Capítulo 1

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A reunião não corria muito bem, na casa do rio. Tensão exalava pelos poros de todo o círculo íntimo, sentado à mesa, enquanto todos tentavam desvendar o mistério envolvendo o quarto tesouro da morte. Não havia pistas suficiente, exceto aquela meia visão de Nestha sobre algo que se assemelhava a osso e ela havia perdido a maior parte de seus poderes arrancados do caldeirão, então não conseguia mais força suficiente para rastreá-lo, por mais que tentasse, como o fizera algumas vezes. Ninguém na mesa ousava pedir que Elain tentasse, ninguém sequer olhava em sua direção enquanto pensavam. Para todos, ela era apenas, sensível demais, delicada demais, fora raptada pelo caldeirão, não tinha treinado como Nestha, nem fisicamente e nem com seus poderes. Era arriscado demais, ao que todos pareciam pensar.

- Eu poderia... - Tentou Elain..., mas antes que ela pudesse terminar sua frase, foi interrompida por Nestha.

- Não. - Todos observavam paralisados para Ness, uma raiva contida e uma preocupação intensa tomava seus olhos. Rhysand ajeitou a postura na cadeira e se voltou para a jovem

- Elain... Você não está preparada, não tem treinamento... - Feyre assentiu, logo em seguida de Cassian.

- Mas eu tenho... - Nestha a cortou outra vez com um não ainda mais alto.

- Isso está fora de cogitação. - Ela olhou para Feyre pedindo apoio e a irmã assentiu outra vez, com Nyx nos braços.

Azriel apenas encarava Elain. O mestre espião parecia usar todos os seus anos de experiência para calcular. Talvez houvesse uma chance de Elain conseguir encontrar o tesouro e sair viva... Um silêncio mortal se estabeleceu no ambiente.

A Archeron do meio assentiu.

- Tudo bem. Então, se não tenho uma função aqui... peço licença para me retirar. - Antes de esperar uma resposta, Elain arrastou a cadeira e levantou. Sem nem olhar para trás ela subiu as escadas delicadamente, seus passos nem faziam barulho no chão para ouvidos destreinados. Azriel sentiu uma pontada no peito com a dor na frase dela.

Ela esperava que, em breve, os outros encerrassem a reunião e saíssem para que ela pudesse enfim ficar em paz, seus passos silenciosos, a moviam de um lado para outro em seu quarto iluminado e com flores, era como se suas entranhas estivessem em ebulição.

Elain não podia precisar quanto tempo passara enquanto remoía seus pensamentos. Raiva, decepção, tudo junto, sentimentos que ela quase nunca se permitia remoer, sensações que ela sempre, empurrava para o fundo de sua mente e trancava a chaves, pois não queria magoar ninguém, mas ali, agora tudo queria sair, era como uma barragem rompendo. Eles não confiavam nela. Sua corte. Sua Família.

A cabeça dela ainda parecia um turbilhão quando percebeu que os sons na sala haviam cessado. Por isso, ela decidiu sair do quarto e ir para a cozinha, estava muito estressada com tudo aquilo e precisava extravasar. Ninguém acreditava que ela era capaz de ajudar a encontrar o quarto trove, todos queriam protegê-la por acreditarem que ela era fraca. Todos pareciam esquecer que até as rosas possuem espinhos para se proteger, e Elain não era diferente, ela não estava inerte, vinha treinando com as gêmeas furtividade e o mínimo do combate físico. Ela poderia se proteger, mas ninguém a escutava, quando tentava falar, ninguém a ouvia de verdade. Ela se sentia enclausurada, presa em uma bolha, de onde não conseguia sair, não conseguia respirar...

Elain, sabia que o único modo de tentar se livrar dessa confusão de sentimentos era cozinhando. Seu segundo refúgio favorito. Onde seus pensamentos poderiam ser libertos e dissolvidos, transformados em comidas deliciosas. A cozinha era como o jardim, outra válvula de escape para suas frustrações, mas na cozinha era diferente, ela poderia escolher fazer um pão e sovar a massa, descontando toda sua frustração naquela função. No jardim não tinha como, corria o risco de estragar suas preciosas flores, e hoje era um dia em que a cozinha seria mais necessária que o jardim.

Ao passar pela porta da sala em direção a cozinha, Elain reparou que todos já haviam deixado a casa há um tempo, a julgar pela lareira em cinzas. Colocou seu avental e foi ver do que precisava para fazer um pão ou bolo, talvez os dois, qualquer massa que pedisse por sua força. Ela recolheu cada ingrediente e os depositou na bancada, reparando em uma garrafa de vinho tinto fechada, largada lá em cima, alguém, provavelmente Mor ou Cassian, havia a esquecido ali, até ambos e Feyre eram os que mais bebiam, mas Feyre estava amamentando Nyx.

Elain avaliou a garrafa. Era um vinho caro, provavelmente da reserva especial do cunhado. Ela pegou a garrafa e se dirigiu para a adega, preparada para guardá-lo. No meio do caminho ela hesitou. Parou, pensou um pouco, girou nos calcanhares e voltou para a cozinha, buscando uma taça nos armários. Já que não poderia se arriscar na missão, e ninguém estava em casa naquele momento, ela pensou que uma taça de vinho seria uma companhia bem-vinda, apesar de não cultivar o hábito de beber, associado ao fato de ela sentir um pouco de medo da bebida, principalmente devido à situação vivida por Ness.

Elain murmurava uma música enquanto organizava os ingredientes e decidia o que ia fazer, dando pequenas bebericadas no vinho. Um pão e um bolo. Isso, tinha tempo e estresse o suficiente para ambos.

Então ela começou a preparar o pão, juntando todos os ingredientes e mexendo até a massa virar uma bolota grudenta. Ela a jogou na bancada enfarinhada e foi adicionando mais farinha aos poucos, enquanto a massa delicada envolvia suas mãos e se misturava com o trigo, até estar em ponto de sovar. Elain começou a canalizar todo o estresse que a reunião de mais cedo havia causado, movimentando com força a massa para frente e trazendo de volta até si, para dar ponto, os pensamentos foram se esvaindo e a irritação foi se as lágrimas foram caindo. Ela fez uma breve pausa para secar o rosto e virou a taça de vinho em um gole só.

Ela continuou o trabalho, e quando a massa chegou ao ponto, ela colocou-a em uma forma para descansar. Dessa vez ela encaminhou-se para a despensa buscar mais vinho, pois ele era essencial para a próxima receita. O bolo seria de abacaxi ao vinho que havia visto em uma doceria, alguns dias atrás e ficará com muita vontade de fazer. Antes de começar a preparar a receita seguinte, ela pegou sua taça vazia e encheu novamente com o vinho aberto, e a virou num gole só, outra vez, ficando um pouco zonza. "Um brinde a garota patética e presa em uma cozinha", pensou ela enquanto erguia a taça para enchê-la de novo, tomou 3 goles, antes de preencher novamente e voltar a atenção para a receita. Percebeu que faltava a batedeira, guardada na prateleira de cima da despensa, onde ela não alcançava, então ela pegou uma cadeira e subiu sem perceber que alguém entrava na cozinha.

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