Episódio 4

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"Mas e o...Rodrigo, como vai?"

Estávamos à vinte minutos fingindo que não havia nada de errado (nem de certo) entre nós; fazíamos como nos e-mails, nas mensagens e na fotos que trocamos durante um tempo:

Ignorávamos completamente nosso passado e os detalhes sobre tudo que vivemos ao decorrer dos anos.

Ou seja: basicamente, só conversávamos sobre nossa atual realidade.

Perguntar do meu sobrinho era um caminho sem volta, e tinha certeza de que o Rodrigo sabia disso. Existia um nítido abismo entre a gente e ele havia acabado de saltar de lá.

Senti meu sorriso se alargando; além de ser a primeira vez que alguém que "fez parte da nossa história" era citado, só de lembrar do meu lindinho (que, modéstia à parte, estava cada vez mais parecido comigo) eu já enchia o peito para falar.

E eu teria falado, se o Léo não tivesse aparecido de novo.

"Olha, amor! Pelo visto a paz reinou por aqui!"

Em pleno próprio casamento, ele ainda não havia encontrado nada melhor pra fazer.

Graças a Deus a Fani existia e possuía toda noção que faltava no marido dela. Ela logo veio ao nosso socorro, puxando o Leonardo e dando uma risadinha sem graça.

A situação acabou deixando tanto eu, quanto o Rô um pouco aéreos. Nós ficamos rindo, verdadeiramente felizes e sem graça; quando finalmente nos recompomos, outra voz me interrompeu...

"Ah, não! Vocês também voltaram!" antes mesmo que eu pudesse raciocinar quem era, ela continuou: "Vi! Vem aqui! Quero te apresentar um casal de amigos da época do colégio! Você não vai acreditar, eles namoram desde os treze anos..."

Gabi!

Nem fiz questão de explicar que na verdade, não era nada daquilo; pulei logo nela e lhe dei um abraço de urso! Quanto tempo eu não a via!

Comecei a perguntar sem parar sobre sua vida: ela me apresentou seu marido (Victor; mais velho e bonitão) e sua filhinha (que só conheci por foto), contou que estava trabalhando sem parar agora que a Paloma já estava maiorzinha, e que ela estava planejando marcar um reencontro da "nossa galera" no aniversário da garotinha, mas que pelo visto, nem precisava mais se preocupar porque a Estefânia já havia se encarregado disso.

Brinquei dizendo que ela não precisava hesitar em me convidar para o aniversário (ainda mais de criança!) e que com certeza, eu iria.

"Sei..com essa agenda lotada! Agora te vejo em tudo, garota! Até propaganda de perfume! Estourou nos States mesmo, né, Priscila?"

Ri. Era verdade, eu estava sempre ocupada. E isso foi a primeira coisa que fiz questão de explicar (mais uma vez) para a Natália assim que cheguei no Brasil.

Ela continuava muito sentimental e sempre jogava na minha cara que eu havia confirmado presença em seu casamento, mas não fui.

Mesmo mandando vários presentes e milhares de e-mails explicando que as gravações da série que eu participava haviam sido prolongadas, nada fez minha amiga esquecer minha ausência.

Contei tudo isso para a Gabi; ela riu e disse que isso era a cara da Natália (mas que era para eu ficar tranquila porque a mesma havia mostrado para todo mundo o enxoval que mandei).

"E, bom, que isso fique entre nós, mas...estou me organizando para ficar por aqui, sabe, pelo menos por um tempo." expliquei, já falando mais baixo.

"Ué! Porquê? Cansou de ser famosa?" a Gabi pareceu espantada, mas neguei rapidamente.

Muito pelo contrário.

Aproveitei que o Rodrigo estava super entretido numa conversa com o Victor e o Alberto (que havia aparecido com o Edu no colo), e puxei a Gabriela para um canto.

Sei que ele jamais pensaria que a mudança tinha algo a ver com...bem, a gente. Na verdade, eu nem sabia se o Rô fazia ideia de que eu estava sabendo de sua mudança.

Mas de qualquer forma, não queria parecer ansiosa para contar; embora estivesse.

Falei sobre o convite que havia recebido de uma emissora brasileira, e a Gabi adorou!

Disse que eu certamente deveria aceitar, assim faria meu nome tanto aqui, quanto lá.

Nem tive tempo de responder que essa era exatamente a ideia, porque logo a Natália se aproximou, reclamando por não ter sido chamada para fofocar.

E então começamos a falar sobre o assunto favorito da minha amiga: ela mesma! E ali ficamos durante um tempão...

Quando a mãe da Fani passou na nossa mesa avisando que, logo seria a primeira dança para abrir a pista, até nos assustamos. A Nat então levantou e disse que tinha que ir buscar a babá, e nos convidou para ir com ela.

"É rapidinho!"explicou. "A Yasmin tinha curso, então não veio com a gente; mas como o casório vai se estender, vou pegar o Eduardo e deixa-lo em casa com ela! Assim o tchuco pode beber e aproveitar um pouquinho!"

A Gabi então também levantou.

"Ah, então vou aproveitar a carona e vou levar a Paloma para a minha mãe, pode ser?"

A Nat concordou.

"Vem, Pri!"a Gabi disse, já indo pegar a filha.

Concordei e fui buscar minha bolsa na outra mesa. Quando voltei, a Natália já estava com o filho no colo e a Gabriela, passando a Paloma pro meu! Os maridos delas, sem nem hesitar, sentaram para começar a beber. O Rô continuou em pé, olhando pra minha cara.

Sem nem pensar, acabei dizendo:

"Já volto!"

Todos os olhares que nos cercavam, se arregalaram.

Ele sorriu e se sentou também. Pedindo uma cerveja, logo em seguida.

Parecia até que estava se sentindo um deles.

Afastei meus pensamentos e comemorei internamente ninguém ter falado nada.

Cedo demais; o silêncio durou só até chegarmos no carro:

"O que foi que eu perdi?????" perguntou a Natália, parecendo completamente ofendida.

"Nada! Você não perdeu nada!" expliquei o mais rápido que pude, aproveitando também para me virar para a Gabi e dizer que não; eu não havia voltado com ninguém! E que só não expliquei antes porque fiquei empolgada demais em encontrá-la.

"Ai, você me subestima mesmo, né?" ela riu. "É claro que sei que vocês não voltaram! A Fani é minha melhor amiga, e apesar de não ser uma fofoqueira, me conta algumas coisas..."

Então porque ela havia dito aquilo?

Lendo meus pensamentos, a Gabi completou.

"Eu sei das coisas, Priscila. Ou pelo menos, bem mais do que você. Mas nem insista, não vou contar."

E completou: "Isso é coisa do Rodrigo."

Eu já ia começar a surtar, mas ela nem me deu tempo:

"Nem adianta! Não temos mais dezesseis anos e eu lido com gritos o dia inteiro! Posso muito bem aguentar os seus."

Emburrei. Apesar de não ter mais dezesseis, continuava odiando ser a última a saber das coisas. Esse era o papel da Fani, não meu!

"Mas, se quer um conselho, escute o que ele tem a dizer."a Gabi disse, enquanto arrumava o filho da Nat na cadeirinha.

E com uma cara de quem havia acabado de vencer, ela soltou:

"Você pode até ficar brava por eu ter dito aquilo mas...sinto e sei: vocês ainda vão voltar."

Season Finale. Onde histórias criam vida. Descubra agora