Capítulo 26 - Só mais um dia de cão

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Olá amores, espero que tenham curtido o capítulo anterior que foi um dos maiores capítulos até agora. Como vocês sabem 99% desta história é baseada em fatos reais, mas estou aceitando críticas e sugestões de vocês para o desenvolvimento do resto desta história fiquem a vontade para comentar também, eu amo quando vocês interagem comigo!

Boa leitura! 

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Segunda feira 

07:30 da manhã 

Eu não estava abalado com oque tinha acontecido naquele final de semana, mas eu me sentia acho que estranho...é, estranho esta é a palavra que me define neste momento. É estranho saber que a Ingrid me enganou, sim ela me enganou de certa forma, ela sempre soube de tudo e eu nunca desconfiei, é estranho saber que agora eu sou conhecido, pois sempre fui muito reservado e ainda sou, segundo a Renata, as pessoas agora me odeiam. De certa forma eu até entendo essa raiva toda afinal, uma mulher passou por cima de todas as suas dores para continuar vivendo uma mentira. É compreensível e...estranho. Eu acho que o fato de eu ter me aberto com a Mel, antes de saber de tudo que estava acontecendo me deixou mais tranquilo, apesar de eu ter confessado apenas "meias verdades", com certeza tudo isso já deve ter chegado aos ouvidos dela, será que ela iria olhar diferente pra mim? será que ela me acha um homem ruim agora? um abusador psicológico? um mentiroso? uma pessoa desprezível, egoísta e mal caráter?  Tenho que confessar que eu estava mais envergonhado de encarar a Mel, do que o resto das pessoas lá fora. 


Bom dia... - Disse ao me sentar na mesa, e pegar a garrada de café. Como estão as coisas na internet Renata? - perguntei mas com medo de saber a resposta; 

Bom...a Ingrid ganhou mais uns 100 mil seguidores, já esta fazendo algumas publicidades... e postou um story  dizendo que vai viajar este fim de semana para fazer a participação no show da Marília Mendonça. - Respondeu Renata sem tirar os olhos do celular, enquanto colocava um pedaço de pão na boca. 

Ai meu pai... - Respondi colocando as duas mãos em meu rosto. E os comentários sobre mim Renata? - perguntei. 

Como você já deve imaginar, não são dos melhores, apenas um ou outro que tentam amenizar o seu lado. - disse ela, mastigando o pedaço de pão. Vejamos... 

"Esse cara é um escroto, nem merecia estar vivo"...

" Gostar de homem é o maior castigo de uma mulher..." 

"Gostei da N, alguém sabe o @ desta guerreira?" 

"A pior desgraça de um doido é outro na porta, TOMA DESTRAÍDO, achou que a mulher era besta, RÁ" 

Esse aqui ameniza o seu lado... - Disse Renata. " Gente isso é consequência da sociedade machista no qual vivemos, a maioria dos homens agem assim e nem percebem, a nossa sociedade é doente, mas graças a Deus temos voz e quanto mais falarmos sobre isso, mais esses tabus e paradigmas vão sendo quebrados, a estrada é longa, mas aos poucos chegamos lá!" 

"N RAINHA, Roberto, NADINHA!"

"Acho que esse Roberto agora, vai precisar mudar de país para poder pegar alguma mulher! O Brasil inteiro já sabe que ele não presta! Chora BETINHO!"

"Alguém sabe onde este abusador trabalha? vamos cobrar da empresa dele um posicionamento! Não da pra estar empregando uma pessoa assim! Se ele mente assim pra quem dizia que "amava", oque mais ele é capaz de fazer?"

Já chega Renata! - Disse a minha mãe retirando o celular das mãos dela. Seu irmão já esta sendo julgado demais!

Qual foi mãe! Foi ele que me perguntou! - Rebateu Renata. 

Eu sei, mas isso não vai ajudar em nada! - Disse minha mãe. 

Acredito que seu irmão tenha aprendido a lição... - disse meu pai ao passar pela porta da cozinha. E se não aprendeu, deve estar começando a aprender... - disse ele se sentando ao meu lado na mesa da cozinha e me olhando seriamente. 

A vergonha tomou conta da minha consciência nesse momento, confesso que não consegui encarar meu pai de volta, e nem a Renata, e muito menos a minha mãe. 

Eu...eu...eu acho melhor eu ir agora... - respondi me levantando da mesa. Até mais tarde! - Respondi. 

Ai...não...FALA SÉRIO! PUTA MERDA! - eu disse em voz alta ao sair de casa e me deparar com os quatro pneus do meu carro totalmente murchos. 

Oque foi Roberto? - Perguntou a minha mãe vindo em direção a mim do lado de fora. 

Furaram os 4 pneus do meu carro mãe! - Respondi passando as duas mãos pelos meus cabelos, e respirando fundo na intenção de diminuir o stress. 

E riscaram o capô também... - disse a minha mãe chegando mais perto  do carro e passando a mão pelos riscos. 

OQUE? AI NÃO... - Eu disse assustando chegando perto da minha mãe, e vendo o risco enorme escrito INFIEL. Puta merda... 

Deve ter sido alguém aqui da rua... - Disse Renata chegando no portão. 

Quer saber? Não importa! Vou ligar pra seguradora e vou pra penitenciária de Uber! - respondi pegando meu celular no bolso e tentando achar o numero da seguradora. 

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Bom dia... - Disse o Andrade parado na porta da minha sala. 

Oi Andrade...eu acho que você já deve estar sabendo não é? - Perguntei respirando fundo e encostando as minhas costas na cadeira. 

Acho que o Brasil inteiro já sabe... - Disse ele agora entrando na sala e fechando a porta em seguida. Do jeito que as coisas andaram rápido hoje, quase nada escapa aos olhos do público. E pra sua sorte você é um funcionário público, e nunca teve nenhum problema nesta repartição...Pois algumas pessoas já descobriram que você trabalha aqui, e estão pedindo a sua cabeça... - disse ele ao se sentar na cadeira, me olhando. 

É e já descobriram onde eu moro também... hoje ao sair de casa encontrei os 4 pneus do meu carro furado, e o capô riscado com letras bem grandes escrito I-N-F-I-E-L! - respondi passando minhas duas mãos no rosto, como se eu quisesse me esconder. 

Pelos meios judiciais você como advogado sabe que pode entrar com um processo contra ela não sabe? - perguntou ele. Talvez isso possa amenizar mais as coisas. 

Eu sei Andrade...eu sei... mas eu não quero me desgastar com isso... eu tenho meus direitos, mas eu nao posso tirar o direito da Ingrid de se expressar, não seria justo...não com ela... - respondi. 

Entendo... - Disse ele. Bom...se precisar de alguma coisa é só me falar... - disse ao se levantar da cadeira. 

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Minha vida virou um inferno da noite pro dia e isso é um fato, eu sabia oque fazer?
Não!
Eu sabia se as coisas iriam melhorar? 
Não!
Eu sabia se algum dia as pessoas iriam esquecer de tudo que aconteceu?
Também não!

Do mesmo jeito que a Ingrid havia virado uma celebridade da noite pro dia, e ganho o apoio de todos pela causa dela, eu também havia virado, mas ao contrário do que aconteceu com ela, as pessoas me odiavam. Se tudo aquilo estava acontecendo comigo, todo aquele ódio das pessoas que nem me conheciam, e eu nem tinha redes sociais mas eu podia sentir toda aquela pressão, e energia negativa vindo de todos ao meu redor, imagine se eu tivesse redes sociais? Acho que eu já teria entrado em colapso. 

"Bom dia Roberto! Queria saber se você está bem, soube apenas agora a pouco tudo que aconteceu no final de semana, e a Renata me disse oque fizeram com o seu carro. Espero que essa fase ruim sirva de aprendizado para você e para a Ingrid! Desejo toda paz, e que as coisas se acertem logo para vocês dois! Beijos!"  

Estas foram as palavras de conforto da Mel, ao me enviar uma mensagem. Respirei aliviado, confesso. Depois de tudo que anda acontecendo na minha vida, eu não esperava que ela quisesse manter amizade comigo afinal, todos me acham o pior ser humano do mundo. Eu acho incrível como a Mel se mostra uma pessoa espiritualizada, até nas coisas ruins ela tenta achar um aprendizado... eu realmente não merecia aquela mulher. 

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Quando cheguei em casa, a seguradora já havia rebocado o meu carro, como teve aqueles arranhões enormes no capô, tive que pagar por aquele prejuízo. Apesar de eu ser o errado na história, eu acreditava que minha vida e minha rotina deveriam continuar, eu sou um ser humano  normal, eu erro como qualquer pessoa pode errar, e eu acredito que isso não pode definir o meu caráter. 

8:30 

Estou indo correr na praça... - disse ajustando os fones de ouvido em minhas orelhas. 

Tem certeza disto Roberto? Não acho seguro você sair a essa hora, pelo menos por agora, seu carro acabou de ser vandalizado! - disse meu pai. 

Eu sei pai, mas a minha vida não pode parar! Vai ficar tudo bem! Vejo vocês mais tarde! - respondi forçando um leve sorriso ao passar pela porta. 

Respondi a mensagem da Mel naquela tarde, mas eu sabia que pelo estado do pé dela, ela ainda estava impedida de voltar a se exercitar, meu plano era correr no parque e depois passar na casa dela para levar o Bruce para passear, se eu tinha prometido, eu teria de cumprir. 

Da play na música - The Kill - 30 seconds to mars

Com as batidas da música, já sai de casa fazendo aquecimento para já chegar no parque pronto para correr. Por algum motivo, quando coloquei os pés fora do portão me senti apreensivo, e se quem furou os pneus do meu carro e o riscou, estivesse me observando de longe? e se essa pessoa me atacasse de surpresa afinal, eu estava sozinho e a minha rua não era das mais movimentadas. Apenas respirei fundo, olhei para os lados, e não havia ninguém na rua, então comecei a dar passos mais rápidos até o fim da rua, que foi quando comecei a correr com mais intensidade para chegar no parque, eu não conseguia compreender direito, mas a minha visão nesta noite parecia turva, eu não conseguia ver direito as luzes dos carros que passavam de frente para mim, tudo parecia embaçado, e acho que o barulho do som da bateria da música intensificava esses sentimentos em mim. Me senti aliviado ao passar pelo enorme portão do parque, mas senti minha boca seca, e ao passar minha língua entre meus lábios para umedece-los senti a pele saindo deles, meus lábios estavam rachados e descascando. Parei para tomar um gole de água antes de começar a dar a minha primeira volta. Aquela música estava dando vários replays, eu não me importei muito, eu gostava dela. Quando comecei a correr novamente,. comecei a sentir uma incapacidade de relaxar, meus músculos estavam tensos, eu podia sentir, a cada impacto dos meus pés quando tocavam no chão, comecei a perceber os olhares das pessoas que passavam por mim, não conseguia ouvir oque elas diziam, mas conseguia sentir os seus olhares, com certeza estavam falando de mim, haviam me reconhecido. Tive a certeza disso quando um grupo de três mulheres que vinham de frente para mim, me olhavam a distancia e conversavam entre elas mas sem tirar os olhos de mim, quando passei correndo por elas, pude ouvir suas risadas, mesmo com a música alta em meus ouvidos. O suor pingava pelo meu rosto, sentia meu coração pulsar muito mais que o normal, parei de correr pois sentia meu coração quase sair pela boca, apoiei minhas mãos em meus joelhos na tentativa de descansar mais rápido, olhei para trás e aquele grupo ainda estava lá , parado, no meio do caminho, cochichando e olhando para mim. Comecei a sentir ondas de calor em meu corpo, e um formigamento no meu corpo do lado direito, era como se eu estivesse tendo um AVC. Mas eu não podia cair, não ali, aquelas pessoas sabiam quem eu era, nenhuma me ajudaria se eu passasse mal ali. 

Tudo bem Roberto...esta tudo bem...você não tem nada, é tudo coisa da sua cabeça... - eu repetia para mim mesmo enquanto apressava o passo para sair logo dali. Você consegue....você consegue... - eu repetia em minha mente, enquanto caminhava pela calçada, eu não conseguia sentir o meu corpo, era como se eu fosse cair a qualquer momento. Minha visão voltou a ficar turva e embaçada,  meu coração por mais que eu  não estivesse mais correndo ele se acelerava mais e mais, eu tentava me sentir mais aliviado a cada passo, pois eu sabia que a cada passo que eu dava eu estaria mais perto de casa. Respirei aliviado quando dobrei a esquina da minha rua, os refletores da casa da Mel iluminavam bem não só a casa dela como a frente da minha também, ao longe consegui ver duas sombras vindo em minha direção, eu não conseguia enxergar quem eram pois estavam no começo da rua, e eu estava vindo do final. Rapidamente comecei a pensar:

E se fosse a pessoa ou as pessoas que vandalizaram meu carro? 
E se fosse algum assaltante?
Algum hater maluco da internet?

Comecei a sentir uma dor imensa no peito, e os calafrios voltaram, eu não tinha saída, seriam dois contra um, eu naquele estado não conseguiria me defender de absolutamente nada, apenas comecei a correr em direção a minha casa, a rua era grande, minha casa ficava quase no final, se eu corresse mais rápido eu chegaria em casa e eles não conseguiriam me alcançar. E foi oque eu fiz, corri, corri até não sentir mais a minha respiração, por sorte o portão já estava aberto, eu apenas girei a maçaneta e entrei, escorei meu corpo no portão para se caso eles tentassem entrar, meu coração estava disparado, uma falta de ar tomou conta do meu corpo, me senti tonto, apenas senti meu corpo se deslizar pelo portão e o impacto que ele causou quando eu sentei de vez naquele chão, eu estava exausto, esgotado, e tinha acabado de ter a minha primeira crise de ansiedade. 

Os Passos de uma Desconhecida - Tom HiddlestonOnde histórias criam vida. Descubra agora