Capítulo 14

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Bom dia... - disse a todos na mesa ao entrar na cozinha.

Bom dia meu filho... - disse meu pai.

Roberto, eu e o seu pai estávamos pensando em adiantar a viajem em família este ano para as férias de julho. - disse a minha mãe ao me ver sentar na mesa.

Como assim? - perguntei ao pegar a garrafa de café;

A sua vó está um pouco adoentada , então a sua tia me pediu para passar uns dias com ela, e ao  invés de ir lá e passarmos só alguns dias, resolvemos adiantar a nossa viagem anual de 15 dias... - respondeu a minha mãe;

O bazar vai funcionar na sexta e no sábado, então depois eu vou tirar 15 dias de folga da clínica, já deixei tudo avisado lá, você vai querer vir com a gente? - perguntou Renata.

Todos os anos fazíamos uma viajem em família para visitar nossos parentes em Viadeiros, mas eu trabalhava para o governo, então pedir férias adiantadas não dariam muito certo, isso significaria ter de ficar mais próximo da Ingrid, e longe da Mel, coisa que eu de forma alguma aceitaria.

Essas férias eu vou ficar devendo mãe... vocês sabem o quanto é complicado dar baixa em férias no sistema e essa época do ano é onde tem mais trabalho, é arriscado eu voltar de férias e ter trabalho triplicado. - respondi.

Eu imaginei meu filho... então a responsabilidade da casa fica com você durante esses 15 dias! - disse minha mãe.

Sem problemas mãe... ja vou agendar com a dona Maria 2 faxinas semanais. - respondi sorrindo.

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Amor...você não vai fazer nenhum esforço pra vir passar esses diazinhos comigo? - Dizia a mensagem que Ingrid me mandara 2 horas após a minha conversa com a família no café da manha.

Provavelmente a Renata deve ter passado a noticia! -pensei.

Eu apenas fechei os olhos e respirei fundo.

Eu tenho muito trabalho a fazer aqui na repartição amor, pedir férias agora seria como colocar uma corda no meu pescoço e me atolar de tanto trabalho quando eu voltar, eu ando cansado, preciso de férias de um mês então eu prefiro deixar as férias inteiras para dezembro.  - Respondi na mensagem.

Ela ficou chateada eu acho, mas no fundo ela entendeu, e convenhamos que me manter mais distante dela parecia ser mais saudável para nós dois.

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A Renata me disse que vocês vão fazer uma viagem em família, você vai? - perguntou a Mel enquanto caminhávamos até o parque para fazermos nossos exercícios.

Não, não tenho como pedir férias agora então eu vou ficar... - respondi dando um leve sorriso.

Bom...pelo menos eu não vou me sentir sozinha. - disse ela sorrindo. Vou sentir falta da Renata e da Bia...

Aquele comentário me despertou uma curiosidade.

Onde moram os seus pais Mel? Voce tem outros familiares aqui? - perguntei .

Sim... meus pais... eles moram em um bairro próximo daqui, eu os visito quase todos os dias pela manha. - respondeu ela.

Voce tem irmãos? - perguntei.

Não...sou filha única! - respondeu ela.

Então a atenção é toda para você! É a princesinha do papai! - disse sorrindo.

Ah nem tanto... eu me casei cedo. - disse ela rindo da minha brincadeira. Fui fazer intercâmbio em Londres quando eu tinha 17 anos, aos 18 conheci o Thomas, e fomos morar juntos, e aos 19 nos casamos.

Voce se casou muito nova então... - disse surpreso. Quantos anos tem o seu ex- marido?

40! - respondeu ela.

Nossa! - disse entre risadas.

Oque foi? - perguntou ela fazendo uma cara de confusa.

Ué...voce tinha 19 e ele quase 30...então temos uma diferença muito grande ai de idade...se é que entende.- respondi um pouco sem graça.

Ah mas isso nunca foi uma barreira para nós...o Thomas sempre me incentivou a estudar...a ter meu próprio negócio e a viver a minha vida sem precisar pular fases, trabalhamos juntos por anos também, meu casamento nunca foi uma "prisão" se você quer saber...o fato de eu ser mulher e ser mais nova do que ele não fez dele o meu "pai", eu nunca tive problemas em sair para festas sem ele, em viajar sem ele ou coisas do tipo, sempre tivemos essa liberdade de cada um viver a sua vida de forma paralela ao casamento... - respondeu ela sorrindo.

Paralela? como assim? - questionei.

O Thomas nunca me impediu de ir para uma festa na faculdade por exemplo, oque voces chamam de calourada aqui eu acho... ele nunca me impediu de viver as fases da minha vida que eu precisava viver entende? - respondeu.

Voces tinham um relacionamento aberto é isso? - perguntei assustado.

Não... - disse ela entre risadas balançando a cabeça negativamente. Oque eu quis dizer é que sempre tivemos um relacionamento a base de confiança, e que nunca precisamos nos privar de nada que gostamos para termos um relacionamento "saudável" entendeu?

Ahhh...entendi. -respondi.

Aquela breve conversa com a Mel naquela noite fez eu me sentir incomodado, não com ela, mas me fez refletir sobre o meu relacionamento com a Ingrid, e de todos os relacionamentos que eu já passei, eu não me recordo de em nenhum relacionamento meu eu tivesse essa leveza que a Mel descrevera o antigo casamento... Lembro-me de quase nunca confiar nas minhas ex namoradas mas, porque elas também não confiavam em mim.
Cheguei a conclusão de que nenhum dos relacionamentos que eu tive foram saudáveis, eram sempre regados de brigas ,desconfianças , traições, e muita tensão. Parando para pensar sobre  isso cheguei a conclusão de que eu nunca fui feliz me relacionando com ninguém, pois estes sentimentos sempre estavam rodeando os meus relacionamentos, ter esse papo com a Mel me fez mal, não por culpa dela é claro, mas perceber que eu poderia viver uma coisa ao menos parecida pela qual ela me descrevera, nunca foi possível por escolhas e erros meus, me dou a consciência.

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Aquela semana passou rápido, minha rotina era sempre a mesma, acordava as 6 da manhã, as 7 estava no trabalho, respondia as mensagens de bom dia da Ingrid, treinava com a Mel durante a noite, tinha breves conversas com ela do parque ate a nossa rua, esperava ela apagar as luzes dos refletores para ligar a câmera, esperava ela passar para o primeiro andar para assim poder tirar fotos dela, ah, sem falar nas coisas que ela postava no instagram que eu todo dia olhava através do meu perfil fake. Era como um ritual...

O bazar da clínica da Renata pelo que eu entendi foi um sucesso... O vestido da Mel que eu havia comprado estava bem guardado em uma gaveta no meu quarto, minha mãe e Renata estavam tão concentradas no dia que acho que até esqueceram que eu havia dito que iria comprar para a Ingrid. Oque era melhor assim, eu realmente não pretendia dar a Ingrid aquele vestido.

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[E no final de semana...]

VAMO LOGO BIA!!! - gritou renata do portão da nossa casa;

Roberto meu filho... deixei algumas marmitas prontas para voce no congelador, quando você for comer é só esquentar no microondas ta bem? - disse a minha mãe, vindo em minha direção e me dando um abraço;

TO INDO MAMÃEEE... - disse a Bia correndo de forma desengonçada, segurando a sua boneca na mão.

Já deu um beijo no seu tio? - perguntou a Renata a Bia.

Thaau txioo... - disse a Bia vindo em minha direção.

Thau princesa... - respondi me abaixando e dando um beijo em sua testa.

Até logo filho... - respondeu meu pai ao passar por mim levando a sua mala de carrinho.

Até pai... - respondi.
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O meu domingo foi tranquilo, aproveitei que a casa estava vazia, sem os gritos da Renata e me permiti escutar algumas músicas que eu adorava quando eu era adolescente que eu nunca mais havia escutado.

É tão estranho depois que a gente fica adulto você não acha? A gente acaba fazendo as coisas tudo no automático, trabalho, "vida social" , relacionamento,  é como se a nossa vida tivesse um botão invisível de piloto automático no qual a gente liga e não desliga mais,  e quando a gente vê a vida se passou e a gente percebe que não viveu nada daquilo que a gente queria viver.

Peguei um copo com água... me sentei no chão, escorei minhas costas no sofá e fechei os olhos para apreciar a música.

De play na música Pretending - HIM

Meu celular estava no meu bolso quando o senti vibrar era uma mensagem da Mel...

"So keep on Pretending
Our heaven's worth the waiting
Keep on Pretending
It's all righ"

HIM? Sério que você gosta? é uma das minhas bandas favoritas! - dizia a mensagem e mais o refrão da música.

Apenas sorri e apertei meus lábios em seguida ao ler a mensagem.

Finalmente eu tinha algo em comum com ela... - pensei.

Os Passos de uma Desconhecida - Tom HiddlestonOnde histórias criam vida. Descubra agora