Déjà-vu

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04 de novembro de 2019
Winden, Alemanha

Era o mesmo pesadelo de novo. A floresta, a caverna, a neblina, o silêncio. Ela corria, corria, sua respiração ofegante, seus batimentos cardíacos tão altos que podiam se ouvir por toda a floresta, ainda assim, ela não escutava nada, exceto o som de seus pés pisando nas folhas na floresta enquanto ela corria em direção às cavernas. Ele estava lá, parado em frente às cavernas, parcialmente coberto pela neblina. O olhar desesperado e perdido. Ele aparentava ter a idade dela, usava um casaco verde escuro meio surrado com capuz, sujo, calças também meio surradas, o cabelo na altura dos ombros, uma terrível cicatriz no pescoço, parecia uma marca de corda, ainda meio avermelhada, recente. Algumas vezes ele aparecia diferente, com um capa amarela, igual a que ela tinha. Ela sempre corria em sua direção, um dos braços erguidos, a mão esticada como se tentasse alcançá-lo, como se pudesse impedir. Mas não importa o quão rápido rápido ela corresse, a bala sempre o atingia.

Ele olhou para o peito, uma das mãos tocando o ferimento, Laura finalmente o alcançando, parada sem nem conseguir reagir, ele então cambaleava e caía, Laura tentando segurá-lo antes de cair no chão, inutilmente. O sangue inundava sua camisa, as mãos dela juntamente com as dele tentando inutilmente estancar o sangramento. Ela chorava, seus lábios se mexendo, tentando formar palavras embora nada saísse de sua boca, ele olhava para ela, calmo, enquanto morria, também sem conseguir formar as palavras. Ele então erguia uma das mãos, toda ensanguentada, colocava em seu rosto e sorria, calmamente, aceitando seu destino, enquanto o mundo dela desabava.

Ela acordou, levantando com um pulo, ofegante. Seus batimentos cardíacos estavam acelerados, pequenas gotículas de suor formado se formado em sua testa. Ela sentou-se na cama, passando a mão na testa. Ela já vinha tendo aquele mesmo sonho há algum tempo, sem saber ao certo quando tinha começado. Ela não sabia quem era garoto no seu sonho, no sonho ela sempre parecia conhecê-lo, mas não sabia sequer o seu nome. Laura respirou fundo e se acalmou. O despertador já começado a tocar, o rádio já ligado, tocando a música "Irgendwie, Irgendwo, Irgendwann", a voz do locutor da rádio anunciando o clima nublado e chuvoso, ela olhou para o relógio do despertador. Eram 6h45.

Laura se obtém, arrumou sua cama e saiu em direção ao banheiro para fazer sua higiene matinal. Ela se sentia diferente ao se olhar no espelho do banheiro, enquanto pegava sua escova de dentes, sua pele estava um pouco mais pálida do que o habitual, talvez por conta do clima ultimamente nublado de Winden. O cabelo tinha crescido no último verão, o comprimento agora chegando quase na metade nas costas, ainda continuava bonito. Ela terminou sua higiene matinal e voltou para o quarto para se arrumar para a escola. Laura abriu o armário, tirou uma blusa de manga comprida cinza, uma calça jeans cinza escura e um par de tênis pretos e trocou-se. Desligou o rádio que tocava agora e foi em direção a porta, seus pais já estariam no andar de baixo, na cozinha, preparando o café.

No entanto antes de cruzar a porta ela parou e olhou ao redor do quarto. Havia algo de diferente, uma sensação estranha pairava no ar, Laura pensava, algo que ela não sabia explicar. Era uma sensação estranha de familiaridade, uma espécie de déjà-vu, a música, a face a encarando de volta no espelho, mas ao mesmo tempo era como se esse dia não fosse como os anteriores. Seus olhos se voltaram a foto colada na parede da sua cama, do outro lado do quarto, o menino sorria com seus dentes brancos, meio desregulados, uma expressão genuína de felicidade ao lado garotinha que sorria, banguela. Uma sensação ruim veio em seu peito. Laura balançou a cabeça, ignorando a sensação e saiu do quarto.

O corredor ainda estava silencioso, a porta do quarto da Anna estava fechado, o que indicava que ela ainda estava dormindo. Laura passou o mais silenciosamente possível, sabendo o quão irritada Anna ficaria ao ser acordada, desceu os degraus da escada com cuidado e entrou na cozinha. Sua mãe estava de frente ao fogão terminando de preparar panquecas, seu pai encostado no balcão, com uma xícara de café nas mãos, os dois conversando, a mesa já posta, a música "Heaven Have A Place On Earth" tocando no rádio em cima do balcão. O cheiro de panquecas estava por toda a cozinha, fazendo o estômago de Laura roncar.

Connected // Jonas Kahnwald x OCOnde histórias criam vida. Descubra agora