Capítulo 40

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Capítulo 40

Kim

Fui visitar meu pai por insistência de minha irmã e por estar cansado das ligações constante da mamãe. Neste ponto, Huma sempre dizia a mesma coisa: — não deixe a culpa fazer parte de sua vida e ter remorso por não ter tentado.

Meu pai não conseguia falar direito. Seus movimentos foram comprometidos, o que necessitava de fisioterapia. Suas funções fisiológicas limitadas, até constrangedoras para um homem que nunca aceitou ajuda e sempre ditava as ordens.

Cheguei ao jardim e o impacto me deixou sem ação. Aquele homem de olhar forte, maxilar quadrado imponente, sempre bem vestido se encontrava em minha frente sentado numa cadeira de rodas. Vestia um pijama listrado de mangas curtas, uma manta estendia no seu colo, provavelmente para cobrir as pernas. Seu rosto estava pálido, cabelos sem corte e alguns fios de barba, que parecia sujar seu rosto magro.

O olhar perdido em algum ponto dava impressão de alguém que refletia a vida. Se ele reparava as plantas ao seu redor, eu não saberia dizer. O que passava em sua cabeça, muito menos. Parecia alheio a tudo ao seu redor, inclusive a minha presença.

Um homem alto vestido de branco se aproximou, tocou em seu ombro e perguntou se ele precisava de alguma coisa. Ele moveu os olhos de um lado a outro, acho que era alguma resposta. Então fui anunciado:

— O senhor tem visita. Quer ir para sala ou continuar aqui fora?

Foi com um movimento lento que seus olhos vieram a mim.

— Boa tarde senhor Kim — falei ao aproximar mais um pouco. Mantendo ainda um distanciamento. Não iria fazer a pergunta idiota se estava tudo bem, porque isso era evidente.

Olhei ao redor pensando o que poderia falar: O dia está bonito. Está calor hoje. Ou falar do jardim bem verde, apesar do tempo seco. Mas nada parecia apropriado. Fiquei quieto. O rapaz trouxe uma cadeira e me ofereceu. Agradeci e sentei.

Silêncio.

Meu pai me olhava. Eu permaneci de cabeça baixa e mexia as mãos sem saber o que fazer. Sustentar seu olhar, sem o encarar de fato, já me parecia muito complicado. Agora abrir a boca e entrar em algum assunto, era totalmente impossível. Falar o quê? De fato, eu não me encontrava preparado para isso.

Na verdade, eu já havia imaginado, feito um roteiro dessa conversa durante muitos anos. E nada se assemelhava àquele cenário.

— É... muito difícil essa situação. O senhor pode achar que é fácil da minha parte estar aqui, mas garanto que não. Preferia escutar seus gritos a te ver nessa posição — terminei de falar um pouco agitado. — Eu sinto muito, de verdade.

Sua mão mexeu. Sua boca abriu e fechou. Um som estranho saiu de sua garganta. O movimento dos lábios mostrava uma paralisia facial, no entanto ele parecia compreender o que eu dizia.

— Sei que minha presença possa te incomodar, mas a mamãe pediu que eu viesse. Se o senhor desejar que eu vá embora é só me dar um sinal... pisque os olhos. Balança a mão. Qualquer coisa que eu possa reconhecer — falei um pouco alterado por vê-lo apenas me encarar. Seus olhos não me dizia nada.

Levante da cadeira. Não me sentia confortável dele estar tão fragilizado. Um monólogo nunca esteve nos meus planos. E isso me causava inquietação. Não era raiva, irritação, mas sim uma indignação ter precisado chegar nesse ponto para que este encontro acontecesse.

— O que passa por sua cabeça, pai? — Encarei de frente os seus olhos pela primeira vez e o chamei de pai, após muitos anos. — O senhor quer me expulsar daqui ou vai me acolher?

Um Coreano Caiu na Minha Vida. Completo.Onde histórias criam vida. Descubra agora