Capítulo 7 - Cor de terno

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Após mais uma sabatina de questionamentos a respeito de minha vida, meu probe e o motivo de eu ter vindo parar ali, à qual consegui me desvencilhar habilmente, os presidiários que agora eram meus novos "colegas de quarto" afinal se cansaram de tentar arrancar alguma informação de mim. Cada um deitou-se em um canto para dormir, incluindo o velho, que agora roncava tão alto que destruía a imagem esotérica de sábio ancião que eu construíra após seus conselhos. No fim, todos ali não passavam de miseráveis almas em pé de igualdade, e eu estava incluso.

Permaneci de olhos bem abertos, sentado na frente da grade e tendo meu rosto amassado sobre a superfície fria da parede. Em algum momento da minha vigília, percebi que as cores haviam sumido, deixando para trás a mesma melancolia de sempre, somada à preocupação com minha tia e... a lembrança de como Yoo Han tentou me defender mesmo depois de eu ter acabado de acerta-lo. Espero que ele esteja bem também...

Com esse pensamento, afinal, consegui cochilar pelo que pareceram alguns minutos, embora certamente tenham se passado horas. Acordei com um policial gritando na frente de meu rosto e abrindo a porta da cela. Confuso e ainda sonolento, encarei o uniforme cinzento do homem enquanto este falava em tom frio:

- Pagaram sua fiança, agora ande logo e saia daqui. - sem me dar tempo de reação, praticamente me chutou para fora, me fazendo andar pelo longo corredor de antes.

Que estranho... Eu só tinha minha tia de parente viva, e ela estava sumida, então quem...

- Yeon Woo! - uma voz conhecida me fez virar o rosto. Franzi a testa, o que aqueles dois estavam fazendo ali?

- Jung Joo Haeng? Kang Min Jae? Onde está...? - pergunto imediatamente, erguendo a cabeça para olhar por cima dos ombros dos dois garotos. Não completei a frase, mas ficou óbvio de quem eu estava falando. Os dois trocaram olhares de forma estranha, apenas um lampejo, mas suficiente para que eu captasse que havia algo errado.

- Mas que desnaturado, fica pensando em outras pessoas em vez de agradecer por termos vindo buscar você! - exclamou Joo Haeng, sorrindo e passando o braço por meu ombro direito. O outro fez o mesmo com o esquerdo, e ambos começaram a me puxar para fora da delegacia.

- Agora você é um homem livre de novo, mas isso não significa que pode ficar faltando às aulas. - Min Jae disse enquanto caminhávamos. Foi então que me dei conta de que não fazia ideia de que horas eram agora.

Olhei para o céu acinzentado e pálido, tentando adivinhar que horas eram. O grande e esbranquiçado sol estava próximo às montanhas ao longe, então devia ser bem cedo ainda. Isso significa que fiquei apenas algumas horas preso. Esses dois não eram ricos como Go Yoo Han, certamente não tinham dinheiro sobrando assim para gastar pagando uma fiança, e mesmo que tivessem, não saberiam de minha prisão a menos que Yoo Han tivesse contado. De um jeito ou de outro, aquele garoto estava envolvido na minha soltura. Mas... Onde ele estava?

Minha pergunta não foi respondida até estarmos na escola. Meus amigos tinham me levado para minha casa, me forçado a tomar um banho e, ignorando meus apelos de não estar me sentindo bem (apenas desculpas para poder ir investigar onde estava minha tia), me arrastaram rumo à escola.

Eu não estava nem um pouco animado para estudar, mas ao menos poderia... Quem sabe, poderia vê-lo. Tinha certeza que era ele quem tinha me tirado da cadeia. Eu só ia agradecer, apenas isso.

Porém, ao chegar lá, percebi que nossa comunicação não ia ser tão fácil assim.

Isso porque, quando entrei na sala, não era apenas Go Yoo Han que estava lá. Era Go Yoo Han, um homem alto e corpulento, e outro homem corpulento e alto. Ambos trajados com ternos cinzentos idênticos, ambos me encarando com ar ameaçador. E ambos próximos a Go Yoo Han, deixando clara qual era sua função ali.

Guarda-costas. Go Yoo Han tinha... guarda-costas. Eu deveria me sentir aliviado com isso, afinal agora seria impossível eu fazer qualquer mal a ele... Mas por que me sentia tão frustrado?


Assim que me viu, seus olhos, que um instante antes de me reconhecer pareciam foscos e sem vida, brilharam e se espremeram num sorriso. O garoto puxou a máscara para baixo, sorrindo enquanto tudo ao seu redor se coloria novamente. Cambaleei diante da explosão de cores, sendo sustentado pelos garotos que ainda andavam ao meu lado, quase como guarda-costas também, embora a diferença entre os meus e os dele fosse cômica. Os ternos que os dois brutamontes usavam, porém, continuaram tão cinzentos quanto antes, como se fossem imunes ao poder da explosão de cores.

Segundos depois de Yoo Han exibir seu rosto bonito, um dos homens de pé ao seu lado abaixou a mão e puxou a máscara do garoto para cima, o assustando como se fosse uma criança pega em flagrante enquanto roubava bolo antes do jantar. Franzi a testa e caminhei para meu lugar, as carrancas dos homens deixavam uma mensagem clara: não se aproxime dele. E foi o que eu, relutante, fiz.

Ao longo do dia, busquei motivos para ter que me virar para trás, ora pegando algo em minha mochila, ora deixando algo propositalmente cair para que eu precisasse inclinar o corpo na direção dele. A cada vez que nossos olhares se encontravam, o garoto parecia sorrir mais, se divertindo com nossa comunicação silenciosa. Em contrapartida, seus guarda costas cinzentos enrijeciam os músculos das faces, me encarando com raiva enquanto não havia nada que pudessem fazer, porque eu não estava, tecnicamente, fazendo nada de errado. Apenas sentia a necessidade de olhá-lo, uma necessidade urgente e irracional que me preocupava, porque quanto mais os grandes homens buscavam maneiras de tirá-lo de meu campo de visão, mais eu tinha o desejo de tirá-lo de perto deles e leva-lo comigo para onde não pudessem encontra-lo.

Os dias se seguiram assim, um, dois, três, com o mesmo padrão. Assim que as aulas acabavam, ele era escoltado para fora sem trocar uma palavra com ninguém, e sumia até o dia seguinte. Até para o banheiro os dois cães de guarda iam, e esperavam do lado de fora sem deixar mais ninguém entrar até que Yoo Han saísse. Era irritante não poder falar com ele, mas todos os dias, sempre ao início da aula e no fim dela, o garoto dava um jeito de eu ver seu rosto, talvez me presenteando com um mundo colorido como forma de consolo para nossa distância. Me surpreendi pensando, certo dia, no quão esse ato era gentil da parte dele. E no quanto isso era insuficiente para me fazer feliz... Porque as cores, mesmo belas e vibrantes, não tinham a mesma graça assim. Eu não queria vê-las sozinho.

Nas horas vagas, eu investigava por conta própria o desaparecimento de minha tia, já que, aparentemente, a polícia não estava disposta a ajudar. Refiz os passos dela, fui até seu trabalho e aos locais que ela costumava ir, mas ninguém tinha nenhuma informação relevante a dar. Uma horrível sensação de solidão se apossou de mim. Primeiro minha mãe, agora minha tia. Nem mesmo o fato de ao menos poder ver Yoo Han me consolava. Eu precisava estar perto dele. Falar com ele. E ver as cores do mundo ao lado dele.

Foi no quarto dia, quando eu já vivia no piloto automático, que o padrão mudou.

Ao entrar na sala, a ausência dos dois homens de terno cinza e, por consequência, de Go Yoo Han, me fez sair de meu estado robótico. Corri até a mesa dele, como que buscando pistas, então Joo Haeng me acertou com uma bolinha de papel, sorrindo inocentemente no instante seguinte. Revirei os olhos, pegando o papel e o abrindo.

Dentro, a caligrafia impecável do garoto dizia:

"Combinei de estudar com o Yoo Han depois da escola na biblioteca perto da sua casa. O avô do Min Jae disse que podemos despistar os guarda-costas lá."

Ergui o olhar do papel, encarando meus dois amigos com um sorriso. Veremos se fazem tão bem assim seu trabalho, brutamontes de terno cinzento.












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Nota da autora: comecei a traduzir fanarts e hqs de Color Rush, dêem uma olhadinha no meu perfil se puderem🦋

A cor dos seus olhos - Color RushOnde histórias criam vida. Descubra agora