Luz e Escuridão

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08 de novembro de 2019
Winden, Alemanha

Jonas acordou, ofegante, os cabelos grudados na testa, o peito subindo e descendo, ávido por ar. Ele sentou-se no colchão, enquanto se recuperava do pesadelo, a respiração lentamente diminuindo, até retornar ao ritmo normal. Ele ainda podia ver, sentir. Mikkel, o apocalipse, a partícula de Deus, pulsando, crescendo e engolido a todos, a matéria preta escorrendo de seu rosto, ouvidos, por seus dedos até o chão. Seus olhos vagaram pelo quarto quando ele se acalmou, reconhecendo o ambiente familiar e estranho.

Ela já estava sentada, na cama, as pernas cruzadas por baixo das cobertas, os cabelos caindo-lhe por seus ombros, levemente bagunçados. Ela olhava para ele, observando sua respiração irregular, o suor em sua testa, seus olhos por fim a fitando, finalmente a notando ali.

- É isso o que que aconteceu com ele? - disse ela, baixinho, a voz saindo quase como um sussurro, distante, apática, por um instante, quase como se ela não estivesse realmente ali. De certa forma era como ela de fato se sentia - Todo esse tempo, depois de todas as lágrimas, depois de toda essa loucura, ele estava preso, em outro tempo, vivendo outra vida. Sem nunca conseguir voltar para casa.

Jonas não falou nada de imediato, a observando com um olhar perdido, distante, melancólico, quase como se ele tivesse se perdido por algum momento. Ele entendia o sentimento, o vazio deixado para trás, que nunca é preenchido, o qual não importa onde ou quando ele esteja, ele o sente todos os dias.

- Talvez, é possível - respondeu, os olhos sem nunca deixá-la. Ela assentiu lentamente, o olhar voltando-se para baixo.

- Isso é loucura - ela disse, os olhos baixos, balançando a cabeça. - Tudo isso é loucura.

Ele ergueu a mão, colocando-a sobre a dela, em cima de seu colo. A palma firme, reconfortante, familiar e estranha. Ela ergueu o olhar, seu polegar roçando suavemente as costas de sua mão, ela sentiu aquela sensação estranha de novo, o calor subindo seu por seu peito, rosto, enquanto ela se perdia nela. Seus olhos nos seus, os mesmos olhos que ela tinha certeza de que já havia visto centena de vezes antes.

- Eu sei que é loucura - ele disse, a palma firme, suave, contra sua mão, familiar. - Até mesmo eu duvido às vezes. Às vezes eu acho que vou acordar em casa, no meu quarto, que meu pai estará em casa, na cozinha, fazendo o café, preparando panquecas, que nada disso não teria passado de um sonho. Mas eu estou aqui.

Seus olhos se desviaram para suas mãos por um segundo, antes de retornar aos de Jonas. Seus lábios se entreabrindo, sem palavras, sem saber o que dizer.

- Talvez essa sua chance - ela disse por fim. - Talvez você possa ficar aqui, você não é ninguém aqui, não é o que você quer? Um mundo onde você não existe, você pode ser o que quiser.

Ao lado o despertador tocou, a música como sempre saindo da rádio local, indicando um novo dia de aula, tirando ambos do transe. Ela removeu sua mão da mão de Jonas, desviando o olhar.

- Eu preciso ir para a escola - disse ela depois de algum tempo, voltando-se para Jonas novamente. - A minha peça é hoje à noite, eu preciso ir.

Ela se levantou rapidamente, tirando suas roupas do armário, olhando por cima do ombro, para Jonas, que virou o rosto ao perceber seu gesto, antes de trocar de roupa. Ela virou-se quando terminou, vestindo a capa amarela, observando Jonas se levantar e vestir as calças emprestadas de seu pai, desviando o olhar ao vê-lo se vestir.

- Minha mãe sai por volta das 7h15, assim como a Anna, se ela for à escola hoje - disse ao pentear o cabelo, olhando para ele pelo espelho do guarda-roupa. - Meu pai já deve estar na delegacia por conta do desaparecimento de ontem. Por via das dúvidas tranque a porta quando eu sair, você pode descer e pegar o que quiser na geladeira, tomar um banho.

Connected // Jonas Kahnwald x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora