Não chore, ou chore, o que te fizer sentir confortável

Eu estou cansado também

Não há nada mais a dizer, vamos dar uma trégua

Porque eu realmente não quero ir dormir assim


    Era mais um dia de trabalho no escritório Morrison. Adam e Leona estavam ocupados em desenvolver a história dos personagens, quando, Leona teve uma ideia que ficou meio insegura de sugerir.

    —Eu pensei em um detalhe, porque, o que acontece. A nossa protagonista, Donatella, ela tem o sobrenome de solteira da mãe, mas, sendo assim, e o pai dela? —Leona conectou os fatos.

    —Bem, ela só não deve ter pai vivo, ou algo assim. Não é importante. —Adam desdenhou.

    —É claro que é! Você realmente não sabe escrever um bom roteiro sentimental. A pessoa que tem o pai e a mãe e um bom relacionamento com ambos, carrega um legado dos dois, um lembrete consigo. —Leona explicou, animada. —Por exemplo, eu, não sei se você lembra, eu usava um pingente naquelas pulseiras que eu tinha na adolescência, que tinha um N, do nome da minha mãe, Noelle, e um T, de Trevor, o nome do meu pai. É natural e uma tradição familiar, e a gente tem que dar um motivo pra Donatella não ser próxima do pai, ou honrar a fase de liberdade da mãe, e porque essa fase de liberdade da mãe é importante e... é, tô falando demais. —Leona comprimiu os lábios num meio sorriso.

    —Não, gosto de te ouvir falar. É que eu nunca trabalhei muito com isso, sendo experiente na área, fique á vontade para propor. —Adam sorriu para ela.

    Mas no fundo, era tudo sobre um dos motivos que fez Adam se encantar totalmente por ela. Leona era de fato inteligente, e não em um único assunto. Por ser inteligente, quando ela explicava algo que dominava , costumavam a chamar de arrogante, metida, o que inevitavelmente a fazia que ela se reprimisse.

    Mas ah, Adam amava sua garota gênia falando empolgada do que ela dominava.

    —Talvez, não sei, me diz o que acha, se ela fosse filha de pais separados, certo? E o pai se separou, traiu a mãe, e fugiu com a outra mulher, levando uma parte do império da família, né? Que eles eram empresários e tal. —Leona contou sua ideia —Ai, a Donatella se afastou da família, mas tá voltando pra consertar os erros do pai e se sente responsável pela família dela na Itália. Que tal?

    —Isso é... incrivelmente específico. — Adam concordou, assimilando a ideia. —Leona, você tocou nesse assunto por alguma razão específica?

    —É a sugestão do backstory dela, só isso... —Leona explicou e desviou o olhar —Pode deixar que essa parte eu desenvolvo, entendo melhor disso.

    —Como assim você desenvolve um drama de família? —Adam questionou, confuso. —Sua família sempre foi família de comercial, tudo tão perfeito. Quer me contar alguma coisa?

    —Não somos amigos, Adam. Só me diz se gostou da ideia logo. —Leona revirou os olhos, entediada. No fundo, não queria se pôr em situação vulnerável na frente dele.

    —Me diz o que aconteceu, princesa. —Adam pediu,  com um olhar atencioso para ela. —Isso ainda funciona pra te convencer?

    —Funciona. —Ela suspirou e riu, se dando por vencida. —Acontece... uns dois anos depois que eu fui para a América, meus pais se separaram. Ele, engravidou uma mulher qualquer de Yorkshire e foi embora, levando metade do dinheiro da minha mãe. O que foi bem ruim, porque a Joanne, filha da Lauren, era tão novinha.... elas passaram por tanta coisa ruim, mas eu não pude estar aqui pra ajudar. É bom que, minha irmã voltou a trabalhar, a Jo também, mas... pensar que eu tenho tanto dinheiro e devo ter usado uns duzentos dólares com elas.

    —Mas Leona, isso não é sua responsabilidade.—Adam argumentou, em defesa dela. — Você era tão nova, tinha só 20 anos, estava vivendo o seu momento de produzir o filme da vida de Leona Marie Durant. O filme dos outros, por mais que queira opinar, assistir, até, comprar num streaming, mas você não participa do filme dos outros.

    —Mas eu poderia ter feito isso ser mais leve, entende? —Leona contradisse, e seus olhos estavam cheios de lágrimas que ela vinha tentando controlar.

    —A questão, Leona, é que podemos ser os protagonistas dos filmes das nossas vidas, mas sabe o que acontece? Não somos os diretores, não desse filme. —Adam explicou, pacientemente —Somos apenas os protagonistas. Dirigidos por... alguém? Mas vivemos a história criada por alguém  e resta á nós aproveitarmos essa história como podemos, e fazer o que está ao nosso alcance.

    —Droga, porque sabe sempre o que dizer? Seu irritante. —Leona cruzou os braços como uma criança birrenta, o que o fez rir. —Mas você tá certo, a gente não pode seguir tudo nos trilhos, né?

    —O trem tem que descarrilhar hora ou outra. E não necessariamente descarrilhar e cair numa ribanceira, mas, talvez ir pra um caminho mais bonito. —Adam sorriu para ela, apoiando o rosto na mão. —Mas, não se sinta culpada, tudo bem?

    —Tá bem. —Ela imitou o gesto dele e sorriu mais aberto, com um olhar terno pra ele.

    —E se quer saber, Leona, quando ganhou seu primeiro Oscar, foi um evento na cidade. —Adam exagerou, a fazendo rir, sem querer, algumas lágrimas caíram de seus olhos. —É sério, a primeira grande celebridade de Birmingham, todo mundo ficou muito orgulhoso.

    —Isso me deixa bem feliz. —Leona enxugou o canto dos olhos. —Todo mundo mesmo? —Ela arqueou uma sobrancelha, o analisando.

    —Bem, eu não vi o seu filme, mas, saber que eu já fui a pessoa mais próxima da grande diretora Leona Durant, já é motivo de muito orgulho. —E então, aquele olhar apaixonado de novo, do mesmo que Adam não tinha ideia do efeito, e fazia Leona amolecer. —Quer saber? Ponha esse plot na Donatella, o quanto mais humana e mais você que ela for, será perfeito.

    Constrangida, Leona voltou sua atenção ao trabalho. Na sala, sempre tinha alguma música tocando, já que, o dono do lugar odiava o silêncio. Naquele momento, Ex-factor da Lauryn Hill tocava na sala.

    —It could all be so simple... but you rather make it harder. —Leona cantarolou, mordendo a ponta da caneta.

    —Gosta de Lauryn Hill? —Adam perguntou, erguendo o olhar para ela.

    —Demais, principalmente essa música, é tudo. —Leona afirmou, procurando coragem pra completar a fala. —Sabe que, essa música me lembra você?

ONLY FOR POWER {Shortfic}Onde histórias criam vida. Descubra agora