09

2.5K 208 20
                                    

Maratona 4/5

𝐕𝐈𝐂𝐓𝐎𝐑 𝐀𝐔𝐆𝐔𝐒𝐓𝐎.

Quando chego em casa, ouço um barulho vindo do andar de cima, e meu coração se aperta. -Victor, seu pai precisa de água.-Mamãe diz, descendo das escadas com um

pedaço de papel ensanguentado. Rapidamente, me viro e encho um copo d'água,depois subo com mais um papel higiênico.

Quando entro no quarto, ele está deitado na cama e tossindo. Minha mãe, como sempre, o ajuda nas vezes em que o sangue espirra no papel. Eu beirada da cama e estendo o copo de água pra ele. sento na

Papai pega o copo e o bebe, enquanto deixo o papel higiênico em cima de sua cômoda, e então espero que ele acabe de beber. Fios ligados em um aparelho estão espalhados por seu rosto.

- Você nunca mais me contou da sua vida, filho... como vão as coisas? - Ele diz,tendo dificuldade para controlar sua respiração.

-Não conto porque não posso, e também, você não pode falar. -Eu digo. Gostaria de poder dizer que estou me sentindo mal por todas as vezes que o vejo nesse estado, morrendo. Mas dizer... parece que dizer torna tudo mais real. E de real, já basta ver papai desse jeito, sangrando e morrendo.

- Eu não posso falar, mas você pode.Ele diz, e depois respira fundo e tosse mais uma vez. Um nó se forma na minha garganta. Odeio com todas as minhas forças vê-lo nesse estado.

-Falar sobre o quê? Que vida eu estou tendo agora?Começo a ficar nervoso,

segurando a garganta para não chorar. Meus olhos ameaçam arder, mas me recuso a derramar uma lágrima. Na frente dele não.

-Victor...- Minha mãe me repreende. Seus olhos cansados encontram os meus de uma forma terna, como se ela implorasse para que eu fosse compreensível. O que é impossível.

-Desculpa. -Eu digo. Tenho que ficar mais perto dele, aproveitar cada momento ao lado dele, é isso que preciso fazer, de acordo com a Babi.

Minha mãe se levanta e pega todos os papéis sujos. Ela deixa o inalador do lado da tomada, mas não sei porquê ainda usam essa merda, se não adianta mais. Nem o aparelho que liga vários fios em seu rosto... com ou sem, a diferença é minima.

- Bom, o time de futebol foi classificado. -Eu começo a dizer, enquanto minha mãe sai do quarto.

- Me avise qualquer coisa. - Ela avisa. Faço que sim com a cabeça, embora ela saiba que a primeira coisa que eu faria se caso algo acontecesse, era chamar ela.

-Parabéns! - Ele diz, com a voz rouca, dando um sorriso. Retribuo apenas curvando as bochechas. - Você fez um... - Ele para quando tosse.

-Um gol? Fiz, mas não foi nada demais. -Eu digo, como se não tivesse feito um ponto decisivo nos últimos minutos. Ele sorri de novo.

-E as garotas?-Ele pergunta. Encolho os ombros e desencolho, num sinal de pouca importância. Ter garotas eu tenho, mas isso pra mim simplesmente não importa. -Nenhuma? Ah, deve ter uma aí dentro...Ele diz, tossindo novamente. Se ele soubesse que transo com qualquer uma pra esconder o quanto estou triste por ele... mas sei que não é isso que ele quer saber. Meu pai quer saber se tenho uma garota dentro do meu coração.

-Bom, eu conheci uma, mas ela não passa de uma amiga... eu acho. - Inclino levemente a cabeça, pensando em Bárbara. Acabei de conhecer ela, e sinto como se fossemos ligados. Tudo que ela diz se conecta com o que eu sinto. A maneira como sorri aquece meu coração. E o visual da noite anterior.....

-E como... - Ele diz, mas eu respondo por cima, para poupar o oxigênio dele.

- Como ela é? -Pergunto por ele.-Tem olhos lindos, cabelo castanho... - Eu digo, dando um sorrisinho descontraído. Olho para meu pai. Ele me observa com um sorriso.

- Olhos? Que cor?-Ele pergunta, controlando a respiração.

-Castanhos escuros.-Eu digo. -Mas ficam muito mais lindos de noite. - Dou um sorriso, me lembrando da noite em que ela me devolveu o celular.

Estou observando ela demais e nem percebi.

-Gostaria de conhecer ela...-Ele tosse.

Qualquer dia.

-Ah... não sei se ela aceita, e a gente só conversa. -Eu digo.

-Sabe quem conversava também? Eu e sua mãe. Ele diz, me provocando uma risada abafada. Ele tenta rir. É bom ver meu pai sorrir. Até mesmo passar o tempo ao lado dele, mesmo sabendo que... Bem, que ele pode não estar aqui daqui a uma semana. Ou menos.

Minha mãe aparece no quarto com uma caneca de chá borbulhando que coloca em cima da cómoda ao lado, se sentando na beirada da cama.

- Vá dormir filho, amanhã você tem colégio. -Ela diz, deixando um beijo no topo da minha cabeça. Dou um último sorriso para meu pai e me levanto, indo em direção ao meu quarto.

𝘁𝗮𝗹𝗶𝘀𝗺𝗮𝗻,𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋.✓Onde histórias criam vida. Descubra agora