Dirijo de volta para a minha casa temporária perdido em meus pensamentos, tentando organizar na minha cabeça tudo o que tenho para fazer de mais importante nos próximos dias. Minha mente divaga entre tantas coisas que vêm acontecendo na minha vida no último ano. A perda do meu pai, uma gravidez não planejada, uma tragédia acontecendo em um momento que deveria ser de alegria e tudo isso terminando em um cara sem experiência nenhuma com crianças, cuidando sozinho de uma bebê recém-nascida. É, é a isso que se resume o meu momento.
Quando cedi ao charme de Camila naquela noite, nunca imaginei que tudo poderia acontecer dessa forma. Ela sempre se insinuou abertamente para mim, demonstrando seu interesse, mas ela era tão insistente que acabou conseguindo de mim o efeito inverso ao que desejava. Eu simplesmente não conseguia me interessar por ela. Nunca fui um homem de levar os relacionamentos muito a sério, meus namoros nunca passaram de mera formalidade para conseguir o que eu realmente desejava, noites de sexo garantidas, sem que eu precisasse ir à caça todas as noites.
Isso tudo sempre era deixado bem claro para todas elas, que aceitavam de bom grado em troca de sexo quente e alguns investimentos da minha parte. Nenhum deles nunca foi muito longe, mas mesmo sabendo disso, Camila insistia em tentar fazer com que eu me apaixonasse por ela, para que um dia nos casássemos.
Ela tinha essa ilusão desde adolescente e nem mesmo a grande diferença de idade entre nós foi suficiente para fazê-la despertar desse conto de fadas. Sou amigo da família de Camila desde que me entendo por gente e convivemos durante toda sua curta vida. Eu já era um homem formado quando Camila nasceu, já tinha quase trinta anos, mas isso não parecia impedir os devaneios amorosos dela por mim.
Eu sempre ri disso tudo e encarava tudo como uma paixonite adolescente, mas quando percebi que Camila já era uma mulher adulta e que insistia e tramava cada vez mais para se aproximar de mim, achei melhor conversar com ela e deixar bem claro que não a via como mulher, mas somente como a filha de um grande amigo meu que havia nos deixado cedo demais em um acidente sofrido junto com a esposa. Após essa fatalidade Camila viveu com a avó, Norma, que para compensar a falta dos pais, mimou a menina o quanto pôde até o abreviado fim de sua vida, aos 26 anos.
Nunca me importei em me envolver com mulheres mais jovens, pelo contrário, na verdade era com elas que costumava me relacionar. Mas Camila não era uma mulher que eu namoraria por um breve período e terminaria tudo depois, ela não aceitaria. Não vou negar que ela se tornou uma mulher atraente e sensual, mas realmente não havia desejo da minha parte em respeito a tudo que estava envolvido.
Uma noite porém, logo após o enterro do meu pai, tive a infeliz ideia de me permitir beber sem controle, afinal, sou um homem maduro, nunca dependi de ninguém para nada e quem poderia me julgar por me embriagar logo após perder minha mãe e meu pai em menos de um mês? Acho que ninguém! Parei em um bar a caminho de casa e bebi todas as doses de whisky que consegui. O que não contava era que Camila teria me seguido e estava ali, só esperando para me consolar em meu momento de fragilidade. Eu não sou um homem dado a este tipo de sentimentos, então ela deve ter julgado que essa seria sua melhor chance.
Não posso dizer que não estava ciente do que estava fazendo, pois apesar da grande quantidade de bebida que consumi naquela noite, minha sanidade estava intacta, mas não nego que me descuidei ao decidir deixar o meu bom senso de lado e não atentar para os alertas que surgiam o tempo todo na minha mente. Mesmo tendo o cuidado de usar preservativos durante o sexo, dessa vez eu não os descartei como sempre fazia. E foi nessa falha que Camila conseguiu uma das coisas que mais queria comigo, um laço eterno, que jamais poderia ser desfeito.
Acordei no dia seguinte com uma grande ressaca física e moral. Não acreditava que tinha ultrapassado esses limites com a filha de um dos meus melhores amigos, que certamente não estaria nada feliz de ver o que fizemos, seja lá onde estiver. Acordei e ela estava na maior cena de comédia romântica de todos os tempos: vestindo uma camisa minha, com um lindo sorriso no rosto e preparando o nosso café da manhã. Em momento algum a destratei, mas também não dei falsas esperanças quando tentou me beijar. Tomei o café preparado por ela em silêncio, o mais distante que consegui, ainda sem saber o que ela tinha tramado contra mim.
A chamei para conversar, coloquei tudo em pratos limpos e não me isentei da minha falta de responsabilidade emocional e afetiva na noite anterior, mas mesmo com todo cuidado que tive com as palavras, ela saiu machucada e acho que não poderia ser diferente. Os dias que se seguiram foram sufocantes, ela tentava de toda maneira estabelecer um relacionamento entre nós e eu tentava deixar claro o quanto tudo aquilo havia sido um erro inconsequente, que um cara da minha idade não deveria ter cometido, afinal, estou longe de ser um menino.
Algumas semanas depois ela foi até meu escritório, com a certeza de que iria me prender a ela pelo resto da vida. Estava lindamente vestida, como sempre, aliás, se sentia segura e com um sorriso largo entrou na minha sala após ser anunciada pela minha assistente. Se sentou à minha frente e disse que tínhamos uma questão que teríamos que lidar juntos, já que não havia feito o nosso filho sozinha. Eu ri do que ela dizia, mas ela prontamente me mostrou o exame que comprovava a sua afirmação.
― Augusto, eu tenho como provar, e não acredito que você vai me deixar sozinha nesse momento.
― Camila, não tem como isso ser possível, nós nos protegemos. Eu nunca seria irresponsável a esse ponto, como nunca fui até hoje.
Eu dizia mas ela permanecia irredutível, afirmando que algum incidente com o preservativo poderia ter provocado isso.
― Nenhum método é 100% confiável, Augusto, um homem da sua idade deveria saber disso.
― Eu não sou um moleque irresponsável, Camila!
Nesse momento já falo quase gritando, já que minha paciência estava se esvaindo.
― Eu nunca deixei de verificar se estava tudo certo ao fim de uma noite de sexo e não seria dessa vez que eu faria isso.
Imediatamente pedi que ela me acompanhasse, a coloquei dentro do meu carro sem falar nada e seguimos para a fazendo de sua avó. Agradeci mentalmente por Vilma estar no Brasil, já que divide seu tempo entre o Rio de Janeiro e Miami. Eu não deixaria que ela descobrisse de outra forma tudo o que estava acontecendo, sendo verdade o que Camila dizia, ou não. Minha empresa fica em Niterói e sua avó morava em Rio Bonito. Isso era quase uma viagem, que ao lado de Camila depois de tudo o que me disse parecia ainda mais longa.
Ela tentava de todas as formas conversar comigo, mas eu só voltaria a falar com ela na presença de sua avó. Finalmente chegamos ao destino e tento ser o mais gentil que consigo com ela ao forçá-la a entrar em sua casa. Vilma nos olha assustada sentada em seu sofá e tento me acalmar o quanto posso, sei que essa conversa não vai ser fácil.
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Em Cada Batida
RomanceGiovana é uma mulher de 38 anos que desde muito cedo teve que aprender a ser independente e forte. Ela viu seu relacionamento de 12 anos chegar ao fim por uma total incapacidade da parte dela de se contentar com menos do que merecia. Desde os 18 ano...