Dúvidas, saudade, e lembranças.

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Algumas lembranças, além de saudade, trazem grandes dúvidas.
Me pergunto onde anda todas aquelas pessoas do meu passado, amigos que hoje são estranhos, estranhos que andei observando quando ia no caminho da escola, que nem cheguei a conversar, que nem sei o nome, mas de alguma maneira ficou nas minhas lembraças. Uma saudade imensa me sufoca, por onde andam? Será que ainda lembram de mim? Será que sentem minha falta? Aos meus vizinhos que me viam todos dias, sempre querendo saber por onde ando, será que devem imaginar o estado que me encontro?
Não é o que eles pensam de mim que me pertuba, é as memórias. Lembro de dias comuns, daquelas noites gostosas na calçada com amigos e família, das tardes quentes com um sol batendo no meu rosto, enquanto eu fazia minha caminhada com mamãe. E já faz tanto tempo que não vejo mais a luz do sol. Daquelas manhãs, ó aquelas manhãs são tortura na minha memória.

Lembro quando eu acordava cedinho, tomava um café quentinho, me despedia da mamãe, pegava minhas coisas e ia pra escola, manhã ensolarada, uma brisa gostosa, o caminho era longo, mas eu não me importava, eu amava caminhar, e o que eu amava mesmo era ver aquele menino, chego a sentir agonia só de lembrar, agonia de saudade.
Eu o via todos os dias, eu fui notada primeiro, um dia percebi que ele sempre me observava passando, percebi sendo percebida, e logo passei a nota-lo também. Um moreno, um pouco mais alto que eu, com a roupa do trabalho que o deixava tão atraente, me pergunto se minha calça jeans e a blusa da escola também causava o mesmo efeito nele, há dias que nos encontravamos pelo caminho, outros eu já o encontrava no seu trabalho, que por sorte era em frente a minha escola. Nos observamos todos os dias, mas nunca tivemos coragem de nos falar, nem um bom dia nunca saiu de nossas bocas, foi um erro, hoje é saudade.

Hoje, lembrando desses dias me vem angústia, cadê aquele cafezinho que não chego mais a lembrar do gosto? Cadê mamãe? Tiraram você de mim tão cedo. Cadê o sol? Como está minha rua? E cadê aquele menino? Por onde anda?

O que a vida fez comigo? Por que me tiraram tudo? Como pude me deixar chegar a esse ponto? Muitas perguntas sem respostas, muitos socorros não ouvidos, muita dor não falada, foi o que me permitiu chegar onde estou hoje.
Esse vazio me pegou em cheio, nada vai ser como antes...

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