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𝐕𝐈𝐂𝐓𝐎𝐑 𝐀𝐔𝐆𝐔𝐒𝐓𝐎.

Quando a aula acaba, vou direto pra casa. Checo o celular mais de uma vez enquanto ando até lá, para ver se não perdi nenhuma chamada. Abro a porta de casa, e quando entro, minha mãe está lavando louça, fungando o nariz.

Demoro alguns minutos pra perceber que ela está chorando.

- Mãe? Tudo bem? -Eu pergunto, chegando perto dela. Ela solta a esponja e me abraça, chorando no meu ombro.-Cadê ele? Ele tá bem?

-Lá em cima...-Ela diz, chorando através dos soluços. Já me acostumei a pegar mamãe chorando. O médico disse que ele anda... piorando. - Ela diz.

-Você acha que...?

- Sim, Victor. Acho que seu pai está perto. Ela diz, me provocando uma onda de preocupação e peso no peito. De angústia. Ela soa o nariz em um papel, e eu a ajudo mamãe limpar o rosto e guardar a louça depois.

Subo as escadas e deixo minha bolsa no corredor, entrando no quarto e vendo meu pai. Por incrível que pareça, ele está acordado.

-Você está acordado?

- Não ando conseguindo dormir muito... -Sua voz está mais rouca e difícil de entender. Sento na beirada da cama e demoro um pouco para puxar algum assunto. É difícil. É doloroso, mas só quero conversar com ele. O máximo possível.

-Eu vou na casa da Carol hoje. - É tudo que consigo dizer.

- Vai ver a menina dos olhos castanhos?-Ele dá um sorriso e tenta rir, mas acaba engasgando. Uma série de tosses vem em seguida.

-Acho que vou. -Eu digo, e depois me mantenho em silêncio, com o coração
apertado. O homem ao meu lado está finalmente indo. A pessoa que ia comigo em jogos de futebol, quem me dava conselhos amorosos e me deixava assistir TV mais tarde. Solto um suspiro. -Mas vou ficar aqui essa noite, tudo bem?- Eu digo.

- O quê? - Ele tosse, pela milésima vez no dia. -Não, você pode ir.

- Preciso ficar mais do seu lado, ainda mais agora pai.-Eu digo. Me preparei para o dia em que isso iria chegar perto, cada dia desse ano. E, por uma fração de segundos, só desejo que a dor pare de atormentá-lo em sua vida. Só desejo que ele fique em paz. Que ele pare de sofrer.

-Não. Você vai ir, sua mãe está aqui...

-Eu vou ficar pai. Ela não está bem... você sabe o porquê. — Eu digo.

- Você está aqui porque acha que passar mais tempo comigo me deixaria feliz... mas eu não quero. Quero que siga sua vida, Victor. É ver as pessoas paradas por causa de mim que me deixa triste.-Ele diz. É a frase mais longa que ele consegue falar. Ele solta um gemido de dor.

- Não fala mais nada, ok? Se não piora.-Eu digo.-Tá bem... se você fica feliz com isso, eu vou.-Digo. Ele sorri e aperta minha mão. Me levanto. - Dorme um pouco tudo bem? Descansa. -Eu digo, dando um meio sorriso.

Isso me deixa meio abalado, e preferiria que ele descansasse de todas essas dores... mas não que ele fosse embora.

Eu costumava beber e transar para esquecer esses problemas, mas agora, estou sentindo isso mais na pele. Não estou fazendo nada para amenizar a dor. Tudo por causa dela. Babi me ensinou a ver as coisas mais fáceis; me ensinou que, por mais. que seja doloroso, é necessário.

Como se eu não tivesse que colocar uma barreira escondendo meus verdadeiros sentimentos. Mas aprender a lidar com eles. Aprender a saber que é preciso se despedir.

𝘁𝗮𝗹𝗶𝘀𝗺𝗮𝗻,𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋.✓Onde histórias criam vida. Descubra agora