Capítulo 4 - Cor da água

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Eu não conseguia respirar. Minha visão estava turva e... azul? Meus olhos ardiam, os pulmões imploravam pelo ar que não tinham, e quando abri a boca, engoli uma enorme quantidade de água. Tentei tossir, bolhas preencheram meu campo de visão e eu perdi o pouco ar que ainda conservava dentro de mim. Era isso, eu estava debaixo d'água!


Tentei nadar para cima, para o lugar de onde vinha a luz que tornava o ambiente azulado... Mas meus braços e pernas estavam firmemente atados por cordas. A sensação de desespero começou a me consumir à medida que minha cabeça doía com a falta de ar, eu tentava puxar em vão e só me afogava mais... Então, de repente, eu vi meu reflexo na água.


Mãe?


O rosto de minha mãe... EM MIM?


– Yeon Woo, acorde! – abri os olhos ofegante, me inclinando pra frente e fazendo ânsia de vômito para aquele monte de água sair. Mas, obviamente, não havia nada, então nada saiu a não ser um ruído vindo de minha garganta.


As mãos fortes de Yoo Han me seguraram quando desfaleci sobre o lixo em que estávamos. Ele apoiou minhas costas em seu peito, arrumando meus cabelos que grudavam na testa devido ao suor.


– Você não estava respirando... Eu fiquei com medo de que tivesse se ferido na queda. – comentou ele. Virei o rosto com dificuldade, notando a culpa e a preocupação incutidas no do outro. Esbocei um fraco sorriso, buscando tranquiliza-lo.


– Eu estou bem, foi apenas um pesadelo. Vamos, temos que sair daqui.


– Não, descanse mais um pouco. Já vamos, mas primeiro se recupere.


Assenti fracamente, fechando os olhos e deixando minha cabeça cair sobre seu peito enquanto puxava o ar que antes tanto me faltara. Aliás, não faltou a mim... Mas sim a minha mãe, aparentemente. Por que tive esse sonho, e por que ele era tão vívido? Quase parecia... uma visão. Será que minha mãe estava em algum lugar... amarrada e dentro d'água?


– Você ouviu isso? – Yoo Han perguntou de repente. Senti seu corpo ficar tenso – Vamos. Tem alguém vindo.


Ele saiu sem problemas do lixo, descendo e me estendendo a mão. Quando pus os pés no chão, tudo girou e tive que me apoiar na superfície metálica onde tínhamos caído, o que tornou óbvia minha incapacidade de sair dali por conta própria.


– Suba nas minhas costas. – Yoo Han se posicionou em minha frente, abaixando o corpo e colocando sua mochila na frente de si.


– O que? Não! Nem pensar, eu...


– Anda logo, Yeon Woo! Você não é pesado, eu já te carreguei pra enfermaria uma vez, lembra?


Vendo que eu ainda me conservava parado, ele agarrou meus braços e passou por cima de seus ombros, me obrigando a enlaçar as pernas em sua cintura para não cair. O garoto seguiu comigo em suas costas sem dificuldade, transpondo os limites da escola em pouco tempo de caminhada. Afinal longe dali, pudemos respirar aliviados, parando em uma praça para descansar.

A cor dos seus olhos - Color RushOnde histórias criam vida. Descubra agora