kill my time

cap 7.

❝You've got a million reasons to hesitate, but darling, the future's better than yesterday.

— Best Years

Quarta-Feira, dezoito de Dezembro de dois mil e dezenove.

O recesso de fim de ano havia sido iniciado em nosso estúdio, o que era uma ótima notícia, visto que nossa dupla dormia profundamente sem hora para acordar.

A noite tinha sido longa, ambos deixaram até a última gota de suor e quaisquer outros fluidos corporais naqueles lençóis, então nada mais justo que acordassem mais tarde do que deveriam após tamanha intensidade.

Calum estava aconchegado no peito de Blue, feliz, pois pela primeira vez na vida, tinha obtido a oportunidade de ser abraçado por alguém na cama, sem ser questionado pela posição de sua escolha.

A maioria das pessoas que o julgavam pela postura extremamente dominante e intimidadora, não imaginariam que uma das coisas que mais lhe traziam conforto era ser abraçado por alguém que confiava, e isso ia além da questão física, tudo que Calum mais queria era ser abraçado por alguém, que compreendesse todos seus poréns e todas as complicações que vinham com esse tal ato.

Calum queria ser enxergado como ele mesmo era e não como todos o pintam.

Blue fazia com que ele sentisse isso, na verdade, desde o primeiro momento em que pisou no estúdio, fez com que ele sentisse.

Blue o apoiava em suas ideias mais insanas, cuidava dele quando ele se sentia cansado, entendia seu processo criativo, Blue sempre estava ali.

O azul que os unia, desde o início lhe transmitia paz, tranquilidade e uma enorme sensação de confiança, mas acima disso, mesmo no momento onde os dois corpos pareciam estar em lugares onde não deveriam, a cor lhe lembrava que independente do que estivesse acontecendo, sua essência ainda se mantinha ali.

E depois de ter uma das noites mais satisfatórias que já teve a tempos, depois de ter colocado para fora todos os desejos mais intensos e nada pacíficos que tinha sobre o ser que, convenientemente nesse momento lhe abraçava como um ursinho de pelúcia, e depois de, finalmente ter olhado no olho de alguém enquanto chegava ao seu ápice e não ter visto essa pessoa ir embora das suas mãos antes de acordar, Calum sentia vontade de sorrir até mesmo enquanto dormia.

Ele se sentiu, depois de muito tempo, acolhido.

O mesmo despertou primeiro, ainda meio zonzo por ter sentido a claridade da janela adentrar em seus olhos, se espreguiçou na cama e tentou levantar sem acordar Blue, mas falhou miseravelmente.

Deixou um beijo cuidadoso em sua mão e cambaleou até o banheiro, pronto para jogar um pouco de água gelada em seu rosto, esperando que fosse, dessa vez, de fato o dele mas...

Aparentemente a troca de energias necessária não era aquela.

Calum ainda estava no corpo de Blue.

Naquele momento sua sensação era de desespero, de choque, de frustração.

Por mais que a experiência toda tenha sido a melhor que já teve, ele ainda tinha esperança de acordar em seu local mais seguro, esperava se olhar no espelho e descobrir que tudo estava certo.

Ele tinha esperanças de que finalmente iria poder viver todos aqueles momentos da maneira exata que ele sempre imaginou.

Caminhou de volta até a cama com o mesmo semblante de choque que tinha antes, o mesmo que até lhe fez esquecer de jogar a bendita água em seu rosto.

Blue notou a movimentação estranha do parceiro, mas não compreendeu de início o que tudo aquilo significava.

E foi exatamente isso que fez com que o mesmo quase entrasse em colapso.