"Priscila, eu preciso que você me escute com toda atenção do mundo. E não surte! Pelo menos não enquanto eu estiver falando."
Surtar? Pra começar, nem entendendo o que a Samantha estava fazendo ali quase duas semanas
antes do meu irmão e do meu sobrinho, eu estava.No dia em que liguei avisando que o Rodrigo não havia aparecido, na mesma hora ela comunicou que adiaria sua passagem. Cansei de explicar que não precisava, que estava tudo bem (o que era uma completa mentira) - mas minha cunhada, como sempre, foi persistente - e convincente.
Por isso estávamos ali, saindo do aeroporto e indo para o meu antigo - mas ao mesmo tempo novo - apartamento. Durante o trajeto, apesar de toda curiosidade que me dominava, foi impossível não pensar que mesmo tendo morado um bom tempo em Orlando, com o Patrick, era como se eu nunca tivesse ido embora da cidade...
Talvez, de certa forma, eu sempre soube que voltaria a NY. Que nem Orlando, nem o Patrick, eram a minha verdadeira casa. Meu verdadeiro lar.
Meu devaneio durou bem pouco. A Samantha continuava me implorando para não brigar com ela, e se desculpando (por algo que até então eu não fazia ideia do que era) e dizendo que fez aquilo por achar que era o melhor pra mim.
"Você estava tão feliz! Finalmente recuperando o brilho nos olhos. Depois de tantos esforços do Patrick eu realmente achei que ele estava conseguindo te conquistar e..."
Ela? Falando do Patrick? Depois de me dar a maior força para terminar o noivado? Aquilo com certeza merecia minha atenção.
"Você está me assustando, Sam..."
"É pra ficar assustada mesmo." ela enfatizou. "E brava também."
Porque ela iria querer me deixar brava logo agora? Eu já não estava triste e desiludida o suficiente?
E foi exatamente isso que eu disse, já sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.
Eu não tinha admitido até então. Mas ela me olhou como se nem precisasse.
"Interferi na sua vida, Pri. Eu não tinha esse direito."
Parei o carro no primeiro acostamento que encontrei. Ainda estávamos longe do nosso destino e eu sentia meu estômago revirar - poderia até ser fome, mas depois da última frase da minha cunhada, já nem importava mais a razão: eu só precisava focar completamente nela. E no queria tinha pra me falar.
E foi quando eu soube.
Abril, um ano que estávamos separados. Me lembro como se fosse ontem daquele dia - porque eu também o vi. Pra falar a verdade, senti os olhos do Rodrigo em mim...e cansei de explicar isso para a Sabrina durante algumas noites de espetáculo, mas ela criou a fixação de que era coisa da minha cabeça, ou melhor, um bloqueio criado para - novamente, palavras dela - não ceder "aos encantos" do Patrick.
Automaticamente me lembrei que aquela era uma data inesquecível por outro motivo também. Pelo visto, de alguma forma, o Rodrigo e o Patrick eram mais sincronizados do que desejariam...pois ambos tiveram a ideia de resolver coisas no mesmo dia - e ao mesmo tempo:
Enquanto um queria trazer tudo que custei a deixar para trás à tona, o outro vinha com doses do passado, mas ao mesmo tempo, um futuro...e o pedido de namoro, é claro. Fora o buquê imensamente surpreendente (e grande).
Me lembro que, nos segundos que demorei para aceitar, o Rodrigo nem se passou pela minha cabeça - na verdade, o fantasma do passado que me visitou nesses instantes, foi a Fani. Me lembrei dela quando chegou em LA, cheia de suporte, atenção, carinho e amor, graças ao Christian. Apesar de ter visto, durante seis meses, que a Fani e o Léo possuíam o mesmo amor que existia entre eu e o Rodrigo, eu não conseguia entender como a minha amiga não havia se entregado a um romance com o ex!
Por um tempo enxerguei a Fani como alguém que, em alguns aspectos, fugia da felicidade...e vendo o Patrick ali, na minha frente, como um dia (ou as vezes até muitos!) o Christian esteve, declarei:
Não é ele. Mas pode vir a ser...
Mas a verdade é que ninguém nunca nem poderia vir a ser. Porque aquele lugar, posto, ou seja lá como chamam, já estava ocupado por alguém há anos...
"O buquê no lixo..."foi quando me lembrei.
Entrei em estado de choque. E nem sei por quanto tempo permaneci estática; mas foi tempo suficiente para a Samantha trocar de lugar comigo e começar a dirigir, se virando com o GPS mesmo.
A única coisa que saia da minha boca era a palavra "repete". E então ela contava e recontava tudo que havia acontecido. E se explicava também, dizendo que por anos, ao me ver feliz com o Patrick, ficou se sentindo orgulhosa e até feliz por ter ocultado isso - mas que desde o dia do fim do meu noivado e, principalmente ao saber os motivos, um nó em sua garganta começou a se formar.
"Aí, quando você contou da solicitação de amizade, das trocas de mensagens, dos e-mails...uma esperança se acendeu dentro de mim!" ela contava com certa animação, mas ao mesmo tempo, demonstrando angústia. "Eu havia cumprido a promessa que fiz para ele, e seria só questão de tempo até você saber e finalmente, e a gente rir de tudo isso!"
O Rodrigo sempre previsível. É claro que ele me viu feliz e a fez prometer não contar nada. Sempre achando que sabe mais, que tem o direito de decidir tudo. O que me admirava mesmo era a atitude da Samantha, de guardar um segredo desses...
"Sam, chega." falei, por fim. Era torturante pensar em como tudo poderia ter sido diferente. E em como as coisas estavam agora - de um jeito que, com certeza, eu não imaginava que estariam.
"Ele também falou, Priscila, que ele deu notícias sim! E eu fiz questão de contar que quem escolheu o nome do Rodriguinho foi você..."
"Ele deu notícias mesmo." respondi, com a força que me restava - "Foi a carta que recebi com um ano de atraso. Foi meu último poema."
O silêncio pairou. As lágrimas caíram. A dor absurda, a qual nem fazia sentido, me dominou.
Quando me recompus, senti a Samantha recuada: muito provavelmente com medo das poucas e boas que merecia escutar. Mas eu sabia que aquilo não adiantaria nada - o tempo não voltava. E além disso, tudo que veio depois, apesar de ter vindo sem ele, foi mágico. E foi porquê eu quis.
Não houve interferência alguma da Samantha nas minhas decisões; foi por isso que sorri, e falei:
"Será que a cordinha ainda funciona?"
Foi nesse instante que ficou tudo bem.
Pelo menos, até ligarmos o celular e começarmos a pesquisar a vida do Rô, ainda naquela noite.
***
"Só o que me faltava..."resmunguei, ainda acordando, mas já correndo para atender o celular - poderia ser ele. A qualquer momento e ligação.E ao ouvir aquele "alô", até o céu nublado às oito da manhã se iluminou. Não só poderia como era ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Season Finale.
FanfictionNessa sexta e última temporada, Priscila e Rodrigo finalmente ganharão um digno final; lado a lado ou não, eles prometem: será o mais feliz de todos. Mas, para isso, precisarão reabrir feridas do passado e o pior: arcar com as consequências que ela...