Episódio 5

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O auge das gravações de uma série não é o fim da temporada; na verdade, tudo é bem mais corrido e intenso durante a preparação.

Descobri isso quando comecei a atuar em uma.

A rotina era cansativa e o meu consolo se tornou ver que, pelo menos, para mim, as coisas eram bem mais tranquilas do que para a protagonista...

Ela chegava todos os dias antes do sol nascer e ia embora só depois de escurecer. Mas quando comecei a considerar o salário dela, não senti mais tanta pena assim.

Se eu recebesse tudo aquilo, até moraria nos estúdios!

"Nossa" o Patrick conseguiu dizer em meio ao meu relato/desabafo "Poque você não me contou que estava sendo exaustivo assim? Agora faço questão de ir te buscar também!"

Retruquei na hora: "Nem invente! Desde que me mudei pra cá, você tem chego na agência super atrasado por minha culpa; da onde tirou isso de querer sair mais cedo também?"

"Sou o chefe, Priscila. Se não posso estabelecer nem meu próprio horário, vou estabelecer o de quem?"

Bufei, porque sabia que não ia adiantar discutir; meu namorado, quando queria, podia ser tão teimoso quanto eu.

Estar num relacionamento com o Patrick era como namorar comigo, só que em versão bem mais persistente e determinada.

Por isso, no começo, duvidei que daríamos certo; brigávamos o tempo todo!

Tanto pela distância, quanto por sermos iguais. Uma das nossas discussões acabou durando sete dias, e ali, concluímos: ou terminávamos de vez ou começávamos a ceder.

Optamos pela segunda opção, e lembro até hoje que foi ele o primeiro a cumprir com o combinado...

Era época de Natal. E, no ano anterior (meu primeiro indo visitar o Brasil) havíamos nos separado justamente por querermos coisas  diferentes; enquanto eu almejava passar o máximo de tempo com a minha família, ele estava irredutível sobre a Europa: queria a todo custo ir para lá com os amigos. E foi!

Isso (e os acontecimentos que sucederam as viagens) acabaram causando a maior confusão na nossa relação, e eu tinha certeza de que existia uma grande possibilidade de não ser diferente dali pra frente.

Porém, uma semana antes de embarcar para São Paulo, acabei aproveitando minha folga extensa e fui visitar o Patrick em Orlando, já que há meses só ele estava indo até NY.

Mas quando cheguei no aeroporto, vi que quem na verdade me esperava, era a Rejane (que me obrigou a "tirar" o tia quando se tornou sogra).

Fiquei muito feliz em vê-la, mas minha curiosidade se apressou em perguntar o que ela estava fazendo ali:

"Vim para viajarmos todos juntos, ué!"

Não tive nem tempo de questionar mais alguma coisa, porque meu queixo caiu.

E pelo visto minha expressão só a incentivou, porque ela continuou falando e "esfregando" na minha cara mais algumas coisas.

"O Patrick já deixou bem claro que estar com a família nessa época do ano é muito importante para você; Priscila! Então, ele não hesitou em trocar Paris por São Paulo e BH, já que vocês também vão ir ver a sua avó, né..."

Sorri abertamente, porque palavras seriam incapazes de expressar a minha felicidade naquele momento.

Porém, assim que cheguei na casa dele e nossos olhares se cruzaram, eu soube: teria que ceder, o que quer que fosse.

Acabei cedendo mais cedo do que esperava; três propostas de emprego na Flórida surgiram, e já não tinham mais desculpas para não serem aceitas, por isso, nem houveram discussões: ele fez a proposta, eu arrumei as malas e, quando percebi: morávamos juntos.

Estávamos comemorando justamente minha mudança, que havia ocorrido há exatos três meses. O Patrick teve que acabar aceitando se livrar da cama horrorosa dele, e quem estava "em divida", era eu. Aceitar a carona ida e volta seria obrigação.

"Tá bom, já que você insiste." respondi, olhando para a janela.

Mas eu sei que um sorriso de canto apareceu no rosto dele. E isso fez com que aparecesse um no meu também.

***
Chegamos no parque as nove; e já na entrada a magia tomou conta de mim: era pleno verão, e as crianças fantasiadas e cheias de protetor na cara não paravam de correr.

Desde a mudança para Orlando, aquela era a minha primeira vez na Disney; eu já havia ido mais outras duas vezes morando nos Estados Unidos, mas sempre com meu irmão, cunhada e sobrinho.

Aquela era a primeira vez que estávamos nós dois.

Todas as outras haviam sido muito tumultuadas...

Sempre assim. Aquela lembrança me levando para longe da realidade incrível que se encontrava bem diante dos meus olhos.

"Ei, gatinha. Tá tudo bem?"senti as mãos do Patrick envolverem a minha cintura. "Aposto que deu saudade do Rodrigo, né? Também estou com saudades do nosso pequeno..."

Que vergonha era admitir (mesmo que internamente) que o Rô veio sim, em pensamentos. Mas não o qual ele imaginava...

Eu balancei a cabeça, alegando não ser nada, e logo agarrei a mão dele:

"Vem! Eu sei que você está com tanta saudade desses brinquedos quanto eu."

Não precisei dizer mais nada: o Patrick saiu me puxando pelo Magic Kingdom, garantindo que aquela seria uma data jamais esquecida.

***
"Não creio! Que fofo! E romântico! Foi nesse dia que ele te pediu em casamento, Pri?" A Natália praticamente gritou, enquanto voltávamos para o casamento da Fani e do Léo.

E também, para a realidade.

Apenas assenti rápido, para continuar a história sem outra interrupção.

Porém, a Gabi estava me encarando de uma forma tão feia, que não tive como não questionar:

"O que foi, hein?"

"Nada."ela disse, mantendo o olhar. "Só é um pouco difícil de acreditar que você quase se casou com alguém que não é o Rodrigo."

Respirei fundo. E ela continuou:

"E pior que isso: justamente com o cara que é o motivo do término de vocês."

Season Finale. Onde histórias criam vida. Descubra agora