Olá, vizinha!

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– Ah, então quer dizer que vocês se perderam? – disse Grace, com a xícara de café a meio caminho da boca.

Grace era uma senhora de uns cinquenta e poucos anos. Os fios castanhos eram agora pouco visíveis pela enorme quantidade de fios brancos. Seu cabelo era bem liso, suspenso acima dos ombros. Tinha um rosto bonito e uma expressão serena. Não se incomodou muito quando viu que Nathalie e Daniel tinham entrado na sua casa sem permissão. Até entendeu a história deles.

– Sim – respondeu Nathalie com um aceno de cabeça. – E pedimos desculpas de novo pela grosseria de entrarmos em sua casa.

– Tudo bem, Nathalie, não precisa se incomodar com isso. – disse Grace com um sorriso – Entendo que foi uma situação de emergência, eu também teria feito o mesmo.

– Obrigada.

Nathalie tomou um gole de seu café.

– A senhora mora aqui sozinha? – perguntou Daniel.

– Sim, querido.

– E não tem medo? – perguntou Nathalie – Quer dizer, aqui ainda é uma floresta.

Grace sorriu.

– É verdade que eu moro aqui faz tempo. Mas antes disso eu morava na cidade. Com meu marido, David, e meus filhos. – ela fez uma pausa e suspirou – Eu e ele estávamos cogitando a hipótese de morar em um lugar calmo, com muitas árvores. Pensamos em comprar um sítio até. – Grace recolheu as xícaras, agora vazias, e colocou-as em cima da pia antes de continuar – Mas uma tragédia aconteceu conosco. Estávamos voltando de um casamento, de noite, quando um carro veio na contramão e bateu no nosso. David virou para a direita, na tentativa de amenizar a batida. Mas acabou que a ele recebeu toda a pancada do carro em alta velocidade. David morreu na hora.

– Sinto muito. – disseram Nathalie e Daniel na mesma hora.

Grace sorriu tristemente.

– Então resolvi me mudar pra cá. – continuou ela – Meus filhos vêm me visitar de vez em quando. E a cidade mais próxima fica há trinta minutos daqui. É lá onde faço minhas compras.

– Ah! – disse Nathalie – então não é tão solitário quanto eu pensei.

– Não é. – Grace piscou para ela. – Mas, deixem de falar de mim. Vocês me contaram que se perderam, mas como aconteceu?

Nathalie olhou de relance para Daniel e deu um sorrisinho.

— Alguém rasgou o mapa que nós tínhamos.

— Claro que foi de propósito. — disse Daniel, revirando os olhos.

Nathalie virou-se para encará-lo.

— Não estaríamos perdidos se você não fosse teimoso.

— Tudo bem, já entendi. — disse Grace, rindo. — Não briguem por isso, vocês são amigos.

— Não somos. — disse Nathalie na mesma hora.

Grace ficou em silêncio por um momento.

— Ah, então vocês não se dão muito bem.

— Não. — disse Nathalie, um pouco desconsertada. Não queria ser grossa com Grace, mas aquele era um assunto delicado. — Não gosto dele.

Meu Querido Inimigo Onde histórias criam vida. Descubra agora