My fucking guy (Pausada)

O shopping (parte dois)

My Fucking Guy
Capitulo 20

Quando por fim alcançamos uma praça, depois de corrermos pelas ruas, um atrás do outro até zerarmos nossas energias, declaramos trégua.

Não tem portões de entrada, apenas um belo arco que a principio fora pintado na cor dourada – imagino que deveria brilhar como ouro quando o parque foi inaugurado, mas agora sua pintura descascava devido ao sol e chuva constantes que enfrenta, deixando aparente o cobre barato de sua armação por entre as rachaduras da tinta.

As grades ao lado do grande arco também se encontram no mesmo estado deprimente, impedindo que as plantas e árvores invadam a calçada por completo, que já se encontra coberta de flores e folhas mortas deixadas por nossas amigas verdes.

Caminhamos juntos até um banco mais ao meio do parque, feito de pedra e perto da grama. O único que teve o privilégio de estar livre do sol escaldante. Nos sentamos e senti uma onda de calor súbita e insuportável tomando conta do meu corpo.

Essa é a primeira vez que havia parado de andar naquele dia, estava exausto e só agora voltei a perceber o quão quente está o dia. Comecei a cozinhar com aquela blusa preta. Seu tecido era leve, mas isso não alivia a sensação de estar em um forno, e com minha respiração irregular devido à correria de mais cedo, comecei a me pensar se não iria desmaiar a qualquer momento.

Sem perder mais tempo, tiro aquela blusa de frio, mas não devolvo ao Jhonatan. Estava com calor, é verdade, mas não confiante o suficiente para abrir mão da única coisa que me deixava seguro.

Faz tempo que não tiro o celular do bolso para olhar as horas. São quase dez da manhã, provavelmente meus amigos ainda estão no intervalo. Será que nossa ausência os preocupa? A do Jhonatan com certeza, mas ainda tenho minhas dúvidas em relação a minha. De qualquer forma, sinto que terei que inventar uma desculpa. Se eu disser a verdade mais e mais pessoas podem ficar sabendo e isso é uma coisa que eu preciso evitar.

Me pergunto se Jhonatan tem algum plano para onde devemos seguir ou se vamos só voltar para a escola e esperar o horário da saída. A segunda opção me parece arriscada, mas o Jhonatan que é o “profissional” aqui (Se bem que ele me arrastou para o shopping agora a pouco...).. De qualquer forma, é melhor seguir ele do que ficar sozinho nessa situação.

Passo os dedos entre o meu cabelo, tentando organizar os fios rebeldes que insistiam em apontar para as direções erradas, tornando-o um verdadeiro ninho de pardais. Começo a brigar com as mechas. Sinto que estou bagunçando-as ainda mais já que não tenho um espelho ou algo parecido para olhar. Uso a tela escura do celular, mas é em vão. Solto um suspiro frustrado antes de desistir.

Antes que percebesse, sinto algo na minha cabeça, tomo um susto e levo a mão junto aos fios a fim de tirar seja lá o que caiu em mim. Me esbarro com algo que não se parece uma folha, nem uma flor, muito menos um inseto. Olho para Jhonatan e confirmo minhas suspeitas, é sua mão enterrada no meu cabelo, trazendo os fios para lá e para cá como se eu fosse um cliente nas mãos de um cabeleireiro.

– O que você... ? – Falo para Jhonatan, tão baixo que minhas palavras morrem no caminho.

– Shiu! Espera aí... – Ele da um tapinha na minha mão – Não se mova.

Jhonatan trás a outra mão para fazer companhia e sinto seus dedos organizando meu cabelo, alternando a direção das mechas. Ele me coloca de frente para si e ajeita os fios um por um. Vejo-o com um olhar focado, murmurando algumas palavras, como “não, esse vem pra cá...” e “Fica parado”.

Aos poucos ele se aproxima de mim até a distância entre nós não ser mais do que alguns centímetros. Sinto-me tão próximo que consigo ver os detalhes do seu rosto. As bochechas levemente coradas devido a nossa corrida amistosa traziam cor ao seu rosto pálido e quase sem vida. Os olhos escuros como o céu noturno pareciam tão concentrados em mim que senti um arrepio seguido de uma forte batida do meu coração.