Capítulo 30

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Touka e Kaneki vêm até à nossa casa depois de saberem o ocorrido. Sentámo-nos na mesa da cozinha com um silêncio voraz. A minha mente fazia-me ver sangue em tudo o que olhasse. E a imagem de Haru passava constantemente na minha memória. Tinha de fazer algo para me distrair desses pensamentos. Resolvi fazer café para todos, pois não conseguia aguentar ficar parada naquele clima.

- Têm ideia de quem poderá ter feito isto..? - perguntou a Touka, a tentar quebrar o silêncio.

- É difícil acusar apenas uma pessoa... O Haru irritou muita gente quando era vivo, e mais de metade conheciam-me porque era eu que o ia buscar depois de o terem espancado quase até... - Uta nem conseguia acabar a sua frase.

- Mas aquele bilhete que deixaram, "não será o último"... Isso deve tirar alguns suspeitos da lista, não? - continua Kaneki, pensativo.

- Ah, o bilhete... Nem sequer tinha pensado nisso. - Uta sacode o cabelo ao tentar focar-se no assunto em questão. - Bem, tendo em conta que a CCG ainda anda de olho em mim e o Haru era da ACC, pode ser que tenha sido o Juuzou ou o esquadrão dele a fazer isto... Mas mesmo assim, não faz sentido. O Haru era informante deles na altura do Macello e ainda há pouco tempo ele teve a misericórdia dos pombos quando cercaram os antigos membros da ACC.

- Pois, estariam a contradizer-se. Mas que mais opções temos? A menos que consigamos fazer sentido disto. - respondeu a Touka.

Dividi o café pelas quatro canecas à minha exposição e trouxe-as para a mesa. Sentei-me ao lado de Uta, apertando a sua mão inquieta de tanto tremer. Ele apertou a minha de volta, largando-a de seguida para acender um cigarro. Custava-me imenso vê-lo assim. É como se tivéssemos voltado à estaca zero na nossa felicidade. Quem tenta praticar o bem, mesmo depois de se ter livrado do mal dentro de si, nunca consegue encontrar paz eterna no seu coração. O passado persegue-nos até à morte, como a sombra que nos acompanha num passeio ensolarado.

- Eu acho que já percebi o porquê de ter acontecido isto ao Haru. - afirmei, agora mais calma. - Juuzou deixou o Haru viver naquele dia porque, em primeiro lugar, ele ainda deu alguma informação sobre o paradeiro do Uta. E em segundo, porque ele antes tinha ajudado o Macello, este que era importante para o Juuzou. Mas, por outro lado, ele ainda procura vingança pela morte do pseudo-pai, então deve querer encontrar o líder da ACC a todos os custos. Isto é apenas a minha intuição, mas eu acho que ele matou o Haru para atrair o Uta. Tal como o Macello fez comigo quando me raptou... 

- Uta, se for mesmo assim... Não podes ceder a um estímulo destes. Ainda nos falta reunir mais informação do esquadrão do Juuzou para conseguirmos estar um passo à frente quando chegar a altura de acertarmos contas com eles. 

- Este raciocínio também explica o bilhete. Provavelmente, o "último" refere-se ao Uta, por ser o único membro que resta da ACC. O Juuzou quer mesmo levar isto da vingança até ao fim... - acrescenta Touka, bebendo impacientemente o seu café.

Todos olhámos para Uta, procurando algum sinal de aprovação nos seus olhos. Mas este estava pensativo, demasiado calmo, sem ânimo no seu rosto. Levou o cigarro à boca uma última vez antes de o apagar no cinzeiro. 

- Acho que vocês têm razão. Eu não me vou voltar a arriscar como da última vez. Para além de ter metido toda a gangue em perigo, até eu quase... - as memórias daquele dia passavam-lhe pelos olhos, inibindo-o de completar o que dizia. Deu um suspiro. - Temos de encontrar o sítio onde eles reúnem e conseguir informações dos planos deles a partir daí. Só depois é que podemos pensar no que fazer com o Juuzou... E fazê-lo pagar pelo Haru. 

- Por falar nisso, onde vamos pôr...o corpo do Haru? - pergunta Kaneki enquanto acaba de tomar o seu café.

- Não se preocupem. Eu sei de um sítio. - responde Uta, pensativo.

Até ao FimOnde histórias criam vida. Descubra agora