capítulo 2

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Selene

Silêncio... Este lugar está muito silêncioso ultimamente e parece que a cada dia fica mais frio dentro dessa cela imunda onde passou a ser minha casa durante o último ano inteiro, isso se minhas contas estiverem certas e se passou realmente um ano.

O silêncio permanece somente nos calabouços, pois através das minúsculas janelas, onde uma pouca quantidade de luz do sol entra, consigo ouvir o alvoroço no pátio principal do castelo da falecida rainha Bryallyn.

Se passou quase um mês desde que ouvi dois guardas falando sobre a morte da rainha, e se isso realmente for verdade não sei o porque de me manterem aqui viva e muito menos sei quem comanda o castelo e os soldados. Talvez as outras rainhas humanas tomem isso para elas, mas não sei e nem me importa.

Agora é de manhã e estou esperando o mesmo guarda de sempre trazer minha refeição, coisa que o mesmo faz duas vezes ao dia.

Esta noite, como várias outras, passei em claro olhando as poucas estrelas que a abertura das pequenas janelas me permitem olhar, me perguntando se esse será realmente meu fim, se um dia simplesmente vão parar de me trazer comida e morrerei em uma cela em um território estranho.

Quando o guarda chega faz o mesmo de todos os dias: me olha com desdém, abre a porta da cela, põe no chão uma tigela com comida e um balde com água, ambos batizados com uma dose de faebane que é o bastante para me impedir de usar minha magia sem me matar pelo excesso que consumo diariamente.

Me sinto fraca de um jeito que nunca me senti antes, mas preciso comer porque é aquilo ou nada. Então me levando da cama fria encostada a parede úmida e bebo a água aparentemente limpa, mas com um gosto estranho de faebane, não consigo comer, meu estômago embrulha só de olhar para a tigela ao lado da água, então consumo somente o líquido com gosto estranho e talvez a tarde eu consiga comer algo que me trouxerem.

Ando devagar até as grades da cela quando escuto passos vindos da escada. Três guardas que nunca vi antes aparecem carregando um humano desacordado que levam até uma cela que fica a esquerda da minha.
Um deles me olha e sorri para depois analisar os trapos do vestido branco que uso e me olhar com nojo, então os três vão embora deixando o humano trancado.

É a primeira pessoa que vejo aqui embaixo a semanas, de modo que me faz andar cada vez mais em sua direção tentando vê-lo melhor, quando chego às grades da porta da minha cela me assusto ao percebe-la destrancada. Afinal como é possível isto estar aberto, arregalo os olhos empurrando a porta abrindo-a e penso nas possibilidades que tenho: estou fraca e lá em cima tem soldados para todos os lados, no entanto a saída dos calabouços acaba em um corredor que vai até o pátio principal onde ficam os portões do castelo, se eu for rápida o bastante e conseguir não ser percebida tenho chances de sair daqui.

Sem pensar muito saio em direção as escadas e quando chego ao corredor no andar de cima o encontro vazio, corro por ele com os pés descalços fazendo o mínimo de barulho possível e avisto o pátio principal, há poucos soldados andando por ele e outros descarregando caixas de uma carroça grande com os portões atrás totalmente abertos.

Sorri agradecendo silenciosamente a mãe por essa oportunidade de conseguir voltar para as terras feéricas mesmo que não tenha ninguém a minha espera lá.

Ando silenciosamente perto das paredes em direção aos portões me mantendo nas sombras, quando chego perto o bastante espero o soldado mais próximo se afastar carregando uma caixa retirada da carroça e corro o mais rápido que meus pés aguentam para fora do castelo em direção a floresta verde a frente.

"A BRUXA FUGIU!!!" Ouço a voz de um dos guardas atrás de mim e o pânico começa a me atingir. Não posso voltar para aquela cela, não vou aguentar voltar para lá.
Então corro o mais rápido que consigo ouvindo os passos apressados dos soldados atrás de mim.

Estou ofegante e com o corpo já cansado quando esbarro em uma árvore de tronco grosso e tropeço em sua raiz, ouço os passos se aproximando junto com os gritos dos soldados.

"ELA ESTA ALI!!!" Grita um deles mostrando a direção para os demais. Me levanto e a menos de três passos que dou sinto algo acertar minha coxa direita, olho e vejo uma flecha atravessando minha perna e a dor me torna mais lenta conforme tento continuar correndo suplicando silenciosamente a mãe ou a qualquer um que me ouça para que me ajude.

Corro por mais alguns metros antes de olhar para trás vendo agora dois soldados montados em belos cavalos vindo em minha direção, isso me distrai e não vejo a ribanceira que desce a minha frente e caiu rolando o caminho abaixo.

No momento que finalmente paro de cair bato a cabeça em uma pedra. Estou com a visão turva e perdendo de vez as esperanças de que vou ser livre novamente quando sinto o chão tremer a uns três metros de onde estou, viro a cabeça e pelo meu campo de visão vejo botas pretas de couro, corro os olhos lentamente para cima vendo a bela armadura de couro igualmente preta, vejo grandes asas negras, mas não consigo ver o rosto pois quando olho para sua face minha visão escurece completamente.

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