passou por Peter sem esperar uma resposta retornando pelo mesmo caminho que fizera para chegar ao cemitério. Peter permaneceu parado, ainda um pouco confuso, vendo Jonas se afastar.

- Ei, espera! - gritou Peter. - Qual é o seu nome?

Mas o garoto não se virou, continuou andando, determinado, até eventualmente desaparecer em meio a neblina, sumindo da vista de Peter.

***

Os olhos de Aleksander estavam vermelhos e cansados, vazios, perdidos, olhando para o nada, havia círculos escuros em volta dele indicando insônia. Ele parecia terrível, pior do que a última vez que o vira, Mads pensou. Havia uma garrafa de whisky pela metade, em cima da mesa, ao lado da fotografia preto e branco de Regina. Eles estavam sentados ali haviam minutos, sem falar nada um pro outro, o tempo passando. Mads sabia que deveria dizer algo eventualmente, Aleksander era um homem ocupado, ele teve sorte dele ter disponibilizado alguns minutos do seu tempo para atendê-lo, mas ainda assim ele não conseguiu dizer nada, parecia errado dizer qualquer coisa. Pareceu ter sido uma eternidade até que os olhos de Aleksander se erguessem e finalmente olhassem pra ele.

Connected // Jonas Kahnwald x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora