Capítulo 2 - Cor do pôr-do-sol

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Estávamos novamente no telhado da escola, já que da última vez não conseguimos ver o pôr-do-sol por estar nublado. Yoo Han havia insistido para que voltássemos lá, e não precisou fazer muito esforço para que eu aceitasse. O fim da tarde chegou sem que nos déssemos conta, de tão entretidos que estávamos em mais uma aula sobre cores. Então, quando o sol se aproximou do monte ao longe, fiz menção de me levantar para irmos embora.


– Agora não, espere mais um pouco. – Yoo Han me segurou pela blusa, impedindo a minha saída. Confuso, lancei um olhar repreendedor em sua direção.


– Se não sairmos agora, eles podem acabar nos trancando!


O canto de sua boca se ergueu de forma arteira, me fazendo imaginar se essa não seria justamente a sua intenção ao me arrastar para cá. O garoto, no entanto, em vez de me responder, apenas apontou para o horizonte. Ergui os olhos na direção que ele indicava, perdendo o fôlego diante da visão estonteante. O céu se tingia de tons alaranjados e avermelhados à nossa frente, acima de nós ainda se conservava com um pálido tom de azul, e atrás as primeiras estrelas começavam a despontar onde a cor atingia o azul marinho. Uma risada de satisfação saiu de mim, eu não fazia ideia de onde olhar primeiro, então tentava ver todas as direções ao mesmo tempo.


– Isso é... INCRÍVEL, YOO HAN! Não sabia que um pôr-do-sol era tão colorido! – exclamo eufórico, me levantando para admirar melhor a vista, sendo seguido pelo garoto. Me viro em sua direção, tão feliz que meus olhos se estreitavam como se estivessem de frente para uma luz... O que não deixava de ser verdade.


– Fico feliz que tenha gostado – o garoto sorriu de volta, seus traços marcantes revelando o sorriso genuíno que sempre dava o ar de sua graça desde o dia em que fomos ver o mar. Descobri gostar de quando ele sorria verdadeiramente... Seus lábios e bochechas se coloriam ainda mais, me fazendo lembrar de minha mãe e a descrição lisonjeira que meu pai fazia dela.


Eu também encontrei alguém de lábios vermelhos, pai.


Vermelhos como o pôr-do-sol que se estendia em nossa frente.


– Você sabe o porquê de o céu ficar dessa cor quando está se pondo? – perguntou ele, se virando na direção do que acabara de citar.


– Não, por quê? – pergunto o olhando com curiosidade, à espera de uma nova explicação.


– Os gases da atmosfera tornam mais fácil que o azul se reflita durante quase todo o dia. Mas, quando o sol se põe, a luminosidade dele atravessa uma camada mais grossa da atmosfera, onde a luz alaranjada passa com mais facilidade, por isso enxergamos o céu assim.


– Laranja? Eu errei de cor? Parece vermelho pra mim. – digo confuso, temendo ter confundido as cores. O garoto sorriu, voltando-se para o horizonte. Suas orbes adquiriram por um instante a tonalidade do que ele fitava, parecendo estar em chamas.


– Estamos numa região poluída, a poluição intensifica o tom laranja. Além disso, as nuvens e as partículas de poeira também contribuem para que o céu assuma esse tom mais avermelhado. Você não errou, o céu realmente parece vermelho hoje.


Enquanto Yoo Han dava seu monólogo explicativo, meus olhos de repente foram atraídos para seu rosto de novo. Embora sempre prestasse bastante atenção em todos os ensinamentos passados por ele, eu não podia evitar divagar um pouco ao fitar as orbes cor de caramelo. Elas brilhavam de animação quando começava a falar, e sua cor era a mais vívida dentre todas ao nosso redor... Talvez isso se devesse apenas à nossa conexão como mono e probe, mas...


– O que é que está olhando? Não sou tão bonito quanto você para ficar me admirando. – seu sorriso zombeteiro surge novamente, me tirando de meu torpor.


Ergo a mão, tocando seus lábios levemente com o indicador. O garoto não se esquivou, pelo contrário, pareceu até se inclinar para mais perto de mim. Meu dedo traçou seu arco do cupido, parando no meio do caminho quando sua boca se transformou num biquinho e depositou um beijo ali. Afastei a mão, encarando o local que a beijou. Vermelho.


– Sua... Sua boca...


– O que tem minha boca? – o sorriso novamente... Por que ele tinha que ser tão atraente?


Nossos rostos estavam agora a um suspiro de distância. Ao falar, um podia sentir a respiração do outro, bastaria um de nós se inclinar. Eu queria isso. Ansiava por isso. Mas...


Uma vozinha irritante em minha cabeça me questionava:


"E se só estivermos sentindo esse desejo por causa da nossa conexão? Se não fôssemos mono e probe, será que iríamos gostar um do outro?"


Minhas preocupações imediatamente sumiram quando o garoto em minha frente deu o primeiro passo, atordoando meus pensamentos de um jeito que nem a explosão de cores conseguia fazer. Seu toque era delicado, hesitante e gentil como da primeira vez. E fazia meu coração bater tão forte que silenciava qualquer ruído externo ou interno.


Nos separamos ofegantes, sua boca agora parecia, se isso é possível, ainda mais vermelha. As maçãs de seu rosto tinham sido tingidas de um tom rosado, bem como suas orelhas.


– Que cor é essa? – pergunto tocando sua bochecha febril.


– Um dia você descobre. – respondeu simplesmente, passando o indicador por minha boca da mesma maneira que eu tinha feito com ele. – Vem, já é tarde. Precisamos ir embora.


Caminhamos até a abertura do telhado, descendo a escada sem trocar nenhuma palavra. Sempre fui uma pessoa silenciosa e, embora desejasse ter alguém para conversar quando me sentia solitário, não sabia como agir para quebrar um silêncio constrangedor. Felizmente, aquele não era um silêncio constrangedor. Era confortável, me fazia sentir seguro.


– Essa não.


– O que foi? – havíamos descido o corredor, e Yoo Han subitamente tinha parado na frente da porta que dava acesso ao térreo.


– Parece que acabamos ficando trancados mesmo...

A cor dos seus olhos - Color RushOnde histórias criam vida. Descubra agora