Episódio 1

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A nossa troca de olhares deve ter durado, no máximo, cinco segundos. E foi durante esse tempo que percebi: apesar de muitas coisas estarem nitidamente diferentes, os olhos tristes continuavam ali. Eles ainda eram os mesmos. Estavam intactos.

O Rodrigo, ao contrário do que eu esperava, não desviou o olhar; muito pelo contrário, ele parecia nem pretender.

Na minha cabeça, cada episódio da nossa história se fazia presente. Inclusive, os últimos...que, definitivamente, eram mais recentes do que deveriam ser.

Ao concluir isso, uma súbita raiva me consumiu; e sem ao menos tentar parecer racional, balbuciei qualquer coisa para a Fani (que ainda estava bem ali, assistindo tudo de camarote) e comecei a andar.

Sem olhar para trás.

Decidi que precisava urgentemente de uma água! Ou melhor, de um drink. Dos bons!

Então, rumei para a área externa do salão, a onde tinha um barzinho improvisado de frente com a churrasqueira. Mas antes mesmo de conseguir chegar na porta...

"Priscila? O que aconteceu?"

Era só o que me faltava, mesmo! Logo no dia do casamento deles, a Fani e o Leonardo resolveram ficar fiscalizando para onde eu ia, para quem eu olhava...

Respondi um "nada" prontamente e continuei andando.

Eu não tinha dúvidas de que o Léo sabia que sim, havia acontecido alguma coisa, ou melhor, muita coisa; mas se tem algo que sempre admirei nele, era o fato dele jamais insistir quando, nitidamente, a última coisa que se quer, é conversar.

Quando finalmente cheguei ao bar, agradeci aos céus por estar sem fila e, prontamente, pedi uma caipirinha de morango.

Desisti da ideia de um bom drink assim que vi aquelas frutinhas!

E enquanto eu aguardava (tentando me recompor) voltei a observar aquela festa:

Ainda era meio inacreditável estar ali; jamais desacreditei do amor daqueles dois, e nem por um instante, consegui enxerga-lós com outra pessoa. Mas o destino havia me deixado meio descrente há uns bons anos...então foi um choque receber aquele e-mail do Léo, aquela carta da Fani e, logo em seguida, o convite!

Ainda assim, o sentimento que me predominava era uma imensa gratidão em fazer parte do "final feliz" daquele filme que comecei a assistir ainda adolescente.

Pelo menos alguma coisa daquela época ainda era tão certa quanto um dia já foi.

Então me senti mal ao constatar que em questão de minutos, por probleminhas meus, havia tratado ambos tão mal. Eu já estava levantando para caçá-los e me desculpar, quando a caipirinha chegou.

Mas não foi o garçom que a trouxe até mim.

"Juro que precisei reunir toda minha coragem para vir até aqui." Ele começou, colocando a bebida na mesa, "você, melhor do que ninguém, sabe que odeio situações constrangedoras." Eu já ia retrucar, dizendo disso eu não tinha dúvidas, mas antes que conseguisse, num tom de voz mais baixo, o Rodrigo praticamente cuspiu as palavras:

"Da última vez, eu realmente fugi. Mas agora, será que dá pra gente conversar?"

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