– Você não está falando sério! – exclamo irritado, o empurrando da frente da porta e forçando a maçaneta – Não, não, não! Não podemos ficar presos aqui!
– Mas estamos. – respondeu ele simplesmente.
Me virei em sua direção, ficando mais irritado ainda quando o vi sorrindo, como se estivesse achando toda essa situação muito divertida.
– Você realmente não percebe a gravidade da situação?
– Não. – retrucou, erguendo o queixo de forma petulante.
– Se você não der notícias, sua família vai pensar que eu te raptei de novo! Ou melhor, de novo não, porque, que eu me lembre, EU fui o sequestrado da última vez.
– Você não parecia exatamente insatisfeito em fugir comigo... – Yoo Han ergueu um canto dos lábios, zombando de mim. – Não fique tão alterado, não é como se tivéssemos sumido por dias. São só algumas horas, ninguém vai sentir nossa falta.
– O que pretende, ficar preso aqui a noite toda? Me ajude a chamar por ajuda!
E, dito isso, me virei novamente em direção à porta para começar a gritar pedindo socorro, mas antes que qualquer som saísse de minha boca, esta foi tapada por Yoo Han, abafando minha voz. Tentei lutar contra, parando apenas quando o garoto sussurrou:
– Se nos encontrarem aqui, vão perguntar onde estávamos e provavelmente seremos suspensos. É isso que você quer? – balanço a cabeça negativamente, me desvencilhando de sua mão e perguntando ríspido:
– O que vamos fazer então? Não parece ter ninguém na escola agora de qualquer forma!
– Eu sei como...
Todavia, antes que Yoo Han pudesse concluir sua frase, ouvimos sons de passos. Bastou uma troca tensa de olhares para que a mensagem fosse passada, caminhamos o mais silenciosa e rapidamente possível pelo corredor.
Sabia que era inútil lutar contra sua imprevisibilidade, e agora, com todo o meu corpo tenso diante da perspectiva de sermos pegos e precisarmos dar explicações constrangedoras sobre o porquê de estarmos aqui, simplesmente o segui, já que parecia saber o que estava fazendo.
– Quem está aí? – gritou uma voz, certamente do zelador da escola. Barulho de chaves, e a porta que nos daria passagem para a liberdade foi aberta em algum lugar atrás de nós... Mas teríamos que passar pela pessoa que a abriu se quiséssemos alcançar a liberdade do mundo exterior, e sermos vistos pelo zelador estava fora de questão.
O barulho de passos soando cada vez mais perto... Apertei forte a mão que segurava, vendo o garoto acariciar a minha com o polegar na tentativa de me acalmar. Quem quer que fosse, parecia prestes a virar o corredor em que estávamos...
– Por aqui! – sussurrou Yoo Han, me puxando para dentro de uma sala de aula qualquer e fechando a porta no instante que uma sombra passava pelo lado de fora.
Me deixei cair no chão, o coração a mil por causa da adrenalina. Encarei carrancudo o garoto sorridente, era óbvio ele estava se divertindo com a situação.
– Tenho certeza de que podemos encontrar uma solução viável para esse problema... – uma voz masculina falou do lado de fora, ao longe.
– O que pretende fazer, matar meu filho? – vi Yoo Han arregalar os olhos ao meu lado na penumbra.
– É a minha mãe... – sussurrou em meu ouvido, suas sobrancelhas erguidas e quase se unindo – O que ela está fazendo aqui...?
– Minha senhora, não podemos simplesmente expulsá-lo da escola, o garoto não fez nada de errado...
– AINDA! – gritou ela com a voz alterada – Eu me certifiquei que esta espelunca recebesse a maior parte das verbas da educação, espero não me arrepender dessa decisão. – uma pausa, certamente ela havia feito algum gesto ou mostrado algo, já que o tom do diretor ao responder era temeroso e polido.
– Senhora Go, seja razoável...
– Se aquele Mono repugnante encostar um dedo no meu filho...
– Vamos. – Yoo Han disse de repente, se levantando com uma expressão assustadora.
– Nem pense nisso, o que vai fazer? Afronta-la? – me levanto, segurando seu braço para impedi-lo de sair – Ela é sua mãe e... – abaixo a cabeça, evitando seu olhar – Você sabe que ela tem razão em se preocupar.
– Ei, não diga isso! – ele estendeu a mão, erguendo meu queixo para encara-lo – Escute, eu sei que você jamais me faria mal.
– Não pode garantir isso quando nem mesmo eu...
Não pude terminar a frase, porque novamente minha boca foi privada de proferir palavras pela mão alheia, que a envolveu quando o som de passos se intensificou, parecendo estar vindo em nossa direção. Num aceno, ele apontou para a janela.
– Está louco? – balbuciei, praticamente mexendo apenas os lábios. Mas, como estávamos próximos, ele pôde escutar perfeitamente.
– Não é alto. – respondeu da mesma maneira, me puxando até lá.
Abrimos a janela, que milagrosamente foi silenciosa ao ser escancarada. Abaixo de nós havia um grande latão de lixo, feliz ou infelizmente, cheio.
– Eu vou primeiro. – Informo passando o corpo pelo parapeito enferrujado da janela. Bom, ao menos eu achava que estava enferrujado, afinal o efeito da explosão de cores já tinha passado há tempos e Yoo Han estava de máscara.
Não era um bom plano, mas era o único que tínhamos. Então, quando estava dependurado apenas pelas mãos na base da janela, cometi o erro de olhar... Não para baixo, o que me causaria vertigens e temor pela queda que iria sofrer... Mas para cima, onde o idiota do Yoo Han estava... SEM MÁSCARA!
– YOO HAN! – exclamou assustado, sentindo o mundo girar numa confusão de verde, amarelo, azul, violeta... e o alaranjado da ferrugem no parapeito da janela.
Aquele tom de laranja foi a última coisa que vi antes de perder os sentidos e despencar do segundo andar.
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A cor dos seus olhos - Color Rush
RomanceNovos sentimentos e emoções afloram como o carvanal de cores que desponta em minha frente a cada vez que nossos olhares se cruzam. Novas descobertas, temores, dúvidas. A ameaça de um perigo iminente... Talvez nossos problemas estejam apenas começand...