capítulo 6

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Selene

Três meses depois:

Eu simplesmente amo velaris, é a cidade mais linda que vi em toda minha vida. 

No momento estou andando pelas belas ruas iluminadas pelo sol da manhã, pois preciso repor meu estoque de ingredientes para as poções e remédios que passei a produzir para a curandeira Madja desde que ela me contratou para trabalhar com ela.

Quase dei pulos de felicidade quando a um mês atrás esbarrei com ela que me reconheceu imediatamente de quando me curou quando cheguei a corte e perguntou como eu estava, quando disse que estava a procura de emprego ela perguntou se eu sabia realizar feitiços e Poções de cura que por sorte são os que eu mais gosto de fazer. Desde então á auxílio em consultas domiciliares e também em sua pequena clínica.

Vejo uma barraca com várias plantas e temperos e me aproximo.

"Bom dia! Como está Nayla?"
Pergunto a simpática senhora de  pequenos cabelos loiros que se tornou minha amiga desde a primeira vez que nos vimos.

"Bom dia querida! Estou ótima, como sempre."
me responde ela com um sorriso contagiante no rosto.

"Ohh!! Antes que eu me esqueça, as raízes que você encomendou chegaram ontem."
Diz ela se virando e indo até uma caixa apoiada em uma mesa na parte de trás da barraca.

"Que bom, vim hoje ver se já haviam chegado. As que tinha em casa acabaram ontem."
Ela me entrega a pequena caixa que coloco na cesta que carrego.

"Só veio por causa dessas raízes Selene?!"
Pergunta ela em tom de repreensão, mas vejo humor em seus olhos.

"Claro que não! Vim para ver você também Nayla, como faço toda semana." Admito com um sorriso.

"Estou esperando a visita que me prometeu da última vez que veio. Quero que vá tomar chá comigo em minha casa, querida, e prometo que preparo deliciosos biscoitos para nós!"
O convite faz surgir um aperto no meu peito, pois por todas as cidades e aldeias que morei durante os últimos anos nunca me aproximei tanto das pessoas como estou fazendo aqui. Mas permito-me aproximar porque não preciso mais fugir.

"Prometo que no fim de semana vou visitar você assim que terminar meu trabalho, tudo bem?"
Sugiro a ela que concorda alegremente.

Sigo de volta até o pequeno apartamento que moro graças a ajuda que recebi dos grão-senhores. Não é um lugar muito grande mas é perfeito para mim, fica no último andar de um prédio de quatro andares em uma rua larga a três quarteirões do rio Sidra.

Estou passando pelo jardim que fica em frente ao prédio quando vejo Davinna, a esguia grã-feerica dona do prédio descendo as escadas.

"Olá selene. Bom dia!"
Cumprimenta ela com a voz aveludada. Percebo de imediato seu elegante chapéu servindo de adorno em sua cabeça.

"Bom dia Davinna. Lindo chapéu o seu!"
Respondo de forma educada.

"Oh, obrigada!"
Agradeçe com um sorriso

"Chegou uma carta para você hoje bem cedo, como não estava em casa coloquei em baixo de sua porta. Tudo bem?" Avisa ela já passando por mim.

"Sim tudo bem. Obrigada!"
Respondo enquanto ela sai apressada em direção a rua.

Subo as escadas até meu apartamento, abro a porta vendo a carta posta aqui por Davinna. Entro na pequena sala composta por um sofá de três lugares encostado na parede das janelas e uma mesinha de centro  adjacentes a porta, a minha direita fica uma pequena mesa de quatro cadeiras perto do balcão que da vista para a cozinha em conceito aberto, a minha esquerda encostado a parede da porta fica uma estante seguida de uma escada em espiral que dá para o andar de cima onde fica meu quarto, e do outro lado das escadas perto do sofá há uma porta para um pequeno banheiro.

Fecho a porta pegando a carta do chão vendo ser de Madja me avisando para sair de casa mais cedo no dia seguinte pois uma consulta foi agendada de última hora pela manhã.

Guardo as raízes que busquei mais cedo na estante da sala e sigo para a escada indo até o andar de cima.

Meu quarto é grande com amplas janelas que estão abertas fazendo as finas cortinas balançarem com a leve brisa que entra. Minha cama, alias a maior e mais confortável que já tive fica no centro, na parede a esquerda da cama fica um armário grande que guarda somente as poucas roupas que consegui comprar até agora, na parede a direita da cama fica uma porta de vidro que abre caminho para uma pequena sacada e também a direita da cama há uma porta que dá caminho para um banheiro.

Sigo em direção a pequena sacada abrindo as portas de vidro vendo meus pequenos vasos com as plantas mais comuns que uso em poções medicinais, como alecrim, canela, eucalipto, camomila, alcaçuz e hortelã. Colho alguns punhados e sigo de volta ao andar de baixo, quando estou no meio da escada escuto alguém bater na porta da frente.

Deixo as plantas em cima da mesa e abro a porta vendo Nolan, meu vizinho do terceiro andar e também o macho mais insistente que já conheci, parado no corredor. Ele está vestido com uma blusa de mangas compridas verde escuro e calças pretas, botas igualmente pretas e o curto cabelo loiro está meio bagunçado como se tivesse passado os dedos neles várias vezes seguidas.

"Olá Nolan"
Comprimento ele com minhas sobrancelhas levemente franzidas pela sua visita inesperada.
"Oi! É.... Eu posso entrar?" Pergunta ele parecendo sem jeito.
"Ah, claro entre."
Abro mais a porta para que entre pois não quero ser mal educada, apesar de já ter sido algumas vezes com ele.

"Bom, é... Eu vim te fazer um convite. E como das outras vezes que vim não aceito não como resposta!"
Diz ele sorrindo com a voz cheia de humor em pé no meio da sala enquanto fecho a porta, mas deixando-a destrancada.
Respiro fundo fechando os olhos e me viro ficando de frente para ele.

"E que convite seria esse?"
Tento não parecer incomodada com o quinto convite que ele vem me fazer essa semana, e sim eu contei e esse é o QUINTO convite só essa semana. Desde que me mudei para o prédio ele insiste que quer me levar para conhecer a cidade mas sei que suas intenções não são somente ser meu amigo, então nego todas. Eu até poderia dar a ele uma chance, gosto do seu humor e ele é bastante bonito com seus profundos olhos verdes, mas não consigo, por agora ainda é muito cedo para relacionamentos amorosos.

"Como você me disse que não gosta de lugares cheios e  barulhentos, eu pensei que talvez você gostaria de jantar comigo. O que acha?!"
Propõe ele com a voz esperançosa.

"É... Na sua casa!!?"
Fico um pouco surpresa com o convite.

"Oh! Não, não"
responde ele balançando as mãos em negação
"Eu reservei uma mesa em um belo restaurante perto do rio, lá é bem calmo e tenho certeza de que você irá gostar"

"Você já reservou? Não deveria fazer isso depois de falar comigo?" Pergunto com as sobrancelhas erguidas

"Sim, eu deveria. Mas o restaurante é bem popular e é difícil fazer uma reserva, então quando fui lá ontem e tinha uma mesa desocupada para o próximo fim de semana não quis perder a oportunidade e reservei."
Explica ele, mas sei que sua intenção em reservar o restaurante sem antes falar comigo é me fazer não ter escolha a não ser aceitar seu convite.

Abro a boca e fecho de novo, olho para os lados procurando alguma desculpa para recusar mais não encontro nada.

"Vamos lá Selene! Eu sei que você não tem nenhum motivo para recusar meu convite"
Argumenta com a voz mansa dando um passo para frente.

"Eu não costumo sair a noite sabe. É..."

"Selene... "
Chama ele me interrompendo.

"Só vamos jantar como amigos  Não vou te forçar a nada."
Dessa fez ele toma uma expressão séria e parece realmente sincero.

"Eu vou pensar ok?"
Digo com a voz calma e torcendo para que ele não insista.

"Tudo bem. Quando decidir me avise, mas não demore"
Ele se despede e sai andando pelo corredor.

Fecho a porta trancando-a e encosto a testa na madeira escura fechando os olhos respirando fundo pensando no verdadeiro motivo que me faz recusar os convites de Nolan.
O mestre-espião da corte noturna não sai de meus pensamentos desde que encarei aqueles pelos olhos cor de caramelo pela primeira vez a três meses atrás. Não sei porque ainda penso nele, mas sei que preciso parar.

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