Capítulo 1 - O recomeço

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Eu estava cansada de me sentir sem importância, cansada de me sentir o tempo todo sozinha, mesmo que ele estivesse ao meu lado... Era duro reconhecer que meu marido não tinha mais nenhum interesse em mim, mesmo que ele insistisse em dizer que me amava. Eu conversava, expunha as minhas necessidades e ainda assim, ele era distante e indiferente... Talvez pelo fato de não conseguir ser diferente disso, mesmo que esse não tenha sido seu modo de agir em todo tempo em que compartilhamos a vida nesses 12 anos.

Ele não foi sempre assim, esse não foi o homem com quem eu me casei. E lá estava eu, num casamento falido, aos 38 anos, sem filhos e sem a menor disposição para começar tudo de novo. Mas ainda assim, como sempre, fiz o que tinha que ser feito e abri mão de viver de migalhas. Era preferível não ter ninguém, do que ter alguém que não se importava.

Nós havíamos sido felizes, até deixarmos de ser. Namoramos por 4 anos e por insistência da parte dele, nos casamos. Não que eu não quisesse me casar, mas eu não pensava nisso de maneira concreta e seu interesse em trocarmos alianças me pegou de surpresa.

Ainda que o nosso relacionamento me demandasse muito empenho, já que eu administrava a casa, as contas, as expectativas, os sentimentos e tudo mais que fosse possível, mesmo assim decidi realizar meu grande sonho de ser mãe. Eu sabia que ele não seria um bom parceiro na criação de um filho, mas que seria um excelente pai no que diz respeito à convivência entre eles. Ele não dividiria comigo responsabilidades com os cuidados que uma criança precisava, mas afetivamente eu sei que supriria as necessidades de um filho.

Acontece que eu não sabia que possuía uma condição chamada trombofilia, que me fez passar por dois abortamentos que haviam me deixado marcas profundas. Tão profundas que eu optei por não correr o risco de passar por isso novamente, mesmo que o meu sonho tivesse mais vivo do que nunca.

Eu adotaria, já que meu sonho nunca havia sido ficar grávida e sim ser mãe. Não importava por que vias, eu iria realizar esse sonho e eu esperaria o tempo que fosse necessário. Uma das coisas que mais me marcaram nesses episódios, foi que eu não tive nenhum apoio emocional do meu então marido e foi quando eu me senti mais sozinha do que nunca.

Eu sempre me considerei e fui considerada pelos outros uma mulher forte e corajosa, que não se contentava com pouco em nenhuma área. Justamente por isso eu hoje não consigo compreender o motivo de ter aceitado tão pouco, por tanto tempo. Mas de qualquer maneira, definitivamente eu não aceitaria mais isso, eu já estava decidida, então parei de adiar o inevitável e pedi o divórcio.

Foi doloroso, eu me senti tão incapaz, tão diminuída e pequena... Eu sabia que iria me recuperar, que não desistiria do amor, ainda que de casamentos sim, sabia que seria feliz de novo, por isso a dor por perder uma coisa que já estava morta não fazia sentido para mim. Eu já havia vivido o luto durante o meu casamento, porque ainda doía tanto? Não sei dizer.

Eu lutei muito para que o sentimento de insuficiência e derrota não tomasse conta de mim. Lutei contra mim, contra as pessoas que julgavam a minha decisão de me separar, contra o amor que eu inevitavelmente sentia pelo cara com quem dividi minha vida por tantos anos... É duro admitir que eu ainda preferia estar com ele, afinal, ele não era um homem ruim, só não era o homem que me completava mais, já que priorizávamos coisas tão diferentes.

Então foi assim que, depois de tantos anos eu estou aqui, solteira. Não tinha medo da solidão, ela até me atraía. Eu nunca achei que uma mulher precisa de um relacionamento para ser completa, mas sempre achei que me encaixava no rol das que preferem um companheiro, isso é fato. "Não sou ímpar, sou par", sempre me classifiquei assim. Mas nunca me envolvi em relacionamentos somente para não ficar sozinha, só não desperdiçava as oportunidades que a vida me dava, colocando caras que realmente valiam a pena no meu caminho.

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