Capítulo 6 - Cor de grades e azul desbotado

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Sentados na sala de espera da delegacia, aguardávamos nossa vez de ser ouvidos enquanto eu lentamente entrava em um colapso nervoso. Minha perna tremia violentamente contra o chão, e eu era incapaz de me manter quieto por mais de três segundos. Após a quarta vez que me levantei sob o pretexto de encher um copo plástico com água (aliás, o quarto copo que eu destruía em tiras com os dentes), Yoo Han me fez sentar na cadeira dura do lugar e se posicionou em minha frente, se abaixando e erguendo o rosto para me encarar.


– Tenta se acalmar, Yeon Woo, a polícia vai achar sua tia, não se preocupe. – ele segurou minhas mãos, fazendo uma leve carícia nelas. – Respira fundo, conta até três.


– Um... dois... As cores, Yoo Han, as cores estão sumindo, eu preciso ver as... – o desespero causado pela notícia do sequestro de minha tia, somado à euforia de ter o efeito do color rush passando, fez com que eu não conseguisse medir a força com que meu braço se ergueu para tirar a máscara alheia.


– Ai! – o garoto em minha frente reclamou, quando teve o olho esquerdo acertado por meu dedo acidentalmente. Foi o suficiente para que eu me recuperasse de meu breve torpor, sacudindo a cabeça para me concentrar. Não podia surtar nem desmaiar ali. – Yeon Woo, acho que era melhor a gente não fazer isso aqui, você pode acabar passando mal... – disse ele, esfregando o olho machucado e expondo em palavras justamente o que eu estava pensando.


– Certo, você tem razão. O seu olho, ele...


– Estou bem, foi melhor que o tapa da outra vez. Estamos progredindo, quem sabe da próxima em vez de um soco ou um cutucão no olho eu ganhe um beijo? – acabei sorrindo ligeiramente com o comentário. Ele estava tentando me distrair de toda essa tensão, então me senti grato por isso.


– O delegado vai ouvi-los agora. – um policial apareceu de supetão, nos convidando a entrar.


Não podia dizer que era um dos meus lugares preferidos no mundo... Quando minha mãe sumiu, como não havia ninguém além de minha tia para cuidar de mim, tive que vir com ela todas as vezes que esta prestava depoimento... Agora, nem mesmo ela estava aqui.


Ao menos Yoo Han estava... Eu certamente estaria duas vezes mais perdido se estivesse sozinho... Se estivesse sem ele.


Um homem de bigode prateado e longas sobrancelhas que quase se uniam em uma só estava sentado atrás de uma mesa. Parecia levemente familiar, talvez eu o tenha visto em alguma das vezes que estive aqui no passado. Ele estava carrancudo e irritado, provavelmente por estarmos atrapalhando seu plantão noturno. Olhando-nos de cima a baixo, indicou as cadeiras em sua frente com a cabeça.


– Boa noite, em que posso ajudar?


– Gostaríamos de notificar um sequestro. – Yoo Han começou, tocando minha perna por baixo da mesa para transmitir confiança.


– Pois bem, sequestro de quem? – ele não parecia estar nos levando muito a sério, até que eu abri a boca e disse o nome de minha tia:


– Yoo Yi Rang. – pude ver suas grossas sobrancelhas se erguerem instantaneamente, mas retornaram ao local inicial no segundo depois. Olhei discretamente para Yoo Han, perguntando com o olhar se ele também tinha reparado. Enquanto o homem fazia suas anotações, o garoto ligeiramente balançou a cabeça, confirmando que também notou a expressão estranha.

A cor dos seus olhos - Color RushOnde histórias criam vida. Descubra agora